Levantamento pedológico: entrevista com Igo Lepsch

Autor do livro “19 lições de Pedologia” conversou com a equipe do Comunitexto sobre os objetivos do levantamento pedológico, mapeamento dos solos digital e tradicional

Comunitexto (CT): Qual o principal objetivo de um levantamento pedológico?

Igo Lepsch (IL): Um levantamento pedológico objetiva estudar e mapear os principais tipos de solos que ocorrem em uma determinada área.

Os solos variam bastante em função dos seus cinco principais fatores de formação: climarelevoorganismosmaterial de origem e tempo. Essa variabilidade pode ser representada em diferentes escalas nos mapas de solos (por exemplo, levantamento do tipo de reconhecimento, apresentando mapas em escala 1:500.000 e levantamentos detalhados, com mapas em escala 1:30.000).

Os mapas pedológicos são elaborados em levantamentos que fazem exame, descrição, mapeamento sistemático e classificação dos solos de uma determinada área. Eles são considerados como a melhor forma de aplicar os princípios da Ciência do Solo para fins de planejamento do uso e manejo da terra, dentro dos princípios de proteção ambiental. Para muitos locais, eles contêm mais informações sobre os recursos naturais do que qualquer outra fonte de consulta.

Foto de quatro pedólogos de pé avaliando um Latossolo Vermelho-Amarelo para um levantamento pedológico.

Levantamento pedológico identificando um perfil de Latossolo Vermelho-Amarelo
(Fonte: Agência IBGE)

CT: Ainda existe escassez e, consequentemente, demanda por mapeamento dos solos em todo o território nacional nas mais variadas escalas de mapeamento?

IL: No Brasil há uma grande escassez de levantamentos do tipo detalhado, que são os que maiores aplicações têm para planejamento do uso do solo em locais específicos, como, por exemplo, propriedades agrícolas. Tais mapas normalmente identificam os solos tanto com seus nomes taxonômicos como com nomes populares, o que facilita bastante as comunicações entre pedólogos e usuários dos mapas.

São as chamadas séries de solos. Infelizmente, no Brasil, ao contrário de muitos outros países – como Estados Unidos e Argentina –, essas séries de solos ainda não são usadas. Portanto, em nosso País é grande a demanda por esses levantamentos detalhados e pelos estabelecimentos de nossas séries de solos.

CT: Quais eram as limitações daqueles que faziam o mapeamento do solo pelo modo tradicional?

IL: A maior parte dos levantamentos de solos tradicionalmente já executados usa o chamado método de amostragem “livre”. Nele as etapas iniciais são: (a) pesquisa bibliográfica; (b) análises de mapas, exame de fotos imagens e/ou modelos de elevação digital do terreno e (c) trabalhos de campo para reconhecimento geral in loco e elaboração de uma legenda preliminar. Ao executar o levantamento, o pedólogo vai mentalizando um modelo conceitual solo-paisagem que, aos poucos, vai sendo aperfeiçoado.

A seguir, com mais observações no campo, em fotografias aéreas e/ou imagens de satélite e/ou modelos de elevação digital e, principalmente, através de experiências passadas ao trabalhar em paisagens semelhantes, ele identifica e mapeia componentes paisagísticos. Por exemplo: feições do relevo, tipo do embasamento rochoso e vegetação.

Depois, perfis de solo são examinados em locais representativos de cada unidade mapeada para identificar o tipo de solo dominante (ou tipos, no caso de unidades compostas; por exemplo, uma associação de solos), nomeados por um nome local (por exemplo, de séries ou “unidades” de solo) e/ou de acordo com um sistema de classificação nacional ou internacional.


Para saber mais

Capa de 19 lições de Pedologia.

Escrito a partir da necessidade do autor de compartilhar seus anos de aprendizado, 19 lições de Pedologia traz o conteúdo necessário para compreender a formação dos solos e fazer com que as pessoas, em posse desse conhecimento, possam usá-lo a favor da proteção da natureza.