Traduzido para mais de cinco línguas, Em busca da água: um guia para passar da escassez à sustentabilidade fala como nenhum outro livro sobre a escassez da água, enfocando na população, e em como a falta de água afeta diretamente o povo.
O autor, Brian Richter, é líder global em ciência e conservação fluvial, e escreve para que qualquer um consiga ler seu livro e obtenha informações e métodos para compreender as dinâmicas de abastecimento hídrico de sua região e contribuir para uma gestão sustentável deste recurso fundamental para a vida.
Confira a seguir a entrevista de Richter para o Comunitexto sobre essa obra com linguagem focada nos cidadãos e em suas comunidades.
Comunitexto (CT): Por que você decidiu escrever esse livro?
Brian Richter (BR): Eu percebi duas coisas que motivaram esse livro. A primeira é que a escassez de água está se espalhando e intensificando rapidamente; nós ouvimos histórias sobre crises hídricas praticamente todos os dias.
A segunda foi que – mesmo entre grupos voltados à questão da água – há uma falta de compreensão e muitos equívocos sobre o que causa a escassez, e sobre o que precisamos fazer para preveni-la no futuro.
Por um lado, a mídia sempre culpa as secas pela falta d’água, mas isso é apenas parte da história. Por outro lado, o que raramente é dito é que a crise é uma falha de governança hídrica.
Se estivéssemos planejando o abastecimento de água de maneira sustentável e agindo de forma antecipada para preveni-las, nós poderíamos evitar essas crises.
CT: Este livro não é uma publicação técnica sobre a gestão hídrica, embora seja dedicada a esse assunto. Você também conta sua história nele. Ele tem um significado especial para você?
BR: Eu cresci em uma cidade que estava sempre em busca de água, tentando encontrar novas fontes para ficar um pouco à frente de uma crise hídrica. E nos meus mais de 25 anos de trabalho com questões ligadas à água, eu vi o impacto da falta d’água e de uma gestão hídrica mal feita. Eu sentia que precisava fazer alguma coisa, que eu precisava expressar meu ponto de vista e dividir o que eu aprendi.
As respostas são bastante simples, mas frequentemente os profissionais ligados à gestão hídrica fazem com que elas pareçam complicadas e incertas. Não é tão difícil ficar fora de problemas com relação à água.
CT: Quem são os principais leitores que você tinha em mente ao escrever este livro? Que tipo de impacto você espera causar neles?
BR: Eu estava pensando primeiramente em dois públicos. Um é a comunidade universitária, os professores que ensinam em cursos ligados à água e estudantes que poderiam se beneficiar de uma explicação simples sobre a gestão hídrica. Outro público são os líderes comunitários, aqueles cidadãos que se preocupam com a questão hídrica e estão tentando promover transformações em suas comunidades locais.
Em muitos casos eles não compreendem adequadamente o problema e suas soluções potenciais, então acho que meu livro pode informá-los e capacitá-los para levar adiante ideias coerentes, sustentáveis.
CT: Quais os diferenciais dessa obra? Como ela se distingue de outras publicações sobre a conservação da água?
BR: Tentei escrever o livro sobre gestão hídrica mais simples, curto e compreensível que eu fosse capaz. Não há equações matemáticas neste livro, mas há muitas ilustrações que contam a mesma história sobre a água.
Eu também quis compartilhar histórias sobre lugares reais que estão enfrentando desafios hídricos, ou encontrando maneiras de se sobrepor a esses desafios. As histórias tristes ajudam as pessoas a entenderem que não estão sozinhas; as felizes eu espero que inspirem os outros a continuar trabalhando em busca de soluções.
CT: Como você apontou, alguns dos maiores rios do mundo estão começando a secar por algum tempo ao longo do ano. É o caso do Colorado nos Estados Unidos, o Rio Amarelo na China, ou o Brahmaputra na Índia. O que estamos fazendo de errado?
BR: As duas maiores coisas que estamos fazendo de errado são: usar a água de uma maneira muito desperdiçadora, e permitir que muita água seja extraída de nossas fontes (rios, lagos, aquíferos).
Precisamos colocar limites sobre quanto pode ser removido de uma fonte de água, utilizar o mínimo possível, e temos que atender às necessidades da nossa água restante, da forma menos dispendiosa possível, e que não seja prejudicial ao meio ambiente.
Se simplesmente seguíssemos essa três regras, resolveríamos muitos dos problemas de água do mundo.
CT: Esses rios que falamos acima, bem como outras fontes de água, podem ser recuperados?
BR: Sim, mas será necessário uma liderança ousada, e um compromisso público. Uma vez que uma comunidade, cidade ou grupo de agricultores se torna dependente de um alto volume de uso de água, é difícil fazer com que voltem atrás, ou mesmo ajudá-los a encontrar fontes alternativas de água.
Mas economizar um pouco de água, cerca de 10% a 20%, particularmente na agricultura irrigada, pode liberar uma grande quantidade de água para a restauração ambiental.
CT: Os governos são responsáveis por gerenciar as fontes de água de um lugar, mas você destaca que eles não são os únicos. Como a indústria, o agronegócio e a comunidade se envolvem na gestão da água?
BR: Nosso objetivo final deve ser ajudar os governos a fazer um trabalho melhor na gestão das águas públicas do nosso planeta. Eles podem não ter conhecimento técnico, financiamento ou apoio político, e todos os usuários de água devem se comprometer a ajudar a resolver essas deficiências.
Muitas corporações e indústrias estão começando a entender que a má gestão da água é perigosa para seus resultados financeiros.
O mais importante é reunir a comunidade de partes interessadas que usam e/ou compartilham a mesma fonte de água, e facilitar a discussão sobre sua visão compartilhada para a gestão sustentável da água.
Tais convocações não precisam necessariamente ser lideradas pelo governo. Uma organização não governamental ou, em alguns casos, um agronegócio ou uma indústria, podem servir como organizador.
Mas as discussões precisam ser facilitadas por uma entidade ou indivíduo amplamente confiável e capaz. Nessas discussões, as deficiências da gestão da água podem ser debatidas, e as partes interessadas podem trabalhar juntas para descobrir como lidar com esses problemas, a fim de que todos desfrutem de um futuro hídrico mais seguro e equitativo.
Saiba mais sobre Em busca da água
O problema da escassez de água se intensifica em diversas regiões do mundo, seja por baixa pluviosidade, como no sertão nordestino ou na Califórnia (EUA), seja por qualidade imprópria das águas superficiais, como na cidade de São Paulo e em outros locais que outrora dispunham de recursos hídricos em abundância. Em busca da água analisa as razões que conduzem a essas crises, uma das questões mais urgentes do século XXI.
Confira a degustação da obra aqui.
Capa do livro “Em busca da água: um guia para passar da escassez à sustentabilidade”, publicação da Editora Oficina de Textos
Sobre o autor Brian Richter
Brian Richter é líder global em ciência e conservação da água há mais de 25 anos, diretor de Estratégias Globais para a Água Doce da The Nature Conservancy e presidente da Sustainable Waters, uma organização internacional de educação sobre a água. Leciona um curso sobre sustentabilidade hídrica na Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, e atua como conselheiro sobre temas hídricos para grandes corporações, bancos de investimentos e as Nações Unidas.