Entrevista exclusiva com o autor Francisco M. Salzano

Em maio de 2018, falamos com o Prof. Francisco Salzano, naquela que, infelizmente, seria nossa última conversa com ele. O autor acabou falecendo no fim do mês passado

Foi uma carreira brilhante! Francisco M. Salzano é sem dúvida um nome que ficará marcado como um dos mais importantes na ciência brasileira. Pioneiro no estudo da genética humana no Brasil, conversamos com ele no mês de maio sobre um assunto polêmico: clonagem. Foi nosso último bate papo com o autor, que veio a falecer no dia 28 de setembro.

Ilustração de uma dupla hélice de DNA, com um filamento vermelho e um azul se entrelaçando.

(Fonte: ideal.es)

Comunitexto (CT): O primeiro mamífero clonado foi a ovelha Dolly. Na época, o experimento ganhou as manchetes do mundo e gerou polêmica. Muita coisa mudou em relação à clonagem de mamíferos hoje?

Francisco M. Salzano (FMS): Sem dúvida, muita coisa mudou desde a clonagem da Dolly. As técnicas são muito mais eficientes, mas o processo ainda é complicado, com dificuldades em diferentes etapas do mesmo.

CT: Segundo o livro DNA, e eu com isso?, uma bezerra chamada Vitória foi o primeiro clone brasileiro. Depois dela, vieram outros casos emblemáticos?

FMS: Embora a ênfase na obtenção de organismos inteiros transgênicos tenha diminuído (não é mais novidade), foram registrados muitos outros casos bem-sucedidos. O camundongo é um dos animais mais utilizados na investigação científica, tendo sido obtidos muitos organismos a partir de clones com material genético diferente associado (transgênicos); os bovinos também têm sido objeto de clonagem, assim como porcos e até um gato. No entanto, com exceção de outra bezerra, esses processos não foram desenvolvidos no Brasil.

CT: Quais são as regulamentações existentes em relação à clonagem no Brasil? E em outros países?

FMS: A clonagem reprodutiva é proibida no Brasil, mas não a clonagem terapêutica, inclusive a que utiliza células embrionárias estocadas em clínicas de fertilidade (ver a resposta ao item anterior). Quanto à regulamentação em outros países, ela é bastante variada. Em todos, no entanto, o processo de patenteamento é complicado, demorado e caro; e não basta ter uma patente nacional (com exceção, claro, das dos EUA), são necessários mecanismos eficientes de seu reconhecimento em nível internacional.

CT: A revista Nature publicou que laboratórios patentearam alguns métodos de clonagem (veja o artigo aqui).

FMS: É verdade. Os métodos diferem quanto a detalhes da técnica, bem como quanto à espécie de doador.

CT: Isso também acontece no Brasil? O que difere um método de outro?

FMS: Não existe patente brasileira para esse processo.

Imagem de Francisco Salzano, homem branco, com cabelo marrom curto penteado para trás, bigode marrom, sorrindo para algum ponto à direita superior da imagem. Ele está de casaco azul.

Professor Francisco Salzano


Para saber mais

Descubra todo o potencial que o DNA carrega em DNA, e eu com isso?. E não é só em termos de herança genética. Por meio de técnicas cada vez mais sofisticadas, como a clonagem e a transgenia, já se sabe que a correta manipulação do DNA traz incontáveis melhorias ao nosso cotidiano, muitas das quais já desfrutamos. Alimentos barateados, já que animais e vegetais geneticamente modificados ou clonados têm maior produtividade.

Capa de DNA: e eu com isso?