Em agosto de 1945, durante os eventos finais da Segunda Guerra Mundial, duas bombas atômicas foram lançadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, pelos Estados Unidos. Os efeitos deste ataque foram imediatamente devastadores e podem ser vistos nas duas cidades até os dias de hoje.
As bombas atômicas foram chamadas de Little Boy e Fat Man, e eram constituídas, respectivamente, de urânio e plutônio. A primeira foi lançada no dia 6 de agosto na cidade de Hiroshima. No dia 9, a segunda bomba foi disparada em Nagasaki.
Este foi o primeiro e único evento histórico em que armas nucleares foram utilizadas em guerra. O número de mortos em decorrência direta dos ataques não é preciso, mas acredita-se que a baixa de civis em Hiroshima tenha sido de 140 mil e, em Nagasaki, 74 mil.
Neste artigo, falaremos sobre as características das bombas atômicas detonadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki e os principais efeitos do bombardeio. Confira.
Efeitos imediatos das bombas atômicas
As principais causas das mortes imediatas ou em curto espaço de tempo após a explosão das bombas nessas duas cidades foram:
- Ondas de calor: de 20% a 30% das mortes de seres humanos num raio de 1,2 km do hipocentro são atribuídas a queimaduras fatais.
- Ondas de choque: as pessoas que estavam na rua ou mesmo dentro de casa foram lançadas vários metros no ar, ferindo-as terrivelmente ou mesmo as matando.
- Radiação ionizante: raios gama e nêutrons emitidos durante a explosão, além da radiação emitida por átomos de césio-137 e de iodo-131, por exemplo, irradiaram pessoas interna e externamente. A chuva negra que começou a cair 20 minutos após a explosão da bomba em Hiroshima e que durou até 12h45 contaminou uma área ovalada de 11 km por 19 km.
Tabela extraída do livro Radiação: efeitos, riscos e benefícios apresenta as características principais de cada uma das bombas atômicas lançadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki. Todos os direitos reservados
Lançamento da bomba atômica Little Boy em Hiroshima
O general Paul Warfield Tibbets Jr. (1915-2007), que também havia trabalhado no Projeto Manhattan e que pilotaria o bombardeiro B-29 com a bomba atômica que seria lançada em Hiroshima, pintou na fuselagem do avião o nome de sua mãe, Enola Gay. Da ilha Tinian, o Enola Gay decolou às 2h45, chegando a Iwojima às 5h52 e a Hiroshima em uma segunda-feira, dia 6 de agosto de 1945, às 8h15, horário em que foi lançada a bomba atômica Little Boy.
Bomba Little Boy antes de ser montada no Enola Gay. Fotografia presente no livro Radiação: efeitos, riscos e benefícios. Todos os direitos reservados
Duas outras aeronaves B-29 – The Great Artiste, carregando vários instrumentos de medida, e Necessary Evil, com equipamentos fotográficos para registro – escoltaram o Enola Gay. A cidade de Hiroshima havia sido eleita para bombardeio porque, diferentemente de outras cidades de dimensão similar, estava razoavelmente intacta e os efeitos de uma bomba atômica seriam “espetaculares” para mostrar ao mundo o poderio americano.
A bomba foi lançada de uma altura de 9.400 m e detonou a 600 m do solo, formando a seguir uma imensa nuvem com detritos em forma de um enorme cogumelo.
Lançamento da bomba atômica Fat Man em Nagasaki
Três dias depois do lançamento da bomba atômica Little Boy, em 9 de agosto de 1945, às 11h02, foi lançada na cidade de Nagasaki a bomba Fat Man, à base de plutônio-239 e que explodiu a 503 m do solo.
Às 3h49 desse dia, o B-29 Bock’s Car, pilotado pelo major Charles W. Sweeney (1919-2004), decolara de Tinian para bombardear sem radar, apenas observando visualmente, a imensa fábrica de armamentos em Kokura, mas, por falta de visibilidade, o alvo foi mudado para Nagasaki.
Réplica da bomba Fat Man. Fotografia presente no livro Radiação: efeitos, riscos e benefícios. Todos os direitos reservados
The Great Artiste, que escoltou o Bock’s Car, deixou cair antes da bomba uma latinha com uma carta sem assinatura dirigida ao professor Ryokichi Sagane (1905-1969), físico nuclear da Universidade de Tóquio, que havia realizado pesquisas em Berkeley, na Universidade da Califórnia, com três dos cientistas responsáveis pela construção das bombas atômicas.
A carta manuscrita continha a mensagem de que o público japonês fosse informado dos perigos dessa arma de destruição em massa. A carta foi encontrada por autoridades militares japonesas, que só a entregaram a Sagane um mês depois. Em 22 de dezembro de 1949, um dos autores da carta, Luis Walter Alvarez (1911-1988), encontrou-se com Sagane e assinou o documento.
