A professora Tatiana Kuplich (Inpe) comenta sobre sensoriamento, os tipos de monitoramento para vegetação e o desafio em ‘ler’ o cerrado
Falamos com a coautora do livro Sensoriamento remoto da vegetação sobre qual o tipo de sensor mais adequado para o estudo de grandes vegetações, diferenças entre monitoramento, além das complicações de monitorar o cerrado. Confira a entrevista abaixo!
Desmatamento em Rondônia visto pelo satélite Landsat (Fonte: Google Earth)
Comunitexto (CT): No sensoriamento remoto para vegetação, existe algum tipo de sensor que seja mais adequado?
Tatiana Kuplich (TK): Depende do que estamos monitorando, e durante muitos anos não tivemos a disponibilidade de dados de radar. Acho que por isso as pessoas acabavam usando menos. Daria para dizer que hoje nós temos sensores mais variados e que eles são bem adequados.
Atualmente, temos sensores com diferentes bandas bem adequados. Vamos pensar em dado gratuito. Os satélites da agência espacial europeia, o Sentinel-1, que é uma constelação de satélites e com dados gratuitos, daria para dizer que eles são adequados. Segundo pessoas que estão usando Sentinel-1, eles são adequados para a maior parte das aplicações para vegetação.
CT: Há alguma diferença entre monitoramento de desflorestamento, degradação e corte seletivo quanto às aplicações? Mesmos processos, objetivos diferentes.
TK: A parte de degradação está bastante em voga e dá para dizer que não existem conclusões ainda fechadas, como dizer qual sensor é melhor para esse tipo de monitoramento. Mas dá para dizer que essa parte depende do nosso alvo, do tipo de floresta e do grau de degradação. Para desmatamento, o Sentinel-1 seria adequado sim; já para a parte de degradação, depende do quão degradado está o nosso dossel. Se é uma degradação pequena, provavelmente não vai ser possível analisar com radar nem com os dados gratuitos do Sentinel-1.
O dossel é o topo da floresta, a parte superior da copa das árvores. Essa imagem que o radar está vendo, mas dependendo do radar teremos informações apenas do topo e, na medida que vamos aumentando o comprimento de onda que o aparelho utiliza, ele vai penetrando mais e mais do nosso dossel vegetal.
Tem duas áreas que estão bastante em voga: degradação florestal e mapeamento de floresta inundada. Os radares são muito bons para isso.
Satélite Sentinel-1A lançado pela União Europeia (Fonte: American Live Wire)
CT: Durante pesquisas feitas para a produção dessa entrevista, eu vi que o Cerrado é um dos biomas desafiadores para ser lido via sensoriamento. Essa afirmação procede? Atualmente existe algum tipo de bioma que ainda não consegue ser decifrado? Por quê?
TK: Procede sim. Apesar de eu nunca ter trabalhado muito com esse bioma, no Cerrado é muito difícil a gente discriminar os seus tipos. Há o campo, as formações campestres, as mais herbáceas, mais arbustivas e também as vegetações mais altas.
O Cerradão tem praticamente a mesma fisionomia de uma floresta, então é complicado discriminar as tipologias vegetais dentro dele. Elas são muito semelhantes e, dentro delas, por exemplo, dentro da parte campestre do Cerrado, nós temos pelo menos três tipos de tipologias. Acaba falando-se sempre Cerrado, Savana e a parte de Campo; as subtipologias são bem difíceis de discriminar.
Para saber mais
Veja em nossa livraria técnica a obra Sensoriamento remoto da vegetação (2ª edição), onde são atualizados os principais conceitos relacionados à área, como comportamento espectral das plantas; aparência da vegetação em imagens multiespectrais e técnicas de processamento de imagens, entre outros. Há também um novo capítulo sobre dados de radar no estudo da vegetação.