Restauração florestal com SIG

A crescente demanda populacional por alimentos e bens de consumo tem levado à expansão de áreas agrícolas e pecuaristas sem o devido planejamento ambiental, resultando na invasão e no desmate de áreas de preservação.

Para conter esses avanços, foram desenvolvidas algumas ações, como a criação de leis ambientais que oferecem programas de adequações e certificações das áreas produtivas, o acesso a linhas de crédito especiais para empresas que desenvolvem atividades ambientalmente responsáveis, entre outras. Apesar disso, é necessária uma fiscalização frequente para verificar se as propriedades rurais se adequaram às exigências legais e se existem áreas degradadas por ações ilegais.

A avaliação se inicia com um processo de mapeamento por interpretação visual, visando identificar as principais formas de utilização daquele espaço e os tipos de solo presentes na área. Também se leva em consideração as particularidades de cada local, como o histórico de uso obtido por meio de séries temporais de imagens, aptidão agrícola, declividade e outras características edáficas e informações obtidas dos proprietários.

Com todos os detalhes em mãos, os pesquisadores podem dar início ao planejamento das ações para reflorestar os espaços. A intenção da elaboração desse programa é adotar estratégias que possibilitem maiores ganhos ambientais nas fases do processo de restauração, que podem durar anos ou décadas.

Existem diversas formas de obter informações sobre um ecossistema. Uma delas é a adoção de métricas que avaliam a co­nectividade de uma paisagem e a contribuição de cada fragmento do ambiente para a manutenção ou incremento da conectividade. Segundo a obra Conservação da biodiversidade com SIG, para analisar essas métricas, é comum o uso da teoria dos grafos para o cálculo de medidas de disponibilidade de hábitat como indicadores de conectividade da paisagem.

Você sabia?

O grafo é um conjunto de nós e ligações que conectam dois nós distintos. Por exemplo, ao ser utilizado para representar uma paisagem, mostra os fragmentos de hábitat cercados de áreas que não são hábitats. As ligações entre esses dois fragmentos geram uma rede de elementos que interagem entre si, ou seja, animais que habitam determinado espaço podem transitar para outros espaços diferentes do próprio hábitat. Esses fragmentos unidos permitem avaliar as características ecológicas das espécies para, por meio do cálculo de uma série de índices, identificar desde a área funcionalmente conectada até fragmentos‑chave para a manutenção das conexões na paisagem.

Confira abaixo uma imagem de grafo retirada do livro Conservação da biodiversidade com SIG:

Teoria dos grafos: imagem das ligações entre fragmentos da vegetação.

Restauração florestal na Mata Atlântica com SIG

Um exemplo bem sucedido de uso de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) está nos programas de restauração e preservação da Mata Atlântica. Os critérios técnicos para a definição das áreas potenciais para a restauração florestal foram definidos no uso e na ocupação atual, e no his­tórico da paisagem, com base na integração de dados espaciais e realização dessas análises.

De acordo com a obra Conservação da biodiversidade com SIG, o Grupo Técnico de Informação e Conheci­mento (GT Info) mapeou e estabeleceu os seguintes critérios com o uso de SIG:

  1. Áreas ocupadas por pastagens ou sem co­bertura vegetal nativa e sob proteção legal, como as Áreas de Preservação Perma­nente ou Reservas Legais definidas pelo Código Florestal (Lei Federal nº 4.771/65) e pela Resolução do Conama nº 303/2002.
  2. Áreas com baixa aptidão agrícola em função das características do relevo (declividade superior a 15°) e atualmente cobertas por pastagens ou nos estágios iniciais de rege­neração natural.
  3. Áreas-alvo de programas e projetos de res­tauração em andamento.

Esses critérios, por sua vez, fornecem informa­ções importantes para quem for executar os projetos, com estimativas e localizações exatas de potenciais áreas de restauração florestal com SIG.


Para saber mais

Se você se interessa pelo uso de SIG no reflorestamento e na aplicação desses sistemas na conservação de outros recursos naturais, leia Conservação da biodiversidade com SIG!

Capa de Conservação da Biodiversidade com SIG, livro que também aborda a restauração florestal com essa tecnologia.

O livro aborda diferentes projetos de conservação da biodiversidade, desenvolvimento sustentável e restauração florestal com SIG, como o planejamento espacial de áreas protegidas, modelagens de alterações no uso e na cobertura do solo, e o desenvolvimento de planos de manejo para espécies ameaçadas que se apoiam em Sistemas de Informações Geográficas (SIG).

Conservação da biodiversidade com SIG é uma referência sobre os estudos e práticas mais atuais na aplicação de SIG em projetos de conservação, e atenderá a pesquisadores, conservacionistas e usuários de SIG em organizações não governamentais, universidades e centros de pesquisa, assim como empreendedores ambientais, líderes comunitários e populações indígenas.

Sobre os organizadores

Adriana Paese é bióloga, doutora em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e preside o capítulo brasileiro da The Society for Conservation GIS (SCGIS).

Alexandre Uezu é biólogo e doutor em Ecologia pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), pesquisador do Instituto de Pesquisas Ecológicas e professor da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (ESCAS).

Maria Lúcia Lorini é bióloga, doutora em Geografia (Planejamento e Gestão Ambiental/Geoecologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e colaboradora da International Association for Landscape Ecology – Brazilian Chapter.

André Cunha é biólogo e doutor em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente leciona no Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB).


Você sabe a diferença entre restauração e regeneração natural? Clique aqui para saber mais!