Lançamento do livro Geologia de Engenharia, de Nivaldo Chiossi

Nivaldo Chiossi está lançando este mês a nova edição de seu livro Geologia de Engenharia. A obra vem para preencher, mais uma vez, a lacuna no mercado editorial técnico brasileiro para a área de Engenharia Civil voltada à Geologia.

O livro apresenta os principais conceitos geológicos, como formação de rochas e solos, cartografia geotécnica, investigação de subsolo e condições ambientais, e aprofunda temas contemporâneos com capítulos específicos sobre Geologia de Engenharia aplicada em projetos de barragens, túneis, metrôs, obras lineares, mineração e petróleo.

Capa de Geologia de engenharia.

Nesta edição foram acrescentadas novas informações, e o livro praticamente pouco tem em comum com a primeira versão, lançada há mais de 30 anos.

Para falar mais sobre o desafio e contar um pouco sobre a Geologia de Engenharia, convidamos o autor Nivaldo Chiossi para uma entrevista exclusiva. Confira!

Comunitexto (CT): Qual a importância da Geologia de Engenharia atualmente? Existe uma demanda por esse tipo de profissional?

Nivaldo Chiossi (NC): Hoje há uma forte procura por este profissional, pois a Geologia de Engenharia está crescendo muito, por sua importância e por servir de apoio para as diversas obras em execução em todo o País.

CT: O senhor foi responsável pela implantação da disciplina Geologia Aplicada à Engenharia na Escola de Engenharia de Lins, curso pioneiro no País. Fale mais sobre esse momento e sua importância para a consolidação desta profissão.

NC: Quando se formaram as primeiras turmas de Geologia no País e em São Paulo, foi aberto um mundo novo para essa profissão, porque a necessidade de um geólogo era grande. Casualmente fui convidado para lecionar na Escola de Engenharia de Lins e foi um grande desafio, pois não existiam apostilas, livros e não havia experiência sobre o ensino desta disciplina. Encarei o desafio, e das apostilas surgiu o primeiro livro de Geologia aplicada à Engenharia no Brasil.

CT: Qual o contexto que o País apresentava para que a Geologia de Engenharia se concretizasse enfim como uma profissão importante para o desenvolvimento do Brasil?

NC: Quando se formaram os primeiros geólogos no Brasil, o País estava passando por uma transformação. Na época, o presidente Juscelino Kubitschek, com seu plano de metas, prometia que o País avançaria “50 anos em 5” e, logicamente, para isso se concretizar seriam necessárias as mais diferentes obras, como rodovias, barragens e túneis. Esse fato exigiu que os novos geólogos se adaptassem as necessidades que a Engenharia demandava deles.

CT: O senhor foi presidente da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental (ABGE) por dois mandatos. Como foi essa experiência, e o que foi desenvolvido nesse período? Houve conquistas para a área?

NC: Eu participei por dois mandatos como presidente da ABGE e tive uma experiência fantástica, porque nós nos envolvemos com associações das mais diversas áreas, como engenharia, mineração e meio ambiente, e outras como Associação dos Municípios de São Paulo, sindicatos de engenheiros e Clube de Engenharia para divulgar a Geologia de Engenharia e fazer um intercâmbio. Houve muita conquista nessa área, principalmente porque os geólogos começaram a entender a Engenharia, e os engenheiros, a Geologia.

CT: O senhor está lançando pela editora Oficina de Textos a nova edição do livro Geologia de Engenharia, sendo que a primeira edição foi há mais de 30 anos. O que mudou da primeira obra para a atual?

NC: Eu gostaria de destacar que lamentavelmente não foram publicadas outras obras de Geologia de Engenharia com exceção do livro do Professor Carlos Leite Maciel Filho, da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Ao aceitar o honroso convite para esta nova edição, fizemos uma revisão geral e acrescentamos capítulos importantíssimos para os estudantes de Engenharia e para os engenheiros, sobre obras lineares que envolvem estradas, ferrovias, canais e linha de transmissão. Também foram adicionados itens e capítulos sobre sensoriamento remoto, petróleo e meio ambiente, completando-se assim o objetivo deste livro.

CT: Qual é a importância dessa obra no cenário atual para o ensino e a propagação da Geologia de Engenharia?