Cópia da carta a Ryokichi Sagane escrita por Luis Alvarez e jogada em Nagasaki. Imagem digitalizada presente no livro Radiação: efeitos, riscos e benefícios. Todos os direitos reservados.
Efeitos da radiação ionizante nos seres humanos em Hiroshima e Nagasaki
A Atomic Bomb Casualty Commission (ABCC) foi criada em 1947 em Hiroshima e em 1948 em Nagasaki, sob os auspícios da U. S. National Academy of Sciences e do Japanese National Institute of Health, para iniciar os estudos epidemiológicos e genéticos dos efeitos tardios das bombas atômicas entre os sobreviventes.
O objetivo principal dessa comissão era acompanhar o estado de saúde de jovens expostos à radiação das bombas durante cem anos. Em 1975, essa comissão foi sucedida pela Radiation Effects Research Foundation, que elaborou vários subprojetos. Entre eles, o Life Span Study (LSS), que acompanha mais de 200 mil sobreviventes e seus filhos, com foco na incidência de câncer induzido pela radiação e em sua mortalidade.
O LSS é o estudo epidemiológico mais importante do mundo sobre os efeitos tardios da radiação nos seres humanos, devido a seu tamanho e duração e à informação fornecida fidedignamente pelos participantes.
Em outro subprojeto, o Adult Health Study (AHS), os sobreviventes são examinados clinicamente por médicos duas vezes ao ano e realizam-se exames laboratoriais de sangue e urina. São também feitas medidas de densidade óssea e função cognitiva e verificação da incidência de catarata e câncer de tireoide e de útero.
Além disso, realizam-se análises da frequência de aberrações cromossômicas em linfócitos. Há também um subprojeto epidemiológico com indivíduos que eram fetos na época em que ocorreu a explosão da bomba.
Efeitos agudos da radiação após a explosão das bombas atômicas
Esses efeitos foram observados nas pessoas expostas a alta dose de radiação em Hiroshima e Nagasaki, desde 1 a 2 grays até 10 grays, e surgiram dentro de poucas horas, dias ou semanas após a exposição.
O conjunto de sinais e sintomas, chamado de síndrome aguda da radiação, consta de vômito acompanhado de diarreia, com duração de dias a semanas, redução das células sanguíneas tanto da série vermelha como da branca, hemorragia, queda de pelos e inflamação na boca e na garganta.
Os dados coletados mostraram que a dose letal que mata 50% das pessoas expostas em um intervalo de 60 dias foi de 2,5 grays, quando não houve assistência médica, e de 5 grays, com cuidados médicos.
As mortes devidas à dose alta de radiação começaram cerca de uma semana após a exposição, alcançaram o máximo em três a quatro semanas e praticamente cessaram após sete a oito semanas.
Efeitos tardios da radiação decorrente das bombas atômicas
Os efeitos tardios da radiação ionizante, tais como câncer, ocorreram em virtude da mutação nos DNAs, embora o mecanismo exato de como essas mutações levam ao câncer não seja conhecido; acredita-se que o processo requer uma série de mutações acumuladas durante anos.
Os dados coletados com sobreviventes mostraram que, no caso de câncer sólido, uma dose de 0,2 gray aumenta a incidência dessa doença em 10% em comparação com a incidência dita normal, para pessoas de igual idade. Para uma dose de 1 gray, o correspondente excesso chega a atingir 50%.
A probabilidade de um sobrevivente ter um câncer causado pela radiação da bomba depende de diversos fatores. O risco de desenvolver câncer induzido pela radiação será tanto maior quanto maior for a dose recebida e quanto menor for a idade do indivíduo na época da exposição à radiação, sendo ligeiramente maior nas mulheres do que nos homens.
O aumento na incidência de leucemia foi notado a partir de dois anos e atingiu o máximo por volta de sete anos após o bombardeio, principalmente em crianças. O risco de desenvolver essa doença depende fortemente da idade em que ocorreu a exposição.
Outra informação obtida do projeto AHS é sobre o aumento na incidência de tumores benignos de tireoide, de paratireoide, das glândulas salivares, uterinos e gástricos nas pessoas expostas à radiação da bomba atômica com o aumento de dose. As principais causas de morte são doenças cardiocirculatórias com incidência de aterosclerose, seguidas de doenças no sistema digestivo, no fígado e no sistema respiratório.
Para saber mais
Está disponível em nossa loja a 2ª edição do livro Radiação: efeitos, riscos e benefícios, escrito pela Professora Emico Okuno.
A obra permite ao leitor compreender os conceitos básicos da Física das radiações, seus efeitos biológicos, formas de proteção e suas aplicações na indústria e na Medicina, particularmente no tratamento do câncer.
Apresenta também a história das radiações: a descoberta da radioatividade, os primeiros tratamentos radioterápicos, o projeto Manhattan e as bombas atômicas, os reatores nucleares e os principais acidentes envolvendo radiações.