Melhoramento de Plantas para alimentar o mundo: menos área para produzir mais

Em entrevista exclusiva para o Comunitexto, Roberto Fritsche Neto fala sobre como o melhoramento de plantas ajuda no aumento de produtividade

O melhoramento de plantas é uma atividade milenar; os primeiros agricultores começaram a guardar as sementes das melhores lavouras para o plantio de novas safras. Hoje, ela é uma importante ferramenta na promoção da segurança alimentar global, pois somos quase 8 bilhões de habitantes que precisam comer.

Com ele, é possível aumentar a produtividade das áreas já utilizadas para a agricultura sem a necessidade de expansão dessas áreas. Também é possível promover espécies resistentes às doenças, às condições climáticas adversas e melhorar a capacidade nutricional. O melhoramento ajuda na sustentabilidade porque cultivares melhoradas precisam de menos defensivos agrícolas.

O livro Melhoramento de plantas, da Editora Oficina de Textos,  está na 8ª edição, sempre atualizando as informações e acrescentado as novas pesquisas e tecnologias para trazer cada vez mais conteúdo e informações relevantes que ajudam no aumento de produtividade. 

Capa de Melhoramento de plantas.

A obra, escrita por Aluízio Borém, Glauco V. Miranda e Roberto Fritsche Neto, aborda os principais temas relacionados ao melhoramento prático, com destaque para planejamento do programa de melhoramento, sistemas reprodutivos, variabilidade genética, adaptabilidade, seleção, cultivares, hibridação e métodos de melhoramento. Também apresenta um pouco da história e o trabalho de seleção de sementes feito lá no passado pelos agricultores às mais novas técnicas com o uso da biotecnologia.

Nós conversamos com Roberto Fritsche Neto, que explica um pouco mais do que encontramos nesse livro que atende a professores, alunos de graduação, mestrado, doutorado e profissionais da área!

Comunitexto (CT): Vamos falar um pouco sobre como surgiu a ideia de fazer esse livro. Qual foi o objetivo?

Roberto Fritsche Neto (RFN): O livro surgiu em 1998, com o Professor Borém, e algumas edições depois foram convidados colaboradores para que outros pesquisadores pudessem oferecer novas informações em relação ao melhoramento de plantas de fecundação cruzada. Mais recentemente, fui convidado a participar do livro. O objetivo é sempre atualizar a obra e contribuir para o trabalho.

CT: O livro trata desde a seleção de sementes até o uso da biotecnologia?

RFN: O livro vem evoluindo ao longo do tempo, ele começa com os princípios básicos, o estudo da diversidade genética, de como ela é organizada e como ela surge. O livro vem entrando um pouco na parte de biotecnologia, melhoramento integrado com biotecnologia que é muito importante em todo o contexto do trabalho. 

CT: O melhoramento de plantas ajuda no aumento de produtividade?

RFN: Existem duas formas de aumentar a produtividade, uma delas é na questão de manejo, proporcionar um ambiente de cultivo melhor, e a outra forma é ter variedades melhoradas. O livro busca atuar nesta área. Pelo menos 50% do aumento da produtividade ocorrem por questões genéticas e 50% por questões ambientais.

CT: É também um importante mecanismo que ajuda na sustentabilidade?    

RFN: O trabalho está muito relacionado à parte sustentável porque, com o melhoramento, podemos por exemplo utilizar menos defensivos e produzir em áreas menores. Menor demanda por recursos naturais, menos adubo, menos água, adensar mais plantas por área, o que significa menos área para produzir mais. Produzir mais com menos recursos ambientais. 

CT: A capacidade de resistir às doenças e insetos é um dos principais objetivos? 

RFN: Resistência a doenças e insetos e a qualidade são fatores muito importantes para ajudar na produção e o melhoramento de planta é fundamental para isso. Além de ajudar na produtividade, o uso de variedades resistentes pode ser mais fácil e barato.

CT: Também é possível melhorar a qualidade nutricional e garantir mais alimentos para um mundo que não para de crescer?

RFN: Existem várias iniciativas globais que trabalham em vários segmentos diferentes. Existem programas ao redor do mundo tentando aumentar, por exemplo, o teor de zinco no arroz, o teor de carotenoides no milho. Outro fator importante é a composição do carboidrato nos grãos, como no próprio arroz, para promover mais saúde e mais nutrição aos seres humanos.

CT: Um dos destaques é o planejamento do programa de melhoramento?

RFN: O planejamento é muito estratégico e a maioria dos livros da área praticamente não toca nesse assunto porque há vários aspectos envolvidos: clima, recursos humanos, financeiros e sucessão de gerações de melhoramento. Também é preciso levar em conta onde vai ser feita a avaliação dos materiais. Exemplo: vou avaliar no cerrado? Na região do pampa? Quantas localidades diferentes serão trabalhadas para avaliar as possíveis variações de clima e solo. 

O livro busca abordar como seria um programa real em termos de tamanhos reais, que seria a capacidade de avaliações de plantas que podem ser feitas durante um período de tempo (geralmente um ano),  para que os novos melhoristas consigam ter um certo planejamento e bater a realidade com a teoria. Ex: posso avaliar 80 mil plantas por ano, quantos locais? quantas pessoas envolvidas? Quais os custos desse trabalho? Quantas combinações genéticas vão ser feitas por ano?

CT: O livro também trata da variabilidade genética? Seleção?

RFN: A variabilidade é um dos primeiros tópicos, ela é essencial, é o combustível do melhoramento genético. Se não existir variação tudo é igual, e se tudo for igual não tem o que selecionar. Nós precisamos que haja variabilidade. Existem várias formas de buscar essa variabilidade: podemos ir nos centros de diversidade onde as espécies provavelmente surgiram, podemos maximizar ou criar essa variabilidade, mas sem ela não existe melhoramento genético, não existe como buscar algo melhor. Por isso que esse é um dos primeiros pontos do livro, como entender, como manejá-la, para que a gente tenha recursos, tenha substrato para conseguir depois desenvolver métodos de seleção que são apresentados. 

CT: Esta é a oitava edição, e isso mostra o quanto o tema é importante e precisa ser atualizado sempre.

RFN: Eu quando fui aluno li esse livro, e depois no mestrado, no doutorado. Eu cresci dentro da área lendo esse livro e tenho privilégio de fazer parte dele. Todo mundo que trabalha com melhoramento genético com certeza leu esse livro. São várias edições sempre sendo atualizadas com informações para que possamos produzir mais e melhor. 

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