NC: Eu acredito que é muito grande, uma vez que não existem livros disponíveis nessa área. Acredito que a Engenharia Civil poderá ter informações de registros muito importantes por meio desta obra.

CT: Quais são os maiores destaques do livro?

NC: O livro é interessante porque forma um conjunto harmônico nos assuntos abordados e, segundo o meu ponto de vista, ideal para que o estudante se informe do que a Geologia de Engenharia pode lhe ser útil. O livro tem a visão de não tentar transformar o estudante de Engenharia Civil em geólogo, apenas ensinar e orientar.

CT: Um dos grandes problemas no ensino da Geologia de Engenharia para estudantes de engenharia, engenheiros e não geólogos sempre foi desenvolver e encontrar uma linguagem fácil, acessível e compreensível para esse público. O livro consegue suprir essa lacuna alinhando mais o conhecimento da Geologia às necessidades da linguagem da Engenharia?

NC: Desde a primeira edição há 30 anos, o livro, por apresentar uma linguagem fácil, é acessível não somente aos estudantes de Engenharia, mas até quase para leigos. No livro eu resumo, por exemplo, as rochas com nomes difíceis, dezenas delas, em apenas 16 grupos nos quais o estudante não precisa saber o nome exato. Se ele disser “parece um granito”, já é uma informação interessante, pois com ela é possível posteriormente detalhar a rocha; ou seja, o importante é que já está sinalizado que é um granito.

CT: No capítulo sobre a Geologia de Engenharia em barragens, o senhor escreveu que uma parte considerável dos insucessos de muitas barragens e reservatórios registrados na literatura é provocada mais por causas geológicas e pouco conhecimento sobre o assunto por engenheiros do que por erros de Engenharia propriamente ditos. O senhor poderia comentar mais sobre o assunto e a importância do conhecimento da Geologia aplicada à Engenharia?

NC: Muitos dos acidentes e insucessos em obras como barragens ocorreram porque na época não se tinha um conhecimento adequado de como a Geologia de Engenharia poderia auxiliar no projeto e na obra. Outro fator também era que muitas vezes não foram feitas as investigações do local da obra e seus arredores com a necessária exigência e, eventualmente, as áreas desfavoráveis não puderam ser detectadas. Hoje, houve um aprimoramento das investigações diretas e indiretas no subsolo, o que dá maior segurança para esse tipo de projeto.

CT: Neste lançamento, o senhor incluiu um capítulo somente dedicado ao tema do meio ambiente. Qual a importância deste capítulo nos dias atuais para os engenheiros?

NC: O capítulo foi incluído por alguns motivos. A ABGE, inclusive, que congrega a Geologia de Engenharia, também acrescentou em sua sigla “e Ambiental” devido à crescente importância da preocupação com a conservação do meio ambiente. Um capítulo deste tema é de extrema necessidade, pois nós ainda presenciamos desastres como escorregamentos de terra que soterram e matam centenas e até milhares de pessoas, vide exemplos em Santa Catarina, Teresópolis. Além disso, qualquer obra, como barragens, ferrovias, rodovias, ocupação urbana, entre outras, exige licenciamento ambiental, que deve ser feito no maior rigor possível, justamente para evitar que o projeto cause danos ambientais.

CT: Qual sua opinião sobre a implantação obrigatória de um plano de gestão geológico-geotécnico na aprovação de empreendimentos?

NC: O grande problema do Brasil é a ausência de planejamento. As obras já apresentam um roteiro que se tem usado em suas etapas, como projeto básico, investigação preliminar geológico-geotécnica, projeto detalhado, investigação detalhada, e assim por diante, que em tese atende ao que uma obra necessita. Acredito que o planejamento precisa ser bem feito e melhor aprimorado.

CT: Por fim, gostaria de acrescentar algum comentário relevante sobre o lançamento desta importante obra?

NC: A importância que eu pessoalmente destaco nessa nova edição é que foi um orgulho ter recebido o convite da Editora Oficina de Textos e um esforço considerável de minha parte para cumpri-lo, mas que me trouxe uma grande satisfação por ter concluído este grande trabalho com a equipe técnica da Editora, e por acreditar que, da mesma forma que no passado, a obra vai auxiliar, orientar e provocar reflexões nos estudantes de Engenharia Civil e até mesmo em engenheiros.

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