Uma das maiores crises climáticas e sociais do mundo contemporâneo é a escassez de água. É cada vez mais comum vermos regiões antes consideradas seguras, agora enfrentando períodos prolongados de seca. Além de comprometer o abastecimento humano, a escassez hídrica é um mal para a produção agrícola, além da saúde dos ecossistemas.
Por exemplo, no caso do Brasil, conforme o prefácio da edição brasileira da obra Em busca da água: um guia para passar da escassez à sustentabilidade, do líder global em ciência e conservação hídrica, Brian Richter, o País está em busca de água, e São Paulo, sua maior capital, está ficando sem água.
A cidade vem passando por inúmeras crises hídricas, como ocorreu também no Rio de Janeiro, com os jornais mostrando residentes que por vezes enchem baldes e baldes de água quando chove, por receio de não haver água sequer para beber. Segundo Ritcher, não se esperava que o que acontece às florestas do centro da África poderia mudar a oferta de água numa cidade localizada a um oceano de distância.
No entanto, fora a seca, outro problema relacionado à crise hídrica é o que se é exigido da chuva. Usa-se água em abundância, sem se preocupar com sua conservação, esperando que as próximas chuvas “reestabeleçam” o que gastamos; e não é assim que funciona.
Brian Ritcher, que também é consultor das Nações Unidas, analisa no capítulo 3.6 de Em busca da água a complexa dinâmica dessa crise, apontando exemplos de impacto e soluções práticas para evitar o colapso hídrico.
Por que a água está acabando?
A crise hídrica global é resultado de múltiplos fatores interligados:
- 1. Crescimento populacional e consumo elevado
Desde o início do século XX, o uso global de água cresceu seis vezes, principalmente devido à expansão da agricultura irrigada, conforme destaca Richter. Esse aumento exponencial da demanda supera a capacidade de reposição natural de muitos recursos hídricos.
- 2. Mudanças climáticas e padrões irregulares de precipitação
Alterações no clima estão intensificando períodos de seca e alterando regimes de chuva, impactando rios e aquíferos no mundo inteiro. No Rio Colorado, nos EUA, projeções indicam até 30% menos precipitação nas próximas décadas, agravando ainda mais a insegurança hídrica.
- 3. Manejo inadequado dos recursos hídricos
Muitos sistemas hídricos são explorados de forma insustentável. Um exemplo apresentado na obra Em busca da água é o pacto interestadual sobre o uso do Rio Colorado, que foi baseado em dados superestimados de vazão, levando a um uso excessivo e ao colapso gradual do rio, que já não alcança mais o mar em anos secos.
Impactos da escassez de água em escala global
Prejuízos econômicos e sociais
A escassez de água reduz a produtividade agrícola e industrial, afetando economias locais e globais. No Texas, a seca de 2011 gerou perdas estimadas em US$ 9 bilhões, especialmente no setor agrícola. Já na China, problemas de poluição e esgotamento de aquíferos custam cerca de US$ 39 bilhões anuais.
Conflitos por água
Regiões em situação crítica enfrentam disputas pelo controle de recursos hídricos. No livro, Richter menciona o Rio Cauvery, na Índia, onde a escassez frequente alimenta conflitos entre os estados de Karnataka e Tamil Nadu, gerando tensões sociais e econômicas intensas.
Impacto ambiental
A degradação dos ecossistemas aquáticos é um dos reflexos mais alarmantes da crise hídrica. No delta do Rio Colorado, o desmatamento e a falta de fluxo transformaram uma área antes rica em biodiversidade em um deserto salino. Ecossistemas inteiros estão sob ameaça se as fontes hídricas não forem protegidas.
Soluções para um futuro sustentável
Eficiência no uso da água
O uso eficiente da água é essencial para minimizar o impacto da crise hídrica. Práticas como irrigação de precisão, reaproveitamento de águas residuais e sistemas de captação de água da chuva podem reduzir drasticamente o desperdício.
Um exemplo prático citado na obra é o sistema de gestão hídrica da Austrália na Bacia Murray-Darling, onde limites de consumo foram estabelecidos para agricultores e indústrias. Isso incluiu políticas como o financiamento de tecnologias para reduzir o consumo e a permissão para o comércio de direitos de uso da água, o que incentivou a conservação.
Governança participativa
O autor destaca a importância de envolver comunidades na gestão hídrica, tornando o processo mais democrático e eficaz. Em São Paulo, por exemplo, a crise hídrica de 2015 incentivou a criação de fóruns participativos, onde cidadãos puderam colaborar com gestores para encontrar soluções, como reduzir perdas na rede de distribuição.
Além disso, essa abordagem promove maior conscientização pública, tornando as pessoas mais dispostas a adotar práticas sustentáveis no dia a dia, como reduzir o consumo e evitar o desperdício.
Investimento em tecnologia
O desenvolvimento de tecnologias avançadas tem o potencial de transformar a gestão hídrica em regiões vulneráveis. Entre as soluções destacadas por Brian estão:
- Dessalinização de água do mar: Transformar água salgada em potável é uma alternativa viável para regiões costeiras, embora os custos de energia ainda representem um desafio.
- Sensores inteligentes: Tecnologias para monitorar a vazão e a qualidade da água permitem respostas mais rápidas a crises e ajudam a otimizar o uso dos recursos.
- Infraestrutura verde: Soluções como recuperação de áreas úmidas e vegetação ripária ajudam a restaurar o ciclo natural da água e a preservar aquíferos subterrâneos.
Educação e conscientização
Outro pilar fundamental para o futuro sustentável é a educação. Richter defende que governos e organizações invistam em campanhas educativas para conscientizar as populações sobre o valor da água e os riscos de sua escassez.
Programas escolares, workshops comunitários e incentivos financeiros para práticas sustentáveis são algumas iniciativas que podem gerar mudanças significativas a longo prazo.
Saiba mais sobre como enfrentar a escassez de água
A obra explora os desafios e soluções da crise hídrica global. Com base em estudos de caso reais, como o Rio Colorado e a Bacia Murray-Darling, a obra apresenta ferramentas práticas para gestores, comunidades e cidadãos, sendo um guia indispensável para entender a crise hídrica e atuar por um futuro mais sustentável.
Confira a degustação da obra aqui.
Capa do livro “Em busca da água: um guia para passar da escassez à sustentabilidade”, publicação da Editora Oficina de Textos