Sistemas de transposição de peixes: Canal Piracema

Sistemas de transposição de peixes são bastante comuns no Hemisfério Norte, onde existem milhares dessas estruturas concebidas para viabilizar o ciclo de vida de espécies com amplo home range.

Foto de um sistema de transposição de peixes em um rio cercado por vegetação rasteira.

Também são relativamente abundantes os estudos sobre a funcionalidade das chamadas passagens para peixes, bem como sobre a biologia das espécies que as utilizam. Estima-se que em todo o mundo existem mais de 12.000 passagens para peixes. No Brasil, são conhecidos cerca de 50 mecanismos construídos para possibilitar a transposição de peixes por barragens, havendo ainda muitas dúvidas quanto à funcionalidade dos mesmos.

A diversidade biológica consideravelmente maior na região neotropical também dificulta o conhecimento mais amplo do comportamento das espécies, particularmente daquelas consideradas migratórias de longa distância.

Estudos desenvolvidos pelo setor elétrico, notadamente pela Itaipu Binacional em parceria com a Entidade Binacional Yacyreta, CESP e universidades, acerca da migração e transposição de peixes no Rio Paraná, vêm proporcionando um significativo incremento do conhecimento sobre o comportamento migratório de espécies neotropicais, materializado em dezenas de comunicados científicos, artigos, dissertações e teses.

Canal da Piracema é o maior sistema de transposição de peixes do mundo e sua construção foi oportunizada por interesses convergentes do Governo do Estado do Paraná e da Itaipu Binacional, com propósitos desportivos e de transposição de peixes. A implantação desse sistema foi motivada pela existência de uma extensa área de reprodução de espécies migratórias a montante do reservatório de Itaipu, além de estudos prévios realizados num modelo experimental de escada de peixes e no Rio Bela Vista, que é o principal componente do sistema.

Recentemente, algumas estruturas com múltiplas funções têm sido construídas para servir a atividades recreativas (canoagem) e migração de peixes. No entanto, a maioria das informações a respeito desses mecanismos se encontra em relatórios técnicos e não estão publicadas, sendo acessíveis por sistemas de busca na internet.

Geralmente os projetos enfatizam as características hidráulicas relacionadas à atividade recreativa, deixando em segundo plano as necessidades da ictiofauna. As passagens de peixes do tipo seminaturais também podem ser consideradas de múltiplo propósito, uma vez que funcionam como criadouros e hábitat de inverno para algumas espécies, além de restabelecer a conectividade longitudinal para as espécies-alvo.

O Canal da Piracema começou a operar em dezembro de 2002, mas, desde 2006, um de seus componentes, o Canal de Águas Bravas, é usado para a prática de esportes aquáticos (principalmente canoagem), havendo a preocupação quanto ao possível conflito de uso, sobretudo durante o período de migração reprodutiva dos peixes, conhecido por piracema.


Para saber mais

Leia na íntegra o artigo O canal da Piracema como sistema multifinalitário de transposição de peixes, retirado da Revista Brasileira de Engenharia de Barragens do Comitê Brasileiro de Barragens.

A matéria tem por objetivo apresentar alguns aspectos da funcionalidade do Canal da Piracema e avaliar tendências da possível influência exercida pela atividade desportiva praticada em determinado trecho do sistema em relação ao comportamento das espécies migratórias de peixes, empregando tecnologia RFID (identificação por rádio frequência) e marcas passivas do tipo PIT-tag (passive integrated transponder).