Entrevista com o geólogo Nivaldo José Chiossi

O geólogo e professor Nivaldo José Chiossi, autor do livro Destruindo o planeta Terra e ex-presidente da ABGE, deu uma entrevista para a Oficina de Textos e contou tudo sobre o seu histórico profissional (que inclui o projeto do metrô de São Paulo), livros lançados e a obra Geologia de Engenharia.

Foto do professor Nivaldo Chiossi, de blusa social, assinando um livro e sorrindo para a câmera.

Prof. Nivaldo José Chiossi

Confira abaixo:

Comunitexto (CT): O senhor trabalhou no Comitê de Estudos Energéticos da Região Centro-Sul de São Paulo. Como foi essa experiência e como ela contribuiu para suas pesquisas?

Nivaldo Chiossi: (NC) Foi uma experiência muito interessante e muito profunda, porque eu era praticamente recém-saído da faculdade. Fui trabalhar com uma equipe canadense, onde precisei usar muito o inglês aprendido na faculdade. E eles trouxeram métodos avançados que não existiam no Brasil para realizar um inventário de uma bacia hidrográfica, visando estudar todo o potencial energético dela. Foram trabalhos avançados que, inclusive, me deram a oportunidade de realizar um estágio no Canadá, ou seja, tive um início de profissão muito produtivo.

CT: Como foi participar do projeto do metrô?

NC: Foi outra experiência inédita, porque não existia metrô no Brasil. Tínhamos apenas algumas ideias de profissionais europeus. Então, eu novamente tive a sorte, por falar inglês, de tornar possível a comunicação com os técnicos da Alemanha. Eles trouxeram toda a tecnologia de lá, possibilitando que eu e outros técnicos aprendêssemos como construir o metrô, quais eram esses métodos. Fiz uma parte inicial, mas super importante, que era a investigação do subsolo para definir o tipo de solo, de rochas e outras características que existiam ao longo da primeira linha do metrô. Nós acompanhamos a sondagem, a análise das amostras e traçamos um perfil geológico desses quilômetros que iam do Jabaquara até Santana, definindo que tipo de rochas o metrô iria atravessar e se existia água no subsolo que poderia dificultar as escavações.

Além disso, eu sempre fiz no metrô o que fiz em outros empregos, publicando tudo o que era traduzido do alemão sobre a experiência de construir o metrô, passando informações para os mais novos e consolidando uma contribuição para os trabalhos técnicos. Por sinal, eu fui o primeiro geólogo a trabalhar no projeto do metrô.

CT: E quais foram as mudanças que o senhor notou desde o início desse projeto do metrô até os dias de hoje?

NC: Hoje estou fora da companhia do metrô, mas sei que eles ainda utilizam os métodos que foram utilizados na década de 1960, com algumas variações apenas. Naquela época, passamos por alguns trechos difíceis de serem construídos, como os túneis que saem paralelos da estação da Sé. Eles tiveram de se sobrepor, ficando um em cima do outro, porque o trecho daquela região da Rua Boa Vista era muito estreito e os prédios tinham estacas profundas onde o túnel não poderia tocá-las ou teríamos problemas. No Anhangabaú, existia um antigo rio e, por isso, muita água no subsolo, necessitando de um trabalho especial de rebaixamento do nível de água. Acredito que hoje eles devem ter as mesmas precauções que tivemos naquela época.

Mapa do metrô de São Paulo.

Mapa do metrô de São Paulo (Fonte: CPTM)

CT: Essas análises geológicas que você apontou já ajudaram a detectar algum aspecto problemático em determinado projeto e evitar um problema antes que ele ocorresse?

NC: Nos projetos em que participei, sempre houve aqueles cuidados extremos. Se fosse uma construção de barragem, tomávamos todas as precauções para evitar eventuais fraturas, falhas no subsolo, rochas solúveis que fossem trazer problemas futuros para uma barragem.
No metrô também, o que não faltou foram ensaios de materiais do solo e do subsolo para dar essa segurança na escavação da construção. É fundamental que, na Engenharia, os estudos geológicos sejam cuidadosamente aplicados.

CT: O senhor lançou o primeiro livro de Geologia Aplicada à Engenharia e agora irá lançar outro com a mesma temática pela Oficina de Textos. O que mudou da primeira obra para a atual?

NC: Ocorreu de forma casual no último Congresso de Geologia de Engenharia o convite da Oficina de Textos, por meio da Dra. Shoshana Signer, para uma eventual revisão de um livro que foi escrito há 20 anos. No início, tive certas dúvidas se poderia atender a este pedido, mas decidi que deveria escrever o livro porque, em 25 anos, foi lançado apenas um livro semelhante, escrito pelo professor Maciel Filho do Rio Grande do Sul. Existe uma deficiência tão grande de contribuições de livros sobre este assunto que decidi elaborá-lo e pretendo terminá-lo em breve.

