A Oficina de Textos entrevistou a engenheira Denise Gerscovich, autora de Estabilidade de taludes, que nos contou um pouco sobre instabilidade nas encostas, estudos de estabilidade, além de sua experiência profissional no assunto. Confira!
Comunitexto (CT): Porque você quis publicar especificamente o livro Estabilidade de taludes?
Denise Gerscovich (DG): Porque existe uma carência sobre o assunto em português, para os profissionais, identificada em conversas com colegas.
CT: O que você destacaria como ponto forte do livro?
DG: O livro procura ser didático. Apresenta uma visão geral dos movimentos de massa e o “passo a passo” para a realização de estudos de estabilidade. É feita uma revisão dos conceitos fundamentais para realização do estudo e são apresentados os métodos mais usuais adotados na prática. Houve uma preocupação em incluir métodos simplificados (soluções gráficas) que, em determinadas situações, podem ser úteis para uma análise preliminar.
A segunda edição de Estabilidade de taludes, com exercícios resolvidos, está disponível em nossa livraria técnica!
CT: Conte-nos sobre sua experiência na área.
DG: Minhas atividades de pesquisa, iniciadas em 1980, versaram sobre problemas de estabilidade.
Mais recentemente, tenho orientado trabalhos de pesquisa na área de previsão do comportamento de depósitos moles com vistas à definição de parâmetros mediante a realização de ensaios não convencionais, como CRS (constant rate consolidation) ou ensaio de velocidade de deformação controlada.
Outra vertente de investigação consiste no uso de simulação numérica para previsão do comportamento do aterro quanto à evolução das deformações com o tempo, confrontada com as medidas de campo: dois aterros na baixada fluminense e um na baixada de Jacarepaguá.
CT: Você mora no Rio de Janeiro, onde há tantas encostas sujeitas a instabilidades. Conte-nos que participação você tem tido?
DG: Desde 1987 tenho trabalhado no estudo dos mecanismos de instabilização de encostas na cidade do Rio de Janeiro. Particularmente, nos chama atenção o fato de haver vários períodos chuvosos e, em determinadas situações, a instabilização ocorre em época não crítica. Um exemplo dessa situação ocorreu em 1988, quando a cidade sofreu mais de 100 eventos de escorregamento no mês de fevereiro e, em novembro, sob um índice pluviométrico mais baixo, houve um grande escorregamento em área nobre da cidade. A encosta do Morro dos Cabritos, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, deslizou, causando o cisalhamento de um pilar do prédio anexo. Felizmente, só houve danos materiais.
CT: Como você interpreta esse fenômeno?
DG: A partir desse caso, venho investigando a infiltração da chuva como agente deflagrador de escorregamentos em solos não saturados. Essa abordagem historicamente tem sido evitada, em face das dificuldades de se incorporar uma terceira fase no estudo; em outras palavras, o padrão usualmente adotado na prática de engenharia é assumir saturação completa.
A questão da infiltração já foi bem entendida pela população do Rio e absorvida pelos órgãos de defesa civil. Isso é evidenciado pelos programas de gestão de risco que vêm sendo implantados nas comunidades residentes em encostas. A partir de um nível de chuva limite, um sinal sonoro é acionado e a população evacua o local, dirigindo-se para abrigos preestabelecidos.
CT: Para finalizar, como se estabiliza a encosta?
DG: Existem várias técnicas de estabilização, que envolve desde ações de baixo custo até a implantação de estruturas de concreto.
Eu tenho trabalhado em estruturas não convencionais de estabilização tipo uso de pneus velhos, descartáveis, como materiais de construção de muro gravidade ou como elemento de reforço; grampos para reforço de taludes naturais e geogrelhas.
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