Entrevista com Sheila Ornstein sobre a reforma do Museu Paulista

Em agosto de 2008, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) junto com o Conselho do Patrimônio Histórico de São Paulo (Conpresp) aprovaram o projeto para ampliar e efetuar a reforma do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, conhecido como Museu do Ipiranga.

Foto do Museu Paulista antes da reforma

Museu do Ipiranga
(Fonte: Acervo do Museu do Ipiranga. Fotógrafo: Hélio Nobre)

A obra, que começou no final do ano passado, tem a intenção de recuperar os danos estruturais causados pela ação do tempo e ampliar os atuais 6,3 mil metros quadrados para 18 mil com a construção de uma galeria subterrânea e um prédio anexo. Com isso, a área para exposições terá o dobro do tamanho e poderá abrigar coleções que estão guardadas no acervo do museu.

O prédio original também será restaurado e ganhará espaços que permitem a acessibilidade às obras, além de dois elevadores panorâmicos com caixas de aço e vidro, que serão instalados na parte de trás das torres laterais. Esses elevadores darão acesso ao terceiro pavimento e ao mirante, que atualmente está desativado.

Para falar um pouco mais sobre as mudanças do museu, conversamos com a doutora em Arquitetura Sheila Walbe Ornstein, atual diretora do Museu e responsável pelas obras. Confira abaixo!

Comunitexto (CT): Em que fase se encontra o projeto?

Sheila Walbe Ornstein (SWO): Estamos neste momento priorizando as propostas, especificações e instruções técnicas para proteção e restauro das fachadas e ornamentos deste edifício histórico e centenário. Também temos intenção de dar continuidade ao projeto de acessibilidade, já em curso no que tange à realização de diagnósticos sobre a possibilidade de execução de torres externas contemplando elevadores, escadas e outros itens de apoio e de infraestrutura.

CT: Quais foram as principais preocupações na hora de elaborar o projeto para a reforma do museu?

SWO: Trata-se de um edifício projetado e construído com as especificações técnicas correntes no século XIX, mas cuja expertise é pouco conhecida. Ou seja, são relativamente poucas as empresas e os profissionais nas áreas de arquitetura de restauro e de engenharia civil no País capazes de atuar em projetos e obras de modernização desse edifício-monumento/museu, preservando as suas características originais.

O edifício histórico do Museu Paulista é tombado pelo Conpresp, Condephaat e o Iphan e devemos seguir as determinações dessas entidades no que tange às intervenções possíveis. Buscam-se, assim, elementos arquitetônicos e construtivos capazes de levar o MP ao século XXI e, particularmente, às comemorações do bicentenário da Independência (2022) com base nas melhores técnicas de restauro.

Somam-se a isso as exigências atuais em termos de segurança, habitabilidade, acessibilidade necessárias e capazes de oferecer ao público visitante – atualmente cerca de 350 mil ano – exposições renovadas, áreas de apoio como estar e banheiros acessíveis, sem perder de vista as suas características ecléticas e de museu de história.

CT: A questão da acessibilidade também está inclusa no projeto? O que será feito?

SWO: Sim, está inclusa e é uma de nossas prioridades. Há previsão de ajustes dos níveis das rampas de acesso, banheiros acessíveis no subsolo, instalação de maquete tátil no saguão, explicativos acessíveis em cada exposição através de mapas táteis e Braille e também elevadores e escadas em torres externas. Sobre este último item, elevadores e escadas em torres externas, a serem interligadas com o edifício histórico, deverão ser feitos estudos geológicos, sobre as fundações e estruturais para verificação da possibilidade de interligação desses novos elementos com o edifício do Museu Paulista.

CT: O museu terá uma galeria subterrânea e outro prédio anexo; como será a estrutura desses espaços?

SWO: Está previsto um eixo de expansão do Museu Paulista no próprio Parque da Independência, integrando o pavilhão do Corpo de Bombeiros e o atual Museu de Zoologia, porém tal expansão ainda depende de tratativas administrativas não finalizadas. Por outro lado, é importante destacar que a expansão é pré-requisito para o abrigo com condições adequadas das reservas técnicas (acervos) e dos laboratórios de restauro de alto nível de que o MP dispõe. Com a expansão, ainda seria viável ampliar o número de exposições e suas alternâncias.

CT: As galerias também terão projetos para valorizar a iluminação natural? Como será feita essa parte?

SWO: É sempre desejável num Museu aproveitar a iluminação natural nos laboratórios de restauro e até mesmo nas áreas expositivas, desde que a arquitetura possibilite o controle dessa iluminação natural para preservação dos objetos expostos. Novos edifícios situados no eixo de expansão, independentemente do seu partido arquitetônico, devem contemplar estudos aprofundados sobre as condições de conforto ambiental associadas às pessoas usuárias e aos objetos – muitos deles seculares e extremamente sensíveis às alterações de temperatura e luz, por exemplo, os tecidos –, que devem ser expostos e, ao mesmo tempo, preservados.

CT: A senhora atua na área de avaliação pós-ocupação. O Museu passará por esse procedimento após a conclusão das reformas?

SWO: O Museu acaba de passar por uma avaliação pós-ocupação (APO) realizada sob a minha coordenação, da professora Rosaria Ono e uma equipe de pós-graduandos. É muito desejável que a APO seja adotada no Museu Paulista como um procedimento de aferição continuada da qualidade das intervenções implementadas. A equipe do MP já está familiarizada com esse conjunto de métodos e técnicas de avaliação de desempenho em uso e poderá adotá-lo como prática cotidiana, mesmo após o término de meu mandato como diretora, daqui a três anos.

Sobre o tema de avaliação pós ocupação, confira aqui a entrevista com a professor Sheila e as demais organizadoras do livro Avaliação pós-ocupação, disponível na livraria Ofitexto!

Veja abaixo outras fotos do Acervo do Museu Paulista, por Hélio Nobre*.

Museu do Ipiranga à luz do sol.

(Fonte: Acervo do Museu do Ipiranga. Fotógrafo: Hélio Nobre)

Foto do interior do Museu Paulista, com quadros e objetos dispostos numa sala.

(Fonte: Acervo do Museu do Ipiranga. Fotógrafo: Hélio Nobre)

Foto de um corredor do Museu Paulista, com várias colunas brancas e uma estátua ao fundo.

(Fonte: Acervo do Museu do Ipiranga. Fotógrafo: Hélio Nobre)

*Estas fotos foram gentilmente cedidas para o uso exclusivo nesta matéria. A reprodução é proibida e sujeita às sanções legais.


Tudo a ver

Se você gostou desta entrevista, vai gostar da obra Arquitetura sob o olhar do usuário. Com apresentação de Sheila Walbe Ornstein, diretora do Museu Paulista da USP, o livro aborda o processo de projeto e a importância da Arquitetura centrada no usuário.

Capa de Arquitetura sob o olhar do usuário

Escrito por Theo J. M. van der Voordt, Doutor em Segurança no Ambiente Construído e Professor-Associado do Departamento de Mercado Imobiliário e Promoção Habitacional da Faculdade de Arquitetura da Universidade Tecnológica de Delft (Países Baixos), e Herman B. R. van Wegen, que trabalhou como pesquisador e professor na Faculdade de Arquitetura da Universidade Tecnológica de Delft antes de se aposentar em 2003, o livro é repleto de exemplos práticos e ilustrações explicativas.

Os assuntos que podem ser vistos nos capítulos da obra vão desde o programa de necessidades até a avaliação pós-ocupação, apresentando ainda uma perspectiva história da relação entre forma e função em diferentes abordagens arquitetônicas, com exemplos internacionais e brasileiros.