Dessalinização é medida complementar ao abastecimento hídrico, diz especialista

Ana Paula Pereira da Silveira, doutora em energia pela Universidade Federal do ABC, é uma das autoras do primeiro livro em língua portuguesa publicado sobre o assunto.

A dessalinização não é uma solução milagrosa para a crise hídrica, sustenta Ana Paula Pereira da Silveira, doutora em energia pela Universidade Federal do e professora convidada do Centro Universitário Senac.

O processo de dessalinização, que consiste no tratamento de águas salgadas, vindas do mar ou do subterrâneo, para consumo humano, já é realidade em vários países, inclusive no Brasil.  

“Mas a dessalinização sozinha não vai resolver todos os problemas de escassez hídrica no país”, alerta a pesquisadora. “Esse processo é um componente importante de um conjunto de fontes múltiplas de abastecimento de água”. Especialista em saneamento ambiental, Ana Paula é uma das autoras do livro Dessalinização de águas, publicado pela editoria Oficina de Textos.

A obra, considerada a primeira em língua portuguesa a tratar sobre o assunto, é um dos resultados obtidos de uma pesquisa desenvolvida pelo grupo de Ana Paula na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC-SP), iniciada em 2011.

A pesquisa procurou desenvolver uma solução de dessalinização de baixo custo para ser operado em comunidades isoladas do Brasil, e nasceu depois que os autores notaram que havia grande carência de conteúdos em língua portuguesa sobre os conceitos e processos de dessalinização de águas.

O grupo decidiu, então, compilar e traduzir os materiais mais relevantes sobre o tema, além de reunir os resultados de suas pesquisas até então, e disponibilizá-los em português.

“Entendemos que todo o aprendizado que conquistamos durante esses anos de estudo já era, por si, um produto muito importante que poderíamos entregar à sociedade”, diz a professora.

Estudos em andamento

Ana Paula explica que o objetivo da pesquisa, que continua em andamento na FATEC-SP, é produzir é um dessalinizador de baixo custo e de baixa complexidade técnica, suficiente para suprir as necessidades hídricas das comunidades brasileiras que enfrentam problemas de escassez hídrica.

A dessalinização pode ser feita por dois processos. Um deles é a separação por membranas, similar a um processo de filtração. Já o outro é a destilação térmica, uma técnica que conta com uma fonte de calor para o processo de destilação.

“Apostamos na destilação térmica com uso de vácuo para baixar o ponto de ebulição da água e conseguir fazer esse processo de destilação numa temperatura menor que 100 °C”, conta Ana Paula. “Com isso, queremos que essas comunidades possam utilizar a própria energia solar como fonte de calor desse processo destilação”.

Na FATEC-SP, a pesquisa começou em um laboratório da instituição com um sistema rudimentar de aquecimento com a manta térmica de laboratório, conta Ana Paula.

“Começamos a fazer uma transição desse modelo para um outro similar, que tivesse um mesmo resultado de um aporte de aquecimento solar”, diz. “A manta de aquecimento foi trocada por um sistema de lâmpadas de infravermelho e, a partir daí, o grupo começou a coletar resultados mais interessantes”.

O próximo passo é instalar nas dependências da Faculdade um sistema de aquecimento solar que servirá para experimentar tanto a destilação usando a energia solar como o uso do vácuo para baixar o ponto de ebulição da água salgada.

“Tivemos alguns contratempos com a pandemia que acabaram atrasando um pouco o avanço no trabalho, mas o grupo já está se reestruturando para dar continuidade aos estudos”, garante a pesquisadora.

Dessalinização não é solução “milagrosa

O processo de dessalinização é mais comumente difundido em regiões que sofrem com escassez hídrica, como países do Oriente Médio, a região da Califórnia (EUA) e em alguns países do continente africano, por exemplo. Entretanto, a pesquisadora não acredita nesse processo como a principal solução para o problema da falta desse recurso.

O que eu acredito de futuro para o tratamento de água é o uso de fontes diversas de abastecimento – e a dessalinização seria uma dessas fontes, que poderia ser usada em larga escala.

“Entendo que, para isso, precisamos de uma atuação sistêmica do poder público e da comunidade científica para traçarmos um planejamento de longo prazo, olhando para o crescimento populacional e para qualidade da água disponível”, diz. “Esse trabalho conjunto vai possibilitar que o país desenvolva técnicas e soluções que não só corrijam situações de escassez, mas que possam evitar o agravamento do problema”.

Confira a entrevista com a autora.

Entrevista com Ana Paula Pereira da Silveira sobre dessalinização das águas, concedida em 2022 (Reprodução: Vídeo/YouTube/@ofitexto)

Saiba mais sobre dessalinização de águas

A dessalinização têm se mostrado um método cada vez mais viável em termos técnicos e econômicos no combate à escassez de água para o abastecimento da população, de indústrias e para uso agropecuário. Em regiões isoladas e sem água doce como ilhas, chega a ser a única solução para obtenção de água doce, possibilitando, dessa maneira, a própria vida na ilha.

Dessalinização de águas apresenta os diferentes processos de destilação, os materiais e tecnologias utilizados, e explica detalhadamente o processo de obtenção de água, desde os conceitos químicos e o pré-tratamento da água bruta até as considerações ambientais, a microbiologia sanitária e o pós-tratamento da água produzida.

Confira a degustação da obra clicando aqui.

Capa do livro "Dessalinização de águas", publicado em 2015 pela Editora Oficina de Textos

Capa do livro “Dessalinização de águas”, publicação da Editora Oficina de Textos