Resíduos de construção civil: entrevista com André Nagalli

A crescente consciência do impacto ambiental dos resíduos de construção e de demolição (RCD), historicamente desconsiderado pelo setor da construção civil, foi ganhando importância e tornou cada vez mais relevante a discussão sobre o correto gerenciamento dos RCD, vistos agora como uma questão de responsabilidade empresarial, social, ambiental e legal.

(Fonte: Agência Brasília)

Nesse contexto, a Editora Oficina de Textos, sempre alinhada às novas necessidades do mercado da construção civil, está lançando o livro Resíduos de construção civil, de autoria do engenheiro André Nagalli.

O Portal Comunitexto convidou nosso autor para uma entrevista inédita para falar com mais detalhes sobre sua obra. Acompanhe agora!

Capa de Resíduos de construção civil.

A obra está disponível na nossa livraria técnica!

Comunitexto (CT): Qual a importância do livro Resíduos de construção civil para a área?

André Nagalli (AN): O livro busca apresentar os principais aspectos que cercam a questão dos resíduos de construção e demolição (RCD) nas obras. Quando se fala em gestão de resíduos, é comum reportar-se a uma visão ampla, de locais para disposição dos resíduos (aterros), sistemas de coleta e transporte etc. O livro busca aprofundar a discussão, trazendo o tema para uma escala menor, uma escala de obra.

Ao compilar e comentar a legislação da área, buscamos trazer os principais aspectos que interessam ao gestor de obras, que é hoje quem conceitualmente encabeça o processo de gestão de resíduos na obra e acaba por se responsabilizar, ainda que solidariamente, por encaminhamentos inadequados de RCD.

CT: Qual é o objetivo desta obra e seus maiores destaques?

AN: A obra busca dar suporte técnico a gestores de obra que, em sua grande maioria, não puderam aprofundar seus estudos sobre o tema em sua graduação. O livro apresenta alternativas para coleta, transporte e destinação de resíduos não só do ponto de vista operacional da obra, mas também sob o viés do planejamento. Assim, eu destacaria o capítulo dedicado a modelos preditivos de geração de resíduos, onde buscamos trazer alguns métodos para estimar resíduos utilizados no mundo todo.

CT: Existem livros que abordam este tema? Qual é o diferencial do livro Resíduos de construção civil em relação ao que já foi publicado até então?

AN: Acreditamos que o grande diferencial seja registrar a experiência teórico-prática brasileira, visto que parte importante da bibliografia de que dispomos atualmente é importada ou traduzida de outras realidades/países, em outros contextos e processos construtivos.

Outro referencial bastante utilizado atualmente são as cartilhas. Em relação a elas, buscamos aprofundar e ampliar a discussão.

CT: A construção civil, nos moldes como é hoje conduzida, apresenta-se como grande geradora de resíduos. Como o livro trata essa questão?

AN: No livro, reconhecemos e encaramos esse problema. Nossa experiência atuando junto a grandes e médias construtoras, além dos trabalhos científicos que vimos se desenvolvendo, nos dão subsídios para tratar a questão com seriedade e realidade. A cultura do “tratar os resíduos de uma maneira ambientalmente adequada” requer das construtoras e fornecedores um verdadeiro “choque de gestão”. E como isso implica mudança de comportamentoalocação de recursos e em um primeiro momento pode ensejar redução de lucros, é de difícil implantação e demanda comprometimento de todos, a começar pelos dirigentes. O que apresentamos no livro são formas de como promover essa transição de uma maneira mais efetiva e menos conflituosa.

CT: Qual a importância do programa de gerenciamento e como o livro aborda esse tema?

AN: O programa de gerenciamento abrange um conjunto de práticas que buscam garantir o eficiente fluxo de resíduos. No livro, são mostrados exemplos de como essas práticas podem ser agrupadas de maneira eficiente.

CT: Quais são as principais estratégias do gerenciamento de resíduos sólidos na construção civil?

AN: Assim como na área de resíduos industriais, a principal estratégia é não gerar resíduos. E isso é possível com planejamento, concepções inteligentes de projetos arquitetônicos, escolhas de materiais e processos construtivos etc. No livro comentamos muito sobre isso. Há um processo hierárquico para definição dessas alternativas visando o bom gerenciamento dos resíduos.

CT: Para finalizar, qual o profissional responsável por gerenciar RCD? Como está o mercado para os profissionais que se especializam neste tema?

AN: O mercado é bastante promissor. Cada vez mais as administrações municipais têm se preocupado em cobrar o cumprimento à legislação. O principal profissional afim à área do gerenciamento dos resíduos de construção civil é o engenheiro civil. Subordinadamente, há arquitetos e urbanistas, engenheiros ambientais, tecnólogos em construção civil etc., que também por vezes se deparam com circunstâncias que requerem conhecimentos específicos sobre o tema.

Infelizmente, nesse processo de implantação dos sistemas de gerenciamento, muitas vezes a questão fica temporariamente na mão de estagiários ou almoxarifes, mas com o tempo os líderes do processo se convencem de que tal solução não tem efetividade. A tendência é que esse nicho de mercado se desenvolva.

Sobre o autor

André Nagalli é Mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental e Doutor em Geologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Leciona desde 2005 nos cursos de graduação e pós-graduação em Engenharia Civil pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Autor de diversos artigos científicos, desenvolve trabalhos de pesquisa na área de resíduos de construção e demolição junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC). É auditor ambiental líder cadastrado junto ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e, desde 1998, sócio-diretor da AAM – Ambiental & Mineral, empresa de consultoria nas áreas ambiental e geológica, onde atua como consultor.