O desabamento dos três prédios no Rio de Janeiro levantou uma série de dúvidas na população, principalmente quanto à segurança em reformas, uma das hipóteses da queda dos edifícios
Prédio desaba e causa destruição no centro do Rio (Fonte: Reprodução TV Globo)
Confira abaixo a entrevista da Oficina de Textos com o Prof. Paulo Helene, Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e professor da Poli, sobre as possíveis causas do desabamento, além dos cuidados ao realizar reformas.
CT: Quais os principais cuidados que devem ser tomados ao realizar uma reforma residencial ou empresarial?
Paulo Helene (PH):
- Sempre retirar o piso antigo antes de aplicar o novo. Nunca fazer piso sobre piso.
- Evitar acrescentar forro falso de gesso ou madeira, ou plástico ou qualquer outro.
- Não alterar posição de banheiras nem substituir banheira pequena por outra muito grande.
- Não demolir nem um pedacinho de pilares e vigas.
- Não furar pilares e vigas.
- Não demolir alvenarias para janelas, portas, passagens, arcos etc. sem antes confirmar se são ou não estruturais.
- Cuidado com prédios antigos e outras reformas existentes (antigas), ou seja, pensar sempre na imagem de um copo cheio de água onde uma simples gota a mais derrama.
- Não fazer enchimentos de pisos.
- As estruturas de concreto são as melhores e mais resistentes e mais duráveis. Têm em geral boa capacidade de acomodação e redistribuição, porém não se pode exagerar nem sobrepor vários desaforos.
O ideal é sempre consultar um engenheiro competente.
CT: No Estado de São Paulo, a Prefeitura só fiscaliza a execução de uma construção ou reforma caso receba uma denúncia. Nesse caso, como saber se a obra é irregular?
PH: Em termos gerais, tem de ter alvará na porta – uma autorização para que a obra seja iniciada, após o projeto ter sido aprovado.
CT: De que maneira as infiltrações podem comprometer a estrutura de prédios em reforma?
PH: A água é o pior inimigo do aço e o corrói de modo intenso. As estruturas dos edifícios, em geral, têm várias partes em aço, inclusive dentro do concreto. Se a água atravessar pelo concreto ou saturá-lo, poderá desencadear um processo corrosivo, expansivo ou lixiviante, sendo todos esses altamente prejudiciais.
CT: Após a análise da tragédia, especialistas apontam outras possíveis causas para o desabamento: recolocação de janelas alterando o projeto original; excesso de peso em obras do 9º andar e afundamento do solo pela água das chuvas. Qual sua avaliação desse quadro? Existem outras possibilidades que podem ter contribuído para a queda dos edifícios?
PH: Muitas outras, mas chuva jamais! A principal hipótese é de reformas seguidas, que não consideraram a mudança de edifício habitacional para comercial, nem o fato de se tratar de edifício muito antigo, projetado e construído com critérios hoje considerados obsoletos e insuficientes. Em segundo lugar viria a corrosão de armaduras (a oxidação e a corrosão propriamente dita), devido à agressividade do ambiente.
Assista a seguir a entrevista que Paulo Helene concedeu ao Jornal da Gazeta sobre indicadores de perigo e como agir em situação de risco como o caso do desabamento dos prédios na região central do Rio de Janeiro:
Ele também falou sobre infiltrações para o programa Bom Dia Brasil, da Rede Globo. Clique aqui e confira!
Para saber mais
No talk Avaliação da resistência de concreto em estruturas existentes, Paulo Helene aborda os seguintes tópicos:
- Conceito de resistência à compressão do concreto para fins de verificação da segurança.
- Procedimentos de controle da resistência do concreto (NBR 6118, ACI 318 e EN 206).
- Diferenças conceituais e potenciais entre testemunho e corpo de prova.
- Fatores de correção NBR 7680.
- Como e quando considerar efeito da idade e da carga de longa duração para verificação da segurança.