O estudo da biodiversidade urbana

O estudo da biodiversidade urbana aponta os fatores que controlam o lugar onde vivem espécies diferentes e até que ponto elas são comuns nos vários hábitats

Às vezes os pais se irritam quando os filhos, ao terem a oportunidade de ver animais caros e exóticos no zoológico, passam o tempo todo correndo atrás de pombos no meio da multidão.

Às vezes caluniado como rato de asas, o pombo-comum (Columba livia) é um caso clássico de sucesso urbano. Nativo de penhascos da Europa e do norte da África, os pombos seguiram os seres humanos pelo mundo inteiro, fazendo ninho em edificações e subsistindo com osmuitos alimentos que os seres humanos plantam e descartam.

Foto preta e branca de uma criança alimentando pombos em uma praça.

O onipresente pombo-comum Columba livia (Imagem retirada do livro Ecossistemas urbanos, publicado pela Ed. Oficina de Textos. Todos os direitos reservados)

Para muitos humanos, os seres vivos da cidade são as pessoas e pragas ocasionais como pombos e ratos. No entanto, o interessante é que as áreas urbanas abrigam representantes de quase todas as formas de vida.

No caso de alguns grupos de espécies, como plantas e pássaros, as cidades podem ter até biodiversidade – a variedade de espécies presentes na área – mais alta do que as regiões circundantes, embora a maioria dos grupos de organismos tendam a ser menos diversificados nas cidades.

O estudo da biodiversidade urbana dá uma boa ideia dos fatores que controlam o lugar onde vivem espécies diferentes e até que ponto elas são comuns nos vários hábitats. 

Os seguintes quatro aspectos da escolha de hábitat, da modificação de hábitat e do movimento de recursos e espécies têm papel fundamental no controle da diversidade da vida na cidade.

  • Os seres humanos tendem a se instalar em locais desejáveis com água disponível, clima tolerável e substancial variação topográfica.
  • Os seres humanos fragmentam as áreas urbanas num mosaico bastante comprimido de hábitats contrastantes que podem favorecer diversos organismos.
  • Os seres humanos trazem vastos recursos sob a forma de água, nutrientes, alimentos e resíduos.
  • Os seres humanos importam diretamente, de forma intencional ou não, muitas espécies novas do campo circundante ou de outros continentes.

Dentro da área urbana, vários grupos de plantas e animais têm uma relação em calombo entre a diversidade e o grau de urbanização. O número de espécies de mamíferos, aves, abelhas, formigas e lagartos pode ser mais alto em áreas residenciais suburbanas com nível intermediário de modificação, nas quais os quatro fatores listados anteriormente são mais importantes.

Por outro lado, às vezes a biomassa (massa total de organismos vivos) mais alta ocorre na área mais urbanizada (veja figura abaixo), o que remete à questão dos pombos, cuja população em área urbana pode pesar coletivamente mais do que todas as aves somadas numa área não urbana de tamanho comparável.

Gráfico de padrões de biodiversidade e biomassa típicos.

Padrões de biodiversidade e biomassa típicos, embora não universais, em áreas urbanas, com um pico de biodiversidade em regiões de desenvolvimento imobiliário moderado e um pico de biomassa no centro da cidade (Imagem retirada do livro Ecossistemas urbanos, publicado pela Ed. Oficina de Textos. Todos os direitos reservados)

Os estudos que ligam o número de espécies à densidade da população humana se dedicaram a organismos conhecidos e visíveis como aves, mamíferos e plantas e deram menos atenção a anfíbios, peixes e insetos. Além disso, nem todas as regiões da Terra receberam a mesma atenção, concentrada em cidades da América do Norte e da Europa  que ficam em latitude mediana do hemisfério norte.

Gráfico de número de estudos por tipo de organismo. Os mamíferos possuem mais estudos.

Número de estudos sobre o modo como a população humana afeta a biodiversidade de tipos diferentes de organismo (Imagem retirada do livro Ecossistemas urbanos, publicado pela Ed. Oficina de Textos. Todos os direitos reservados)

Gráfico de número de estudos de biodiversidade urbana por região do globo. A América do Norte consta como a que tem mais estudos.

Número de estudos sobre o modo como a densidade populacional humana afeta a biodiversidade em diferentes regiões. A indicação América do Sul inclui as Américas Central e do Sul (Imagem retirada do livro Ecossistemas urbanos, publicado pela Ed. Oficina de Textos. Todos os direitos reservados)


Para saber mais

Esta matéria foi retirada do livro Ecossistemas urbanos: princípios ecológicos para o ambiente construídoPara saber mais sobre classificação e característica da biodiversidade urbana, ecologia de comunidades e muito mais, adquira o livro.

Lançado em 2015, a obra apresenta os principais conceitos para o estudo do ecossistema urbano, como modificações de habitat, interações de processos ecológicos nas cidades e as reações provocadas pelos impactos antrópicos em ecossistemas. Inclui exercícios, perguntas e atividades de laboratório ao final de cada capítulo.

Capa de Ecossistemas urbanos, que estuda a biodiversidade urbana.