Trajetória da Agricultura de Precisão

Através do livro “Agricultura de precisão”, temos uma discussão importante quanto à definição e o trajeto da Agricultura de Precisão.

No primeiro estágio da trajetória da Agricultura de Precisão (AP), seu significado era muito vinculado às ferramentas de georreferen­ciamento de dados nas lavouras, o que gerou um entendimento incorreto, devido o uso de siglas como GPS. Desta forma, houve um progresso no ponto de vista da gestão das lavouras, que agora consegue ponderar e tratar devidamente a variabilidade intrínseca destas.

Devido o aumento da comunidade do segmento agrícola que transita no meio conhecido como Tecnologia da Informação (TI), têm surgido interpretações variadas quanto à sobreposição ou às semelhanças entre TI e AP.

Todavia, segundo a análise do artigo “Information Technology and Agriculture: Global Challenges and Opportunities”, publicado em 2011, K.C. Ting, Tarek Abdelzaher, Andrew Alleyne e Luis Rodriguez, é afirmado que a TI na agricultura é utilizada de formas bastante diferentes quando comparado com a AP, desde as etapas pré-lavoura até as pós-lavoura.

A AP, da forma como é tratada hoje, pode ser compreendida como a aplicação de TI durante a condução das lavouras, por isso a comuni­dade voltada à aplicação de TI na agricultura na sua forma mais ampla nem sempre está identificada com o que se trata dentro da AP.

A origem do termo “agricultura de precisão” está fundamentada no fato de que as lavouras não são uniformes no espaço nem no tempo. Assim, foi necessário o desenvolvimento de estratégias para gerenciar os problemas advindos da desuniformidade das lavouras com variados níveis de comple­xidade.

Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão, órgão consultivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, adota uma definição para AP que estabelece:

um conjunto de ferramentas e tecnologias aplicadas para per­mitir um sistema de gerenciamento agrícola baseado na varia­bilidade espacial e temporal da unidade produtiva, visando ao aumento de retorno econômico e à redução do impacto ao ambiente.
(Brasil, 2014, p. 6).

Dentre as variadas definições para AP, em 2009, através do artigo “Lessons from nearly 20 years of Precision Agriculture research, development, and adoption as a guide to its appropriate application”, Rob Bramley incorporou um pequeno componente a respeito: Ele sugere que AP é um conjunto de tecnologias que promovem melhorias na gestão dos sistemas de produção com base no reconhecimento de que o “potencial de resposta” das lavouras pode variar consideravelmente, mesmo em pequenas distâncias, da ordem de poucos metros.

O conceito por trás do termo “potencial de resposta” abre possibilidades mais amplas de estratégias gerenciais. A gestão das intervenções agronômi­cas pode ser fundamentada em algumas vertentes. Uma delas é aumentar a produtividade, com possível incremento de custos, dentro dos limites do conceito econômico da lucratividade.

Outra estratégia é a redução de custos, com diminuição do uso de insumos por meio da sua racionalização guiada pela variabilidade espacial. No entanto, outro conceito ainda pouco explorado na sua forma mais correta, que são as unidades de gestão diferenciada, pode permitir a exploração do potencial de resposta além dos padrões usuais.

Tal estratégia muito provavelmente exige a aplicação de maior quantidade de insumos em algumas dessas unidades e, em outras, a sua redução a um nível mínimo de manutenção das baixas produtividades, sempre visando ao melhor retorno econômico dentro do entorno de uma lavoura ou talhão.

O termo “agricultura de precisão” pode até ser contestado. A palavra “pre­cisão” pretende se referir ao grau de aproximação da grandeza mensurada ao valor verdadeiro, porém, o termo correto para tal é “exatidão”.

“Precisão”, na verdade, refere-se à repetitividade na mensuração de uma dada grandeza, logo, o termo apresenta uma distorção na origem. O correto seria a referência à agricultura com exatidão maior do que aquela com que já é praticada.

Para se atingir maior exatidão, é necessário utilizar recursos para aumentar a resolução em todo o processo, desde o diagnóstico, com mais dados, até as intervenções, com auxílio de automação.

Uso de Sistemas de Navegação Global por Satélites (GNSS)

A questão de incluir ou não o uso de Sistemas de Navegação Global por Satélites (GNSS) e suas derivações, associadas aos sistemas guia e de direcionamento automatizado de veículos agrícolas como parte da AP, divide opiniões.

AP está associada ao conceito de agricultura com uso intensivo de informação, portanto, o uso de sistema de direção automática e controle de tráfego, por exemplo, não exige e nem está associado ao uso intensivo de informação especializada do solo ou da cultura.

Por outro lado, Rob Bramley defende a ideia de que tais práticas e tecnologias podem ser consideradas dentro do contexto da AP, na medida em que permitem ao usuário a aproximação com o uso de recursos como GNSS, diminuindo a distância destes aos conceitos de mapeamento da produtividade e gerenciamento localizado das lavouras.

Certamente não haverá consenso entre comunidades, nem mesmo dentro de uma dada comunidade, sobre os detalhes no entorno do que se entende por AP, e as discussões podem levar a novos entendimentos.

Considera-se aqui que AP é acima de tudo uma abordagem, e não uma disciplina com conteúdo estanque. O que hoje é visto como fato novo (a “maior precisão” na agricultura), um dia será algo corriqueiro e inserido nos processos, técnicas, rotinas e equipamentos. Continuará sendo importante, mas estará incorporado aos sistemas de produção e envolverá novos desafios a serem trabalhados.

Geoestatística na agricultura de precisão

A Geoestatística é uma disciplina, uma ferramenta fantástica. Ela surgiu na década de 60 e na sua origem nada teve a ver com a agricultura. Apenas na década de 80 a comunidade descobriu a geoestatística como ferramenta para modelar a variabilidade nas lavouras.

Hoje, ela é uma ferramenta intensamente utilizada, seja para a espacialização, o mapa ou o diagnóstico de intervenção, tem ou deveria ter geoestatística por trás, Então, a comunidade agrícola é um forte usuário de geoestatística para fazer bons mapas, para fazer bons diagnósticos, e portanto, fazer boas intervenções acertadas.

Saiba mais sobre o livro que aborda o percurso da agricultura de precisão

Parte desta matéria foi retirada do livro “Agricultura de precisão” de José Paulo Molin, Lucas Rios do Amaral e André Colaço.

Capa do livro "Agricultura de Precisão", publicado em 2015 pela editora Oficina de Textos

Capa do livro “Agricultura de Precisão”, publicado em 2015 pela editora Oficina de Textos

A obra discute como reduzir custos aplicando corretivos e fertilizantes em taxas variáveis, de acordo com as necessidades do solo, além de explicar como aumentar a produtividade explorando o potencial de resposta das lavouras, e como utilizar sistemas de direção automática para facilitar a gestão do maquinário ─ enfim, apresenta as principais aplicações práticas dessa perspectiva tão atual da agricultura.

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