Foram incluídos alguns capítulos novos que na época não eram temas tão profundos, como a parte sobre meio ambiente, que foi inserida para mostrar aos estudantes de engenharia os aspectos ambientais que existem não só no entorno das obras, mas também de um modo geral na Terra. Depois, por sugestão da própria editora, foi feito um capítulo referente às obras lineares, ou seja, ferrovias, rodovias, dutos, linhas de transmissão etc. Incluímos também, na parte de interpretação de imagens e confecção de mapas, itens como sensoriamento remoto, já que no livro anterior havia somente fotografias aéreas daquela época. Essas novas imagens e fotos têm o intuito de enriquecer os textos e, entre elas, estão fotografias que registrei há 20 anos no metrô e que estão em excelente qualidade para mostrar a situação das obras naquela época.

CT: Meio ambiente é um tema que tem sido muito comentado. O senhor abordou isso em seu livro Destruindo o planeta Terra e também em sua nova obra que será lançada em breve. O que inspirou o senhor a escrever sobre isso?

NC: Eu tive muita experiência na área ambiental por ter trabalhado na Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo paulista, e convivi através da própria geologia com muitos problemas ambientais que eram provocados pela mineração. Por exemplo, em São Paulo, nós tínhamos mais de 300 crateras devidas à extração de minerais não metálicos. E essas crateras se transformavam em lagoas que depois acabavam provocando acidentes e mortes. Depois, a própria cidade tem tanta poluição do solo, subsolo, das águas superficiais e rios completamente degradados. E também a poluição do ar e sonora. Tudo isso foi se acumulando.

Na década de 1980, levantei, por meio da Revista Brasileira de Tecnologia em Brasília, o primeiro apanhado de impactos ambientais e sociais. Por isso, lancei o livro Destruindo o planeta Terra, que foi direcionado a pessoas que não são da área, com uma linguagem fácil, muitas fotografias, pretendendo mostrar esses aspectos como se a pessoa estivesse realizando uma viagem, sem aprofundar nos casos. Quando as pessoas tomam o conhecimento do problema, podem buscar, consultar e se aprofundar, se tiverem interesse.

Nessa revisão do livro Geologia de Engenharia, a parte ambiental foi incluída também porque a própria associação se chama Associação Brasileira de Geologia e Ambiental, e eu resolvi abordar esse aspecto porque o engenheiro precisa conhecer tais problemas, sejam eles causados por desastres naturais ou ação do homem. Muitas vezes, a ação do homem é pior do que os desastres naturais.

Capa de Geologia de engenharia.

CT: O que tem sido feito para resolver esses problemas?

NC: É um aspecto muito polêmico porque nós temos apenas ações pontuais onde são desenvolvidas técnicas e procedimentos que localmente melhoram certos problemas ambientais. Mas, como nós vivemos globalmente, o problema fica muito difícil de ser minorado e até solucionado, porque existem outras questões envolvidas, como fome, falta de água e cada vez mais problemas climáticos vistos no dia a dia, como a seca e os incêndios que assolam a Europa, os Estados Unidos, a Austrália. Também acontecem queimadas, nas quais o Brasil, especificamente o Estado do Mato Grosso, é recordista. Essas queimadas prejudicam diversas partes da natureza, como o solo, ar etc. 

CT: Quais seriam as dicas que o senhor pode dar para quem estiver ingressando nessa área agora, justamente em relação aos temas abordados em seus livros?

NC: Os profissionais da área têm tido uma atuação muito boa, porque tentam convencer e influenciar os governos municipais, estaduais e federais a adotar medidas preventivas para evitar a repetição de problemas, por exemplo, de desabamentos catastróficos e enchentes, e isso tem sido feito lentamente com a organização de equipes de sistemas de controle. As equipes técnicas estão se desenvolvendo e se esforçando na solução desses problemas. Felizmente, não temos problemas maiores como vulcões, tsunamis e terremotos, então não precisamos nos preocupar tanto com esses fatores. 


Tudo a ver

A obra Destruindo o planeta Terra está disponível em nossa livraria técnica.

Capa de Destruindo o planeta Terra.

Nesta obra, o autor apresenta, de forma objetiva, relevantes aspectos sobre o tema proposto e oferece ao leitor uma viagem fantástica pela história de nosso planeta. Partindo de sua origem até os dias atuais, são enfocados a destruição e os impactos ambientais e sociais, provocados tanto por fenômenos naturais como pela ação do Homem.

As mudanças e transformações sofridas pelo planeta Terra ao longo do tempo geológico têm atingido situações extremas, como extinções em massa, variações do nível do mar, quedas de meteoritos, terremotos, vulcões e tsunamis. Mais recentemente, o homem vem deixando marcas de suas ações, poluindo o ar, os recursos hídricos, o solo e subsolo, e devastando as florestas. Sua maldade e ambição levaram a guerras, conflitos e atentados, além de ocasionar problemas sociais gravíssimos, como miséria, fome, crises educacionais, de moradia e insegurança pública. Compre aqui!