Ilhas de calor: no verão, quem aguenta?

Há tempos se observa que as áreas urbanas e suburbanas apresentam ilhas de calor, onde o ar e as temperaturas da superfície são mais quentes do que nas áreas rurais.

Conforme as cidades vão se expandindo, ilhas de calor também tendem a ficarem mais intensas. São Paulo é um ótimo exemplo e, com o verão deste ano a todo vapor, é nítida a concentração de calor em algumas áreas da cidade, piorando ainda mais a sensação de desconforto.

Isso acontece porque muitos materiais de construção comum absorvem e retêm mais calor do sol do que os materiais naturais. A maior parte dos materiais de construção é impermeável e estanque e, por essa razão, não há umidade disponível para a dissipação do ar.

Por que devemos nos preocupar com as ilhas de calor?

Segundo o livro Ilhas de calor: como mitigar zonas de calor em áreas urbanas, de Lisa Gartland, esse fenômeno não causa apenas pequenos desconfortos adicionais; suas temperaturas mais elevadas, a falta de sombra e seu papel no aumento da poluição do ar têm sérios efeitos sobre a mortalidade e saúde da população.

Elas desperdiçam dinheiro ao aumentar a demanda de energia, ao despender maiores esforços para construção e manutenção de infraestruturas, para gerenciar enchentes e para a disposição de resíduos. Além disso, as técnicas construtivas insustentáveis que promovem as ilhas de calor tendem a não ser atraentes, chamativas ou saudáveis para a flora e fauna urbanas.

Benefícios da mitigação das ilhas de calor

Os benefícios da mitigação das ilhas de calor são muitos. A utilização de coberturas e pavimentos frescos, árvores e vegetação impacta diretamente proprietários e usuários dos espaços onde esses recursos são implantados.

A experiência prática brasileira da mitigação das ilhas de calor é ainda fraca. A maioria de sua produção é voltada mais ao estudo e desenvolvimento de modelos teóricos; além do mais, a inexistência de intervenções efetivas amplifica ainda mais o problema. Porém, recentemente um estudo da Universidade de São Paulo (USP) mostra que o uso do telhado verde pode ser um instrumento importante para reduzir os impactos de ilhas de calor formadas principalmente em grandes centros urbanos.

Foto de edifício com telhado verde, ou seja, um grande jardim no telhado para reduzir o impacto de ilhas de calor.,

(Fonte: Prefeitura de São Paulo/Arcoweb)

O geógrafo Humberto Catuzzo comparou dois prédios da capital paulista, o Conde Matarazzo, sede da prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá, e o Mercantil/Finasa, na Rua Líbero Badaró, cuja laje é de concreto. Como o primeiro tem uma área verde e outro, laje de concreto, o geógrafo verificou que a temperatura no topo do edifício com jardim ficou até 5,3 °C mais baixa. Também houve ganho de 15,7% em relação à umidade relativa do ar.

De acordo com Catuzzo, a ilha de calor existente no centro de São Paulo eleva em até 10 °C a temperatura na região durante o verão! “O concreto, o pavimento, a grande circulação de veículos fazem com que essa área tenha um aquecimento maior em relação a outras”, ele disse. O uso de telhados ecológicos solucionaria também o problema da falta de espaços no centro que pudessem abrigar áreas verdes.

Gráfico da temperatura aparente da superfície em São Paulo em 1999.

Guarulhos é outro exemplo de mitigação realizado na Grande São Paulo. Um programa municipal – baseado em uma pesquisa da UnG (Universidade de Guarulhos) – busca reduzir o efeito da concentração urbana na temperatura da superfície plantando árvores em regiões estratégicas. Além disso, busca incentivar a implantação de bosques e telhados verdes, como os construídos pelo arquiteto Carlos Guerra.


Para saber mais

Adquira o livro Ilhas de calor: como mitigar zonas de calor em áreas urbanas, que, de forma acessível, com exemplos práticos e conceitos teóricos claros, apresenta soluções de simples realização para reduzir os impactos das ilhas de calor. As comunidades podem pôr em prática as diversas formas de mitigar os efeitos das ilhas de calor e ter maior qualidade de vida.

Capa de Ilhas de calor.

Para ler o estudo da Universidade de São Paulo, clique aqui!