Trazidas da Índia para o Brasil no século XVII, as jaqueiras (Artocarpus heterophyllus) adaptaram-se muito bem ao clima quente e úmido do litoral atlântico, produzindo frutos de até 10 kg que são bastante apreciados não apenas pelos seres humanos, mas também por pequenos mamíferos típicos da mata atlântica, como quatis e micos-estrela. Até aí nenhuma grande novidade.
Ocorre que a forma extremamente agressiva com que essa espécie se dissemina, gerando uma enorme densidade de novos indivíduos ao redor do indivíduo-mãe, tem sido responsável por um grande desequilíbrio nas populações de espécies nativas da mata atlântica.
As folhas largas e duras da jaqueira bloqueiam a entrada de luz para os pisos inferiores da floresta, reduzindo a possibilidade de germinação de outras espécies. Além disso, seu fruto é tão atrativo para os animais disseminadores de sementes e sua abundância tão grande que os animais passam a se alimentar exclusivamente de jaca, deixando de disseminar as sementes de outras espécies, o que leva à diminuição da densidade e até mesmo à extinção local de algumas delas, com o consequente empobrecimento do ecossistema.
Como se não bastasse, esses animais, ao se proliferarem de forma mais acelerada em razão da abundância de alimentos, também são responsáveis pela predação de ovos de pássaros, promovendo a diminuição da avifauna nos locais onde as jaqueiras mais se desenvolvem, como no caso da Ilha Grande e do Parque Nacional da Tijuca, ambos no Estado do Rio de Janeiro.
Por causa desses desequilíbrios, os ecologistas deflagraram uma verdadeira guerra contra as jaqueiras, e no Parque Nacional da Tijuca, nos últimos cinco anos, 55.662 mudas foram arrancadas, 1.921 árvores de pequeno porte foram cortadas e outras 881 árvores adultas foram aneladas, o que leva à sua morte sem causar prejuízo às árvores ao redor.
Fonte: Guerra contra as jaqueiras. Veja Rio, 16 maio 2007.
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