A ONU declarou a Década de 2021 a 2030 como a de Restauração de Ecossistemas, cuja atividade essencial é o reflorestamento. A iniciativa é um chamado global à proteção e revitalização dos ecossistemas em todo o Planeta e destaca a existência de 2 bilhões de hectares de áreas degradadas com possibilidade de restauração no mundo. A meta inicial é restaurar 350 milhões de hectares degradados, até 2030.
Um resgate ancestral usar esgoto tratado como fertilizante
O lodo de esgoto, ou biossólido, tem sido descartado em aterros sanitários. A falta de espaços para deposição dos resíduos é um alarmante problema para os centros urbanos. Soluções que reduzam os volumes destinados aos aterros sanitários são necessárias e muito bem-vindas.
Entretanto, sua utilização é uma alternativa econômica, prática e ecológica para o reflorestamento da Mata Atlântica. Foi o que revelou um estudo pioneiro realizado pela Embrapa Agrobiologia (RJ), em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em plantios de espécies nativas em áreas de restauração florestal. A eficácia dessa prática pode ser comprovada nos viveiros da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Estado do Rio de Janeiro (Cedae), que já produz mais de um milhão de mudas utilizando o material como substrato.
“Além de ser um recurso reciclável, o biossólido aumenta a possiblidade de sucesso do reflorestamento porque as plantas crescem mais rapidamente e têm maior taxa de sobrevivência e de crescimento”, declarou o pesquisador da Embrapa Guilherme Chaer.
Ademais, o uso do biossólido como insumo é especialmente em áreas de solos degradados, carentes de matéria orgânica e nutrientes, nos quais a taxa de sobrevivência das espécies costuma ser baixa. Segundo o pesquisador, o lodo de esgoto cria condições para que a planta se desenvolva, pois, além de ser rico em matéria orgânica, condiciona o solo, proporcionando maior retenção de água para as plantas: um sucesso para o reflorestamento e a restauração dos ecossistemas respostas distintas à aplicação do lodo de esgoto.

O Angico-amarelo (Peltophorum dubium), por exemplo, aumentou em 100% sua altura e 30% o diâmetro de copa com o lodo de esgoto, comparado às plantas que não receberam o adubo. A partir desses resultados, os pesquisadores concluíram que as doses devem variar e estabeleceram a quantidade ideal de biossólido para cada espécie.
Do esgoto ao reflorestamento: o biossólido como fertilizante ecológico
Atualmente a Cedae recicla 100% do lodo de esgoto produzido na estação de tratamento da Ilha do Governador, definida como modelo. Todo biossólido é utilizado no plantio de mudas florestais nativas da Mata Atlântica destinadas a restauração florestal e arborização urbana. Por ano, são produzidas 1,8 milhão de mudas de 204 espécies.
A prática de usar excrementos dos animais para fertilização das lavouras é milenar. Em seu livro Anarquistas graças a Deus, Zélia Gattai relata como trabalho das crianças, no início do século XX, na alameda Santos, em São Paulo, após a passagem de féretros puxados por cavalos, a coleta do estrume para a horta.
Uma ideia inteligente para as caixas de pizza serem usadas como técnica no reflorestamento
Quantas milhões de caixas de pizza vão para o aterro sanitário?
Pois seu uso aumenta o sucesso no reflorestamento com mudas e com um custo até 50% menor em comparação aos métodos tradicionais. Trata-se do uso de papelão para controle do capim no coroamento (capina ao redor) de mudas em ações de reflorestamento.
O método já utilizado em lavouras, mas é novidade em ações de reflorestamento com espécies nativas. Nos projetos de recomposição florestal, a maior parte dos custos está associada ao controle de plantas daninhas que prejudicam o crescimento e a sobrevivência das mudas. Cerca de dois terços do investimento é consumido pelo controle da chamada matocompetição.
“Temos várias soluções para isso. O uso de herbicida é a mais comum na agricultura, mas é pouco utilizada no setor florestal com foco ambiental, principalmente porque são áreas próximas a recursos hídricos”, explica o pesquisador Alexander Resende.
A técnica é simples e utiliza um disco ou placa de papelão, novo ou reutilizado, para proteger a base das mudas de espécies florestais nos primeiros anos de plantio. A proteção faz com que as gramíneas, que competem com as espécies de reflorestamento, não se desenvolvam. Com isso, o crescimento das mudas ocorre da mesma forma como se fosse feito o controle da forma tradicional com enxadas, foices e roçadeiras. Mas o método tradicional exige muita mão de obra, com rendimento operacional baixo, o que onera os projetos de reabilitação ambiental.
Guilherme Chaer conta que os experimentos no campo mostraram que, além de impedir o crescimento das gramíneas, o papelão aumenta a taxa de sobrevivência das mudas.
Embora aumente a sobrevivência das mudas em campo, o papelão não afeta o crescimento das plantas em relação ao tratamento manual. Ao contrário, o papelão pode diminuir em até 10º C a temperatura do solo superficial nos dias mais quentes e também reduz a perda de água por evaporação. “Isso faz uma diferença enorme para a planta, tanto para aliviar o estresse térmico como o estresse hídrico. Ao perder menos água, a planta se beneficia.

📝 Fonte: adaptado de matérias da Agência Embrapa
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