Dez regras de ouro para o reflorestamento: Pedro Brancalion fala à Agência Fapesp

Conheça as regras de ouro para o reflorestamento segundo o autor Pedro Brancalion!

No último mês de março, Pedro Brancalion, professor do Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP) e autor dos livros Restauração florestal e Sementes e mudas: guia para a propagação de árvores brasileiras, falou à Agência Fapesp sobre a restauração de ecossistemas a partir das dez regras de ouro para o reflorestamento, a fim de possibilitar a concretização de ações eficazes. 

Segundo o autor, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que o período entre 2021 e 2030 será a década da restauração de ecossistemas, e diversas nações, como parte do Acordo Climático de Paris, aceitaram o desafio de realizar ações para que seja possível promover a regeneração das áreas degradadas. 

Dez regras de ouro para o reflorestamento

Brancalion fala sobre dez regras de ouro para o reflorestamento, a fim de que as práticas sejam aplicadas da maneira mais adequada, de forma a serem realmente efetivas e trazerem benefícios. Essas regras, segundo ele, são:

1. Proteja as florestas existentes primeiro

De acordo com o professor, não faz sentido reflorestar uma área cujos níveis de degradação não são tão altos enquanto existem áreas que apresentam perda de floresta nativa de qualidade. 

2. Trabalhe conjuntamente

Brancalion afirma que o reflorestamento é uma atividade conjunta, ou seja, o trabalho deve ser realizado com a atuação de todas as partes interessadas, tais como as comunidades locais, os produtores rurais e as comunidades indígenas, por exemplo. Segundo ele, essa não é uma tarefa que deve ser efetuada “de cima para baixo”.

3. Maximize a recuperação da biodiversidade para atender a vários objetivos

Para o professor, a fim de alcançar vários objetivos no reflorestamento, é essencial que a biodiversidade seja adicionada a esse sistema, uma vez que somente por meio dela é possível obter benefícios como a polinização agrícola, o sequestro de carbono, a recuperação do solo, entre outros. 

4. Selecione áreas apropriadas para o reflorestamento

Antes de dar início ao processo de reflorestamento, é necessário fazer um estudo preliminar a respeito das áreas disponíveis para efetuar tal ação, a fim de que se saiba em quais delas será possível obter os benefícios ambientais almejados. 

5. Use a regeneração natural sempre que possível

regeneração natural consiste no reflorestamento feito pela própria natureza. Nesta, os pássaros, o vento e os insetos são os únicos responsáveis pela dispersão de sementes, e a colonização das áreas protegidas é feita de forma espontânea por espécies localmente adaptadas. Segundo o professor, esse método é mais barato e mais eficiente do que a regeneração por meio do plantio de sementes pelos seres humanos.

6. Plante espécies que favoreçam a biodiversidade

Por meio disso, é possível que outras plantas e animais vivam adequadamente em determinado ecossistema. Brancalion ainda explica que o plantio de determinada espécie de árvore que produz frutos que atraem diversos tipos de aves contribui para o aumento e a manutenção da biodiversidade. 

7. Use materiais vegetais resilientes, com proveniência apropriada e variabilidade genética

Segundo o professor, essa é uma atitude necessária, uma vez que, invariavelmente, ocorrerão mudanças climáticas no local que passa pelo processo de reflorestamento e, por isso, os materiais precisam ser resistentes e se adaptar a qualquer intempérie.

8. Planeje a infraestrutura necessária para o sucesso das ações

Segundo Brancalion, isso deve ser feito com antecedência, já que um projeto de reflorestamento não é algo que pode ser feito “do nada”. É necessário que haja um planejamento adequado, que envolva a participação de uma rede de coletores de sementes, viveiros locais produtores de mudas dessas sementes, empresas comprometidas com o cuidado dos plantios. 

9. Aprenda a fazer utilizando uma abordagem de gestão adaptativa

Brancalion afirma que o gestor de um projeto de reflorestamento deve aprender com a prática, e não partir da ideia de que já sabe de tudo. 

10. Garanta a sustentabilidade econômica do projeto

Um planejamento adequado faz com que o reflorestamento se sustente posteriormente e gere, por fim, muitos benefícios aos ecossistemas restaurados. 

O vídeo na íntegra pode ser visto neste link.

Livro aborda diretrizes para a aplicação adequada das ações de reflorestamento

Lançado em 2015 pela Ofitexto, Restauração florestal se propõe a ser um manual de reflorestamento, fornecendo as diretrizes conceituais e práticas para a aplicação adequada de ações que contribuam para a regeneração de florestas em áreas degradadas, sobretudo pela ação humana. 

Capa de Restauração Florestal, livro do qual as regras de ouro para o reflorestamento foram retiradas.

O livro traz exemplos reais de ações de restauração de florestas que obtiveram efeitos positivos e duradouros em uma edição completamente ilustrada e em cores. De autoria de Pedro Brancalion, Ricardo Ribeiro Rodrigues e Sergius Gandolfi, a obra se destina a estudantes das áreas de Engenharia Florestal e Ambiental, além de profissionais que já atuam nesse campo. 

Restauração florestal está disponível na livraria técnica da Ofitexto. O leitor pode adquirir as versões impressa e digital, o pacote com ambas ou, ainda, os capítulos avulsos.