Para Ricardo Valeriano, autor do livro Pontes, publicado pela Oficina de Textos neste ano, “ponte é algo até poético”. Uma estrutura complexa elaborada a partir de muito planejamento e ainda mais cálculos, classificada como obra de arte especial, tem o propósito de nos fazer chegar ao outro lado, transpondo obstáculos.
Não importa a cidade, seja nos grandes centros, seja no campo, sempre haverá uma ponte. Para quem atua na área de Engenharia Civil, é primordial conhecer essa estrutura complexa em todos os seus detalhes. Igualmente importante, até mesmo em níveis culturais, é conhecer a origem desse elemento tão comum e presente no dia a dia de todos.
É justamente a isso que se propõe o livro Pontes: apresentar as pontes ao longo da História da humanidade, desde os primórdios, elaboradas com as tecnologias mais rudimentares, até os nossos dias, demonstrando, dessa forma, detalhes cruciais para que essas estruturas se sustentem e cumpram seu propósito com segurança.
Em entrevista ao Comunitexto, Ricardo Valeriano falou sobre suas motivações para elaborar esta obra e destacou os principais atrativos desta publicação original e inédita.
Comunitexto (CT): Qual foi sua motivação para escrever Pontes?
Ricardo Valeriano (RV): Atualmente, sou professor de pelo menos seis matérias e sempre tive o costume de escrever o material das minhas disciplinas na forma de apostila. É algo que eu gosto de fazer e me deixa bem satisfeito. Eu achava até que, de certa forma, é uma obrigação do professor oferecer o material desse jeito para o aluno. E com o tempo percebi que estou perto de me aposentar e que esse conteúdo poderia se perder ou ficar esquecido e, modéstia à parte, eu sei que é um material de boa qualidade – não é excepcional, mas tem seu valor. Então, de fato, o que me levou a escrever Pontes foi isso, uma tentativa de preservar esse material que tenho desenvolvido há tantos anos.
CT: Quais são os principais destaques do livro?
RV: Nós somos muito carentes de literatura que trabalhe com o assunto de pontes. Muitos livros técnicos tratam de estruturas metálicas, mas, especificamente sobre ponte, quando procuramos, não encontramos. Outros livros que pretendem tratar desse assunto não tratam especificamente de pontes, mas sim de estruturas metálicas, ou de madeira, concreto armado, mas não especificamente de pontes.
Acho que o mérito do livro é ser uma publicação nova e moderna em uma carência que nós temos desse tipo de obra no Brasil, já que é muito importante – toda escola de engenharia civil precisa, obrigatoriamente, ter o curso de pontes, mesmo que o estudante não vá se especializar nisso.
No que diz respeito ao conteúdo, há três capítulos que talvez sejam únicos, nós não achamos dessa maneira na literatura. O capítulo nove trata das linhas de influência, que é um assunto abordado nos livros de análise estrutural, mas não de maneira tão detalhada. Em outro capítulo, eu falo de trem-tipo, que consiste na distribuição de cargas em seções abertas ou fechadas, e tudo isso foi escrito de maneira bem original, a partir de observações e conclusões às quais eu mesmo cheguei por conta própria.
Outro aspecto do conteúdo que eu acredito que seja um diferencial são as ilustrações. O livro totalizou cerca de 500 figuras, e eu acho que isso é bastante raro. Sempre gostei muito de desenho e não sei explicar nada que não seja desenhando, então acho que na maneira de apresentar o conteúdo esse também é um destaque. E, mesmo com o grande número de imagens, o texto é conciso e objetivo. Isso pode ser uma qualidade.
CT: O que exatamente é uma ponte?
RV: A ponte é uma coisa até poética, é algo tão emblemático e simbólico que toda cédula de Euro tem, em uma das faces, uma ponte e, na outra, um portal. E essas pontes não são aleatórias: a nota de cinco Euros tem a Pont du Gard, na França, um aqueduto romano – que eu até coloquei no livro, também – com uma estrutura em arco (da arquitetura clássica). Depois, a nota de 10 tem um arco romano mais tardio, depois passa pela renascença, gótico, até chegar nos dias de hoje com a nota de 500 Euros, que ninguém mais vê.
A ponte é algo importante porque ela liga as coisas. Em poucas palavras, é uma estrutura capaz de vencer obstáculos, sejam eles naturais ou artificiais, como uma rua ou uma avenida. A função da ponte é transpor uma massa de água, preponderantemente. Por definição, se a estrutura passa por um vale, não é uma ponte, mas um viaduto, mesmo que tenha água lá embaixo. O livro define o que é ponte, o que é passarela, o que é viaduto, o que é elevado. Mas, no livro, para não ficar utilizando outros nomes, eu uso o termo “estrutura típica de ponte”.
CT: O livro é voltado para qual público?
RV: O livro é voltado, fundamentalmente, para estudantes de graduação. Ele é uma evolução das apostilas que tenho feito ao longo dos últimos 15 ou 20 anos, que são destinadas aos alunos dos cursos de Ensino Superior. Nesse formato que a obra apresenta, acredito que vá despertar o interesse também de profissionais da área de maneira geral, profissionais que trabalham em escritórios de projeto, por exemplo. Mas o foco mesmo são os alunos de engenharia.
Para saber mais
O livro Pontes está disponível para compra na Livraria Técnica Ofitexto, na versão impressa.