Ao estudar a evolução dos apartamentos de 1910 até 2010 – e analisando também os anos mais recentes, inclusive com a chegada da pandemia, a arquiteta e urbanista Simone Barbosa Villa chegou à conclusão de que a redução da área dos apartamentos acabou comprometendo a funcionalidade e a flexibilidade dos espaços.
Uma característica que apareceu no início do século e que se mantém até agora é a tripartição – a divisão dos apartamentos em três áreas principais: social, íntima e de serviço. Este formato atendeu muito bem às demandas do passado, das famílias tradicionais – e atende a uma parcela da população até hoje. Mas parte da sociedade vive agora de um modo diferente e já não atende o modelo tripartido.
“A redução dos apartamentos e a manutenção da tripartição compromete a circulação e a própria ocupação mais ergonômica e funcional dos espaços”, explica Simone Villa.
A pandemia veio explicitar ainda mais esta situação. “Ao passar mais tempo no ambiente doméstico e trazer para casa atividades que eram feitas nos ambientes públicos, as famílias começaram a perceber que os espaços não atendiam tão bem às suas necessidades”.
A evolução de apartamentos descrita no livro
No livro Morar em Apartamento, Simone Barbosa Villa faz uma relação entre os espaços de habitação e a evolução dos modos de vida da sociedade, especialmente entre os séculos 20 e 21. Diz a autora:
O livro é um retrato analítico da evolução da habitação a partir de alguns exemplos. Foram escolhidos alguns apartamentos emblemáticos na cidade de São Paulo. A intenção foi discutir e apresentar ideias, com foco na análise das unidades, na produção dessas unidades.
Consideramos também suas diferentes tipologias e avaliamos as possibilidades de agenciamento espaciais em função das solicitações emergentes ou das questões dos novos modos de vida. Analisamos como algumas transformações vão sendo atendidas ou não nesse percurso.
Simone B. Villa
A análise das plantas dos apartamentos levou ao modelo de tripartição, que se estabeleceu no Brasil e continua sendo referência até os dias atuais.
“Percebemos, entretanto, que a sociedade mudou bastante, tanto nas questões materiais quanto construtivas. As tecnologias também mudaram, avançaram. E o modelo tripartido permaneceu como referência dos nossos espaços de morar”.
A moradia do futuro
“Acredito que o espaço da habitação tem que corresponder aos anseios da sociedade, às mudanças da tecnologia, às transformações culturais e comportamentais”, afirma Villa.
Hoje é preciso que os espaços sejam mais flexíveis. “Para acompanhar a evolução do modo de viver, fruto da inserção de novas tecnologias, novos hábitos, redução da família e novos formatos familiares, será preciso que os espaços tenham respostas mais atentas que possam ser mais adequadas a esses novos modos de vida e a como as pessoas querem morar”.
Para a autora de Morar em Apartamento, a moradia do futuro deve estar intimamente conectada às mudanças sociais e culturais envolvendo o ambiente em que está inserida. Não é mais possível pensar em um formato único de apartamento para ser construído em qualquer lugar do Brasil, por exemplo.
Escritórios de arquitetura, incorporadoras, construtoras e todos os agentes do mercado imobiliário têm que estar mais atentos a isso. É preciso investir mais em avaliações pós-ocupação, fazer levantamentos do que as pessoas precisam, compreender as demandas mais assertivas.
Simone B. Villa
Além disso, pensando num mundo sustentável, é preciso otimizar recursos. E isso exige a construção de modelos de moradia que perdurem, que acompanhem as transformações da população.
“Os espaços mais flexíveis e integrados terão cada vez mais relevância. Esse é o grande desafio. Buscar soluções sustentáveis, adequadas ao nosso tempo e que sejam economicamente viáveis. Precisamos avançar nessa discussão”.
Confira abaixo a entrevista com a autora.
Saiba mais sobre residir em apartamentos
Conforme o resumo do livro, morar em apartamentos tem sido uma escolha frequente para os habitantes das metrópoles brasileiras. Entre os motivos dessa decisão, os mais frequentes apontam para a segurança, a localização, a praticidade e a concentração de serviços que aparecem associados a essa modalidade habitacional. Entretanto, poucos têm sido os estudos sobre a evolução de seus espaços internos.
Esta obra pretende fornecer dados inéditos, oferecendo novos elementos ao discurso arquitetônico e relacionando esses espaços de habitação à evolução dos modos de vida da sociedade, principalmente ao longo do século XX.
Serão apresentados princípios de organização do espaço doméstico de edifícios de apartamentos produzidos pelo mercado imobiliário na cidade de São Paulo durante cem anos, desde a década de 1910 até 2010.
Será feito um retrato analítico da evolução dessa modalidade habitacional de forma ilustrada, através da intersecção de conteúdos sobre modos de morar, transformações da sociedade e o desenvolvimento da arquitetura e das cidades.
Confira a degustação da obra clicando aqui.
Capa do livro “Morar em apartamento”, publicação da Editora Oficina de Textos
Sobre a autora Simone Barbosa Villa

Arquiteta e urbanista, Simone Barbosa Villa atuou no mercado imobiliário até 2009. É professora da Universidade Federal de Uberlândia e criadora do [MORA] Pesquisa em habitação, um grupo de estudos formado por estudantes e acadêmicos das áreas de Arquitetura e Urbanismo, Design, Geografia e Ciência da Computação. O grupo tem o objetivo de realizar pesquisas que contribuam para a melhoria da habitação.