“Riscos híbridos”: livro quer ajudar o país a prevenir catástrofes e reduzir seus efeitos

Desastres e catástrofes têm sido cada vez mais intensos e frequentes nos últimos trinta anos. Tais ocorrências antecipam o que poderá acontecer no futuro próximo, com ameaças naturais, sociais e tecnológicas, muito mais impactantes do que as já conhecidas. Para apoiar a comunidade técnica e os gestores públicos a compreender esses novos fenômenos englobados pelo conceito de “riscos híbridos”, o professor Francisco de Assis Mendonça, da Universidade Federal do Paraná, reuniu especialistas e organizou o livro Riscos híbridos: concepções e perspectivas socioambientais, lançamento da editora Oficina de Textos.

Capa de Riscos híbridos: concepções e perspectivas socioambientais.

Há a necessidade de compreender os riscos híbridos de um ponto de vista complexo, em que há a interação de diversos elementos que os caracterizam”, explica Mendonça.

A ideia do livro surgiu durante uma escola de verão, projeto da Universidade Federal do Paraná, ofertada para alunos de pós-graduação. O tema do curso envolvia os riscos socioambientais. “Dentro dessa abordagem, conseguimos desenvolver de forma mais aprofundada a ideia dos riscos híbridos”, explica o professor.

A obra apresenta uma ideia pioneira, sendo a primeira vez que o termo é utilizado em uma publicação de língua portuguesa. “O livro é resultado de uma construção de cerca de dez anos de pesquisas, de avanço conceitual e de uma prática envolvendo diversos colegas na escola de verão”.

Em entrevista à equipe de comunicação da Editora e no webinar promovido pela Oficina de Textos, Francisco Mendonça explica os conceitos apresentados e debatidos em seu livro. O primeiro deles diz respeito aos problemas socioambientais urbanos, derivados do conflito entre sociedade e natureza. São questões que não podem ser enfrentadas a partir de apenas uma única perspectiva.

As condições de risco sempre estiveram presentes ao longo da história humana”, lembra Mendonça. Os riscos, porém, ganharam um novo significado ao longo das décadas mais recentes. São vistos agora como ameaças globais, decorrentes das mudanças climáticas e da própria globalização. A sociedade de risco (termo cunhado por Ulrich Beck no livro homônimo) fala, portanto, sobre a generalização da situação de riscos no planeta.

É necessário lembrar que um mesmo risco não impacta todo mundo da mesma maneira. A isso se refere um dos temas tratados no livro – os riscos e vulnerabilidades socioambientais. O risco é uma construção social e nos leva a uma ideia de vulnerabilidade”, afirma Mendonça. A vulnerabilidade humana aos impactos depende de fatores como exposição (localização), resistência (habitação/saúde) e da resiliência (adaptação/preparação).

resiliência socioambiental urbana fecha o tripé: risco, vulnerabilidade e resiliência. Ela se refere a como, conhecendo os riscos e as vulnerabilidades, a sociedade enfrenta os próprios impactos que causa. É resiliência socioambiental urbana a capacidade que tem a sociedade, ou um ecossistema, de voltar ao seu estado natural após um desastre.

Para Mendonça, os riscos híbridos são problemas transversais na sociedade. Mas ainda são tratos por governos, instituições técnicas e sociedade separadamente nos diferentes campos do conhecimento. “Apostar nessa visão integrada dos riscos é o maior desafio do Brasil no momento”.

O livro debate ainda políticas de prevenção e redução dos impactos causados pelos desastres. “Buscamos nesta obra pensar sobre o futuro, tendo em vista um cenário de previsão e prevenção aos desastres”, declara o organizador.

Ele espera que a obra possa de fato levar a comunidade técnica e os gestores públicos a compreender esses novos fenômenos e a agir preventivamente para evitar a ocorrência de desastres ou, pelo menos, a reduzir os seus impactos.

Assista à entrevista:

Sobre o autor

Francisco de Assis Mendonça é professor titular do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paraná. É também professor convidado na Université de Sorbonne/Paris I/Institut de Géographie (2002), na Université de Haute Bretagne/Rennes II/França (2004) e pesquisador convidado na London School of Hygine and Tropical Medecine (Londres/Inglaterra 2005) e no Laboratoire PRODIG/França (Univ. sorbonne/Paris 1, 2005). É membro também da CoC – Comissão de Climatologia da UGI – União Geográfica Internacional (desde 2012), e do Conselho de Administração da AIC – Associação Internacional de Climatologia (2003-2006, e desde 2013). É presidente da ABClima – Associação Brasileira de Climatologia (2002-2004), da ANPEGE – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Geografia (2007-2009), e membro da direção da ANPPAS (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ambiente e Sociedade (2004-2008).