O acidente na estação Pinheiros do metrô de São Paulo

Por Nivaldo Chiossi

Tenho laços de afeto com o metrô de São Paulo por ter trabalhado nos anos 1960 no projeto e na construção das linhas norte-sul e leste-oeste. E, felizmente, sem ter presenciado acidentes, apesar de a linha norte-sul atravessar a rua Boa Vista com dois túneis superpostos, tangenciando as fundações profundas dos prédios, e de os túneis cruzarem o vale do Anhangabaú com sedimentos arenosos, pois lá corria um riacho, hoje canalizado. Em 2012, o metrô de São Paulo, com mais de 40 anos de operação, possuía uma extensão de 74,3 km, distribuída em cinco linhas e ligada por 64 estações. Compõem o sistema as linhas:

1] Azul: Jabaquara-Tucuruvi.

2] Verde: Vila Prudente-Vila Madalena.

3] Vermelha: Corinthians/Itaquera-Palmeiras/Barra Funda.

4] Amarela: Luz-Butantã.

5] Lilás: Capão Redondo-Largo Treze.

Em 12 de janeiro de 2007, a população de São Paulo foi surpreendida por um desabamento repentino e assustador ocorrido no canteiro de obras da estação Pinheiros da Linha 4-Amarela. O acidente abriu uma cratera no metrô com cerca de 80 m de diâmetro e vários metros de profundidade, arrastando quatro caminhões, um micro‑ônibus, dois carros e matando sete pessoas.

Foto aérea da cratera formada no acidente nas obras da Estação Pinheiros de metrô em 2007, com um andaime amarelo na beirada, quase escorregando para dentro.
Imagem da cratera que abriu nas obras da Estação Pinheiros em 2007

Imagem da cratera que se abriu nas obras da Estação Pinheiros em 2007 (Fonte: Clayton de Souza/AE)

Como consequência, afetou ainda a estrutura das casas vizinhas pelo surgimento de trincas, obrigando seus moradores a abandonar o local. Surpreendentemente atribuíram-se, de início, como causas do desastre o excesso de chuva e a existência de um solo dito difícil no local, uma vez que aquela área está junto às planícies de argilas com faixas orgânicas e areias.

Posteriormente, alertou-se também sobre a possibilidade de o desabamento decorrer do método construtivo empregado, conhecido como New Austrian Tunnelling Method (NATM) ou túnel mineiro, que utiliza perfuratrizes para escavação. Comentou-se que outro método que poderia ter sido usado seria o da couraça (shield), também conhecido como tatuzão, que foi utilizado intensamente na Linha Azul (norte-sul).

Segundo o engenheiro Ricardo Telles, esse método é mais seguro e dez vezes mais rápido, apesar de, obviamente, ser mais caro. O presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Vahan Agopyan, descartou a fatalidade de acidente nessas obras do metrô, afirmando ter sido um somatório de erros. Contudo, dois representantes do consórcio construtor dizem não acreditar que tenha havido algo de errado.

É importante registrar também que os túneis da estação Pinheiros, escavados de dois pontos distantes que deveriam se encontrar, tiveram um erro de 80 cm de diferença nesse encontro. Finalmente, em 21 de março de 2008 o Ministério Público de São Paulo afirmou ter indícios de que as obras da futura estação Pinheiros foram realizadas em desacordo com o projeto original, citando a inversão do sentido de escavação do túnel sob a rua Capri, a diferença entre os registros dos diários de obra e os encontrados pelos técnicos durante a investigação, e uma inexplicável aceleração do ritmo da construção. A construção estava a cargo de cinco das maiores construtoras do Brasil, segundo o Jornal da Tarde de 20 de março de 2008.

Fica a pergunta: o que realmente causou a tragédia, que resultou em mortes, residências afetadas e atraso na obra? Acerca das condições geológicas da área do acidente no metrô, informações indicavam: 1 m de solo orgânico; 6 m, em média, de solo arenoso, seguido de mais de 30 m de solo residual, solo de alteração, rocha alterada e rocha sã do tipo gnaisse.


Para saber mais

Este artigo foi retirado do livro Geologia de Engenharia de Nivaldo Chiossi. A obra apresenta os principais conceitos geológicos, como formação de rochas e solos, cartografia geotécnica, investigação de subsolo e condições ambientais, e aprofunda temas contemporâneos com capítulos específicos sobre geologia de engenharia aplicada em projetos de barragens, túneis, metrôs, obras lineares, mineração e petróleo. Nesta edição foram acrescentadas muitas novas informações, e o livro praticamente pouco tem em comum com a primeira versão, lançada há mais de 30 anos.

Capa de Geologia de engenharia.

Para mais detalhes sobre essa edição, confira a entrevista do autor ao Comunitexto aqui!