Para Cylon Gonçalves da Silva, os biocombustíveis são uma solução temporária de produção de energia limpa
O mundo vive à beira de um colapso dos suprimentos energéticos. Com o crescimento exponencial da população mundial e dos setores produtivos, a demanda por energia torna-se cada dia maior. Em 17 anos, o consumo de eletricidade aumentou 170%, e a população do mundo passou de 5,3 bilhões para 6,5 bilhões, um acréscimo de aproximadamente 160%. Ou seja, o consumo de eletricidade aumentou mais depressa do que a população. Só no Brasil, segundo informações do IBGE, entre 1990 e 2007, o consumo de eletricidade praticamente dobrou.
Quais as alternativas de energia para o futuro? Como produzir energia limpa e em quantidades suficientes para suprir o desenvolvimento da humanidade? Os biocombustíveis seriam a solução?
Os biocombustíveis são uma alternativa viável para a produção de energia limpa?
Para Cylon Gonçalves da Silva, ex-Secretário Nacional de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, atual Coordenador Adjunto de Programas de Cooperação Internacional e Energia da Fapesp e autor de De Sol a Sol: a energia no século XXI, esse tipo de suprimento energético seria uma boa solução temporária, pois no momento é uma das poucas opções tecnologicamente viáveis para reduzir emissões de gases de efeito estufa.
Cylon é um defensor ferrenho da energia solar como fonte primária de energia, mas pondera que é imprescindível a criação de uma tecnologia que nos leve da energia solar à energia química pela rota mais direta possível que a dos biocombustíveis.
Confira uma entrevista inédita com o autor sobre a questão.
Comunitexto (CT): O senhor é contrário aos biocombustíveis? Por quê?
Cylon Gonçalves da Silva (CGS): Na verdade, sou favorável, mas como uma boa solução temporária para o problema de combustíveis de transporte. O bioetanol da cana-de-açúcar no Brasil é um bom exemplo de um excelente biocombustível. Biocombustíveis dificilmente poderão suprir todas as necessidades de combustíveis líquidos do setor mundial de transportes, mas são uma das poucas opções tecnologicamente viáveis que temos para reduzir emissões de gases de efeito estufa neste momento.
CT: Quando o senhor diz em seu livro que precisamos aprender a converter, de forma barata e eficiente, a energia solar diretamente em energia química, e que precisamos de tecnologias que tornem os biocombustíveis, assim como os combustíveis fósseis, obsoletos algum dia, o que o senhor quer dizer?
CGS: O que eu quero dizer é que, em vez de usar plantas, que precisam de solo, água, pesticidas e adubação para converter a radiação solar em biomassa, a qual ainda precisa ser processada para ser transformada em combustível líquido, precisamos inventar uma tecnologia que nos leve pela rota mais direta possível da energia solar à energia química armazenada em algum combustível. Nós já temos essas rotas, por exemplo, pela produção de hidrogênio com eletricidade fotovoltaica, mas elas são caras e de baixa produtividade.
Acredito ser uma questão de tempo e pesquisa para que uma alternativa eficiente e menos cara seja desenvolvida. Aí, em lugar de usar terra para plantar cana, podemos usar a mesma terra para outras finalidades, inclusive a “não produtiva” de grandes reservas naturais.
CT: O que o senhor considera um bom e um mau biocombustível?
CGS: Bom biocombustível é aquele que causa um menor impacto no meio ambiente do que o equivalente energético em combustível fóssil. Isto é, aquele que resulta, no balanço total de sua produção, em menor emissão de gases de efeito estufa por unidade de energia produzida, quando comparado com algum combustível fóssil, e cuja produção se revele sustentável no longo prazo. O conceito de sustentabilidade é fácil de entender, mas difícil de medir. Por isso, sempre haverá controvérsias sobre a menor ou maior sustentabilidade de um tipo de biocombustível versus outro tipo. Mas, quando as diferenças são tão gritantes como entre o bioetanol de cana-de-açúcar (bom) e o bioetanol de milho (ruim), a questão fica mais simples.
CT: Na sua opinião, qual a energia do futuro?
CGS: Fusão nuclear (risos)… do nosso reator solar, não de reatores terrestres. Brincadeiras à parte, a energia do futuro será a mesma do presente: solar. Pois, com poucas exceções, tais como energia nuclear e geotérmica, a origem primeira de nossas fontes de energia é o Sol. Oitenta por cento da nossa energia primária hoje vem de petróleo, gás e carvão, isto é, matéria orgânica gerada pela fotossíntese, a partir da conversão da energia solar. A única coisa que vai mudar são as tecnologias de conversão da energia solar em outras formas mais apropriadas para o consumo de nossas máquinas.
Para saber mais sobre biocombustíveis e outras formas de energia, leia De Sol a Sol: a energia no século XXI. Uma nova forma de enxergar e compreender o complexo sistema da utilização consciente das formas de energia.