Processamento de imagens de satélite precisa de mais obras

O especialista e Professor Daniel Capella Zanotta, autor do livro “Processamento de imagens de satélite”, comenta sobre a demanda para superar a lacuna bibliográfica do processamento das imagens encaminhadas por satélites.

Os avanços tecnológicos na área de processamento de imagens de satélite têm facilitado o trabalho dos técnicos que atuam nesse campo. Apesar do cenário positivo, ainda é grande a lacuna de cursos e de bibliografia em português que sirvam de apoio aos novos profissionais.

Há escassez de literatura e de cursos de especialização na área, ressalta Daniel C. Zanotta, professor no curso de Geoprocessamento do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS). Isso se deve, segundo ele, à rapidez com que as tecnologias ficam obsoletas.

Zanotta é um dos autores do livro Processamento de imagens de satélite, publicado pela editora Oficina de Textos. O especialista afirma que o livro pretende ocupar a lacuna bibliográfica sobre o tema no país.

“Quando esse livro foi lançado, havia praticamente 20 anos que não havia publicação de livros atualizados sobre processamento de imagens. É um tema que fica defasado rapidamente”, justifica.

Essa é, no entanto, uma realidade bem brasileira. Internacionalmente, acontece o inverso. “Esse tipo de bibliografia já vinha se popularizando, com materiais cada mais atualizados, e a gente não estava acompanhando”, conta o autor.

A boa notícia é que os avanços na área estão acontecendo. O cenário brasileiro de pesquisas na área era muito mais tímido no passado, diz o professor. Ele considera que o crescimento no campo de pesquisa de processamento de imagens por satélite começou a partir da década de 1960, quando foi fundado o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

“Muitos pesquisadores saíram do Brasil para estudar em outros países durante a década de 1950”, lembra. “Quando o INPE foi fundado, os professores já tinham experiência internacional e trouxeram na bagagem muito conhecimento, que tem sido disseminado e deixado o país num patamar bem interessante de especialização”.

“Hoje já temos cursos voltados para essa área do sensoriamento remoto no Brasil, como os cursos de pós-graduação em Porto Alegre (RS), e outro em São José dos Campos (SP)”, ressalta o autor.

Domínio das ferramentas é imprescindível

Tanto quanto os satélites de captura de imagens em altíssima resolução, os softwares que processam esses dados têm sido aprimorados cada vez mais. Tal avanço reflete também na redução de custos para os contratantes desses relatórios, como as prefeituras e outros órgãos públicos, por exemplo.

O pesquisador explica que esses dados, que hoje são relativamente baratos, têm utilidade muito grande para os gestores municipais, porque com eles é possível avaliar o ambiente, calcular as áreas dos lotes residenciais para uma cobrança atualizada e justa dos impostos de habitação, e principalmente fazer um planejamento da cidade acompanhando suas transformações – ou seja, para onde está havendo expansão, que regiões são mais ou menos populadas etc.

Os benefícios são inúmeros também para órgãos públicos e não-governamentais voltados à preservação do meio-ambiente. “Esses dados são massivamente utilizados para o acompanhamento de cultivo agrícola, por exemplo, para o monitoramento de desmatamentos, de queimadas, e até para a previsão do tempo, com satélites meteorológicos”, afirma.

Compreensão dos dados de processamento de imagens de satélite

É imprescindível, no entanto, que o profissional saiba muito bem interpretar os dados coletados. “Não basta apenas trabalhar com as ferramentas disponíveis, que são muitas e cada vez mais amigáveis. O principal desafio é entender aquilo que o resultado está mostrando e porque uma ferramenta deve ser aplicada e não outra”, afirma o professor.

É responsabilidade do analista apresentar esses resultados e, ao mesmo tempo, interpretar. “O profissional não pode ser pego de surpresa ou escrever alguma coisa que não faz sentido porque não entendeu um dado”, diz.

“No livro Processamento de imagens de satélite existe essa preocupação, de dar esse suporte para que o usuário das imagens seja capaz de discutir, de entender e de escolher a ferramenta mais adequada para o trabalho”, destaca o autor.

Confira a degustação do livro clicando aqui.

Capa do livro "Processamento de imagens de satélite", lançado em 2019 pela Editora Oficina de Textos

Capa do livro “Processamento de imagens de satélite”, publicação da Editora Oficina de Textos


Entrevista concedida em 2022