Os deslizamentos de terra estão entre os desastres naturais mais recorrentes no Brasil, causando perdas humanas, ambientais e econômicas. Esses movimentos de massa são frequentemente desencadeados por fatores específicos, como chuvas intensas e intervenções humanas, cujas consequências são amplificadas em áreas ocupadas.
Na obra Encostas: evolução, equilíbrio e condições de ocupação, em sua segunda edição publicada pela Oficina de Textos, o geólogo José Antonio Urroz Lopes apresenta uma análise aprofundada sobre a relevância dos registros históricos de deslizamentos, destacando como eles oferecem informações cruciais para compreender os padrões e impactos desses fenômenos, sendo ferramentas valiosas para compreender os movimentos de massa e seus impactos.
A importância dos registros históricos de deslizamentos do Brasil
Lopes apresenta em sua obra como os registros históricos de deslizamentos são ferramentas essenciais para entender a dinâmica dos movimentos de massa. Esses registros permitem identificar padrões, como a maior suscetibilidade de áreas afetadas por eventos anteriores, e compreender a relação entre condições climáticas, características geológicas e intervenções humanas.
O geólogo também destaca que muitas vezes os registros históricos refletem apenas os eventos que causaram impactos mais significativos, especialmente em áreas urbanizadas, deixando menos documentados aqueles que ocorreram em regiões desabitadas. Essa abordagem contribui para um entendimento mais amplo dos fatores que influenciam a recorrência dos deslizamentos.
Grandes eventos de deslizamentos no Brasil
A obra reúne exemplos históricos detalhados que evidenciam a magnitude dos deslizamentos no Brasil. Entre os eventos destacados estão:
- 1928 e 1956, Monte Serrat (SP): grandes chuvas desencadearam deslizamentos que impactaram severamente a Baixada Santista;

Deslizamento em Monte Serrat (Foto: Reprodução/Poliantéia Santista, 1996, Ed. Caudex, S. Vicente/SP/Jornal eletrônico Novo Milênio)
- 1966 e 1967, Serra das Araras (RJ): chuvas intensas consecutivas provocaram deslizamentos que destruíram rodovias e resultaram em perdas humanas significativas;

Estrada quebrada após o deslizamento em Serra das Araras (Foto: Reprodução/)José Vasco/O Globo/Extra)
- 1995, Salvador (BA): um deslizamento no bairro Vila Canário destruiu dezenas de residências e causou 30 mortes;
- 2000, Campos do Jordão (SP): chuvas acumuladas de 476,5 mm em cinco dias provocaram deslizamentos que destruíram mais de 60 casas e deixaram 10 vítimas fatais.
Esses eventos evidenciam como as condições climáticas extremas e as intervenções humanas contribuem para a ocorrência de deslizamentos de grande impacto. O autor teve o cuidado de tratar sobre eventos que não foram tão cobertos pela mídia, sendo desconhecidos para a maior parte do público, devido à sua relevância para o estudo desses desastres.
Padrões e tendências revelados pelos registros
O autor destaca que os registros históricos permitem observar padrões importantes, como:
- Recorrência em áreas específicas: regiões como a Serra do Mar e Salvador aparecem frequentemente nos relatos devido às suas características topográficas e climáticas;
- Conexão com chuvas sazonais: a maioria dos eventos ocorre durante o verão, quando chuvas intensas são mais comuns;
- Aumento dos impactos em áreas urbanas: o crescimento desordenado das cidades tem agravado a frequência e a severidade dos deslizamentos em áreas habitadas.
Esses padrões ajudam a compreender como as dinâmicas naturais e humanas se inter-relacionam nos movimentos de massa.
O valor dos registros para a gestão de riscos
Os registros históricos não apenas servem como descrições de eventos passados, mas contribuem para identificar zonas vulneráveis e padrões que ajudam a antecipar riscos futuros. Também permitem correlacionar os gatilhos dos deslizamentos, como chuvas intensas, com intervenções humanas, como cortes em encostas.
Além disso, a análise detalhada dos eventos registrados ao longo do tempo é essencial para orientar ações de gestão territorial e conscientizar comunidades sobre os riscos em áreas propensas a deslizamentos. Essa documentação é uma base valiosa para tomadas de decisão e para o planejamento de ocupações mais seguras.
Livro apresenta visão única sobre o tema, integrando a geomorfologia e geotecnia
O livro Encostas: evolução, equilíbrio e condições de ocupação apresenta uma abordagem única ao unir geomorfologia e geotecnia para oferecer uma visão integrada sobre os movimentos de massa e a gestão de encostas. Essa conexão entre duas áreas do conhecimento proporciona uma compreensão aprofundada dos fatores que desencadeiam deslizamentos, como chuvas intensas e intervenções humanas, e de como eles interagem para amplificar os riscos.
Além de explorar eventos históricos e padrões regionais, a obra destaca o valor dos registros históricos como ferramentas fundamentais para identificar áreas vulneráveis e embasar decisões futuras. Essa visão integrada é um diferencial para quem busca entender o tema das encostas de maneira completa e prática, conectando teoria e aplicação.
Recém-lançado em sua 2ª edição, Encostas é uma oportunidade única para profissionais, estudantes e gestores que desejam ampliar seus conhecimentos e contribuir para soluções mais seguras e eficazes na gestão de áreas suscetíveis a movimentos de massa.
Confira o sumário da obra aqui.
Capa do livro “Encostas: evolução, equilíbrio e condições de ocupação – 2ª ed.”, publicação da Editora Oficina de Textos