Conheça as principais atividades humanas que geram impactos nas bacias hidrográficas de água doce
O aumento populacional e a distribuição irregular entre habitação humana e recursos hídricos criam pressões cada vez maiores para o armazenamento de água em muitas partes do planeta. A crise da água em São Paulo é um exemplo atual desse desequilíbrio.
Nesse contexto, o gerenciamento dos reservatórios artificiais, da qualidade de sua água e das bacias hidrográficas na qual se inserem essas represas e o conhecimento dos impactos humanos neles são de fundamental importância para o desenvolvimento sustentado a longo prazo.
Conhecer e entender quais são as principais atividades humanas de maior impacto sobre as bacias hidrográficas de água doce é de fundamental importância para a conservação da qualidade e quantidade da água de represas, além de ajudar nas discussões sociais sobre o futuro de nossas bacias. Entre os principais impactos estão:
Desflorestamento: a remoção das florestas ao longo dos cursos dos rios acarreta diversas alterações indesejáveis nos processos ecológicos, tais como a redução de materiais alóctonos disponíveis para os rios e a perda de sua capacidade de atuar como um “sistema filtrante” de nutrientes e materiais em suspensão.
O desaparecimento das florestas naturais depriva o curso de água de animais selvagens, alimentos e abrigo. Assim sendo, perde-se sua função de zona de transição (e absorção) entre o sistema terrestre e o aquático. O aumento do material particulado nas águas é outra consequência negativa.
Mineração: a mineração de ouro pela filtragem dos sedimentos do fundo dos rios causa um grande impacto negativo. Devido ao fato de o ouro ser amalgamado com mercúrio, nas proximidades do rio, ocorre a contaminação dos organismos componentes da cadeia alimentar presente no rio.
A mineração de areia e de bauxita são outras atividades que interrompem processos ecológicos. A do carvão e do ferro também causam efeitos diretos e indiretos sobre os ecossistemas de águas doce.
Construção de ferrovias e estradas de rodagem: essas obras causam grandes alterações em várzeas, baixadas e pequenos cursos de água. Os impactos imediatos ocorrem durante e logo após a construção.
O incremento da erosão acarreta uma maior eutrofização devido às maiores taxas de nutrientes somadas à menor disponibilidade de luz para algas e para plantas maiores durante os períodos de maior turbidez.
Introdução de espécies exóticas: a introdução de espécies, tanto aquáticas como terrestres, causam alterações na cadeia alimentar. Por exemplo, a introdução intencional ou acidental de peixes predatórios frequentemente levam à perda de espécies locais valiosas. No nordeste do Brasil, a introdução do Eucalyptus acarretou alterações na composição química dos lagos.
Irrigação: é a principal causa de salinização extensiva, principalmente nas regiões semiáridas.
Projetos com irrigação excessiva normalmente resultam em grandes desastres, tais como o projeto soviético para algodão, que transformou o mar de Aral em uma sujeira, com barcos de pesca enferrujados abandonados em uma areia salgada. São enormes os problemas locais de saúde.
Mar de Aral, Uzbequistão (Fonte: Pixabay)
Construção de canais e retificação de rios: as interferências tecnológicas de grande porte comumente correlatas à construção dessas obras têm consequências negativas sobre a hidrologia regional, sobre a disponibilidade dos recursos hídricos e sobre sua distribuição biológica.
A perspectiva de que se pode obter proteção contra cheias pela construção de barragens cada vez mais altas, ironicamente, conduz a maiores danos por inundações. As águas, em vez de serem armazenadas dentro do território pelas várzeas, meandros e florestas, fluem livremente para a parte baixa dos rios.
Esgoto e outros dejetos: dejetos não tratados oriundos de fontes pontuais ou difusas causam diversas alterações na cadeia alimentar dos rios, baixios e várzeas. Descargas de esgoto urbano, sem tratamento ou somente com tratamento primário ou secundário (sem remoção de nutrientes), causam sérios problemas de eutrofização.
Vala de esgoto em Ponta Grossa (RS) (Fonte: Wikimedia Commons)
Descargas de dejetos agroindustriais, fruto de seu processamento, fertilizantes, herbicidas, pesticidas e resíduos de agricultura, deterioram a qualidade da água. Em transferências ou retiradas de água, induzindo a uma menor recarga das águas subterrâneas: a retirada excessiva de água leva ao esvaziamento dos reservatórios, fato que se relaciona com a piora da qualidade da água.
Transferências hídricas, especialmente para longas distâncias, podem ser perigosas devido a consequências inesperadas para a área e para a fauna aquática. A redução na recarga das águas subterrâneas faz com que sequem poços e vegetação e ocorram perdas agrícolas.
Desenvolvimento urbano: os esgotos das cidades causam uma poluição per capita maior do que aquela produzida em áreas rurais providas de latrinas ou tanques sépticos. O mesmo se aplica aos detritos sólidos.
Agricultura e agroindústria: uma estocagem imprópria de fertilizantes, produtos agroquímicos ou esterco são a principal causa da poluição difusa. Fertilizantes aplicados de maneira excessiva não são incorporados pelas plantas, sendo lavados pelas chuvas.
A erosão aumenta por práticas agrícolas inadequadas e acarreta grande assoreamento nos reservatórios. A perda de capacidade de retenção hídrica do solo também é importante. Também pode ocorrer uma salinização de terras irrigadas.
Para saber mais
Atualmente as bacias hidrográficas são utilizadas para diversas demandas e, com a recente crise hídrica, o gerenciamento desses reservatórios tornou-se algo essencial para evitar o efeito de impactos negativos.
Em Recursos hídricos no século XXI, José e Takako Tundisi abordam assuntos sobre a capacidade finita de fornecimento de água e os problemas que isso pode acarretar. A obra está disponível em nossa livraria técnica!