APO aprimora trabalho arquitetônico

Debatida pelo meio acadêmico, a avaliação pós-ocupação (APO) é um sistema de análise de obras desenvolvido pelas áreas de engenharia e arquitetura. Seu diferencial está no fato de tomar como referencial de estudo o ciclo de vida completo da edificação, em vez de focar somente em seu processo de construção.

De acordo com Sheila Walbe Ornstein, esse tipo de avaliação, apesar de pouco divulgada, começa a ser implementada nos trabalhos profissionais devido ao direito dos consumidores finais de usar livremente as construções. Essa apropriação humana da arquitetura permite melhores trabalhos no futuro.

Foto preta e branca de Sheila Walbe Ornstein, mulher branca, meia idade, olhos e cabelos escuros, de camisa branca listrada, sorrindo levemente para a câmera.

Sheila Walbe Ornstein, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU) e diretora do Museu Paulista

A professora ressalta que não é possível realizar bons projetos de arquitetura sem conhecer o comportamento do ser humano na escala real. “O contato com a obra em uso aguça o espírito autocrítico do profissional”, afirma ela. Muitas vezes, os usuários utilizam as obras arquitetônicas de maneira inesperada pelo projetista.

Essa liberdade deve ser vista com bons olhos pelos arquitetos, pois permite que acertos e erros nos rascunhos iniciais sejam melhor visíveis, o que leva a ensinamentos para futuras obras. “O bom arquiteto acompanha toda a evolução do edifício que idealizou”, diz Sheila, “desde o partido arquitetônico até o conhecimento do desempenho da edificação no decorrer do uso“.

Esquema gráfico de avaliação pós-ocupação (APO), com uma planta baixa e várias observações sobre cada cômodo escritas.

Avaliação pós-ocupação: morar em conjuntos habitacionais verticais hoje em Uberlândia
(Fonte: Arquitetura e Urbanismo de Gabriela Buiatti)

Para que se leve em consideração a experiência do consumidor, utiliza-se a técnica da APO. Ela consiste em um cruzamento entre as opiniões dos usuários com a de especialistas avaliadores. No caso dos usuários, sua satisfação com a obra finalizada é medida através de entrevistasgrupos focais e questionários. No caso dos especialistas, a parte técnica é analisada por checklists.

O diagnóstico final é, então, balizado com as normas de desempenho da área. As conclusões criam dados que o arquiteto utiliza para avaliar quais pontos negativos do projeto podem ser sanados a curto ou longo prazo, além de desenvolver um banco de informações para novos projetos.

A pesquisadora ressalta que a avaliação é capaz de ser utilizada em qualquer tipo de edificação, como escolas ou hospitais. “Os procedimentos gerais da APO não mudam totalmente se o perfil da edificação mudar. Porém, ela não é uma receita”, ela afirma. Deve-se reconhecer, em cada caso, o comportamento dos usuários do edifício e o seu uso. Adaptações nos questionários e nas abordagens aos ocupantes são feitas: entrevistar alguém em sua casa é diferente de entrevistar a mesma pessoa em seu local de trabalho.

qualidade de vida nas cidades também passa pela avaliação pós-ocupacional. Sheila diz que necessidades e expectativas dos usuários, que sempre buscam vidas melhores, são refletidas no desempenho físico das edificações. “Os seres humanos dependem também da qualidade dos abrigos que os arquitetos concebem para viverem com bem estar”.

Fonte: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, USP. Por Daniel Morbi (daniel.morbi@gmail.com). Ano 46, número 117.


Tudo a ver

Os estudos de especialistas nacionais e internacionais em cima do tema foram compilados no livro Qualidade ambiental na habitação: avaliação pós-ocupação, co-organizado por Sheila. “O centro da questão da obra é o desempenho e a qualidade dos empreendimentos habitacionais, sejam aqueles de caráter social, sejam aqueles antigos a serem requalificados”, ela afirma. O livro pretende auxiliar tanto profissionais e pesquisadores, quanto alunos de arquitetura.

Capa de Qualidade ambiental na habitação.