Arquitetura de qualidade: mais eficácia na educação

Com informações valiosas e atualizadas, Arquitetura escolar defende a confluência entre arquitetura e educação

Em tempos de crise na educação e de padrões insatisfatórios de desempenho escolar no Brasil, a arquiteta e pesquisadora Doris K. Kowaltowski traz à tona o dissenso sobre a real interferência de diferentes áreas de conhecimento na educação e defende, em Arquitetura escolar, que a cumplicidade da arquitetura com a vida escolar proporciona um melhor rendimento intelectual. Para a autora, elementos como funcionalidade, usabilidade, identidade com a pedagogia e infraestrutura configuram a distinção e o reconhecimento do ambiente escolar em suas múltiplas funções.

Foto de uma sala de aula ampla, com janelas grandes e muita luz entrando.

Escolas da Fundação Bradesco são um exemplo de arquitetura escolar bem-sucedida

Confira na íntegra a entrevista com a autora.

Comunitexto (CT): Qual a situação da arquitetura escolar no Brasil? As escolas de hoje realmente planejam a arquitetura?

Doris Kowaltowski (DK): Há uma longa história da arquitetura escolar no Brasil, com épocas de grandes investimentos e, principalmente, com ações para atender ao déficit de vagas nas escolas. Com as altas demandas, principalmente para escolas públicas, os municípios, Estados e até o Governo Federal planejam os locais das escolas e as suas capacidades dentro dos programas arquitetônicos estabelecidos pelas Secretarias da Educação. Tal planejamento, no entanto, nem sempre consegue incluir uma discussão mais aprofundada sobre a qualidade dos ambientes escolares que a sociedade almeja e que a literatura e os especialistas recomendam.

CT: Qual a real interferência da arquitetura na educação? Quais as suas consequências?

DK: Existem várias interferências. As principais estão relacionadas com o conforto ambiental. As consequências de ambientes de ensino inadequados podem ser bastante prejudiciais, sobretudo para os alunos com deficiência na aprendizagem. Pode haver apatia, falhas na comunicação e, em casos mais extremos, pode causar mal-estar, doenças, absenteísmo e reações antissociais como vandalismo e agressões.

CT: Em sua opinião, qual a melhor arquitetura escolar no momento? Em quais países os ambientes educacionais são parâmetro de qualidade? Por quê?

DK: O livro discute a qualidade do ambiente escolar com muitos exemplos no Brasil e lá fora. Há, inclusive, escolas de vários países em desenvolvimento com projetos simples, mas bem detalhados e apropriados para o seu contexto. Essas escolas, em sua maioria, são o resultado de projetos únicos para o seu contexto, com uma implantação sensível ao local e seu entorno. A linguagem arquitetônica também responde aos anseios da comunidade e o acabamento é cuidadosamente detalhado. Dessa maneira, a escola pode virar um “oásis” no meio de um espaço urbano muitas vezes caótico.

Sabe-se também que a qualidade do ambiente escolar é uma combinação complexa de professores excelentes, material e equipamentos didáticos de primeira linha, móveis confortáveis, bonitos e espaços aconchegantes  que permitem abrigar as múltiplas atividades pedagógicas recomendadas para os alunos.

CT: No que difere das escolas brasileiras?

DK: Temos bons exemplos de ambientes escolares no Brasil; no entanto, a maioria das escolas funciona em edificações que apenas atendem a condições mínimas. Busca-se, nas discussões do livro, elevar este padrão, para estimular o desenvolvimento de projetos que não somente sejam adequados às necessidades, mas que agradem e atraiam a comunidade escolar.

CT: Seu livro foi o primeiro no Brasil a tratar do assunto. Por que o relativo desinteresse na área? Como essa área da arquitetura é vista hoje pela academia?

DK: Há muita literatura sobre o ambiente escolar e a sua arquitetura. Muitos livros discutem aspectos da história da arquitetura escolar; outros, o conforto ambiental, e outros ainda, as políticas educacionais e o seu impacto sobre o projeto de edificações escolares. Tentei, no meu trabalho, juntar esses temas e discutir a qualidade da arquitetura e os caminhos para atingir excelência em projeto.

Capa de Arquitetura escolar, livro que junta arquitetura e educação.

CT: A senhora acredita que este livro possa modificar o pensamento acerca dos espaços educacionais?

DK: Espero poder fomentar discussões e contribuir com a elevação dos indicadores da educação, que atualmente são insuficientes para dar suporte ao desenvolvimento social, cultural e econômico desejado.

CT: Qual a aceitação desse tipo de abordagem entre os profissionais da educação?

DK: Considero que a área da educação deve aproveitar os conceitos e as discussões apresentados, principalmente os resultados de avaliações e as tendências para uma arquitetura escolar de qualidade.

CT: Fale um pouquinho sobre as tendências da arquitetura escolar ideal.

DK: Essas tendências têm muito a ver com o conceito de humanização da arquitetura. Almeja-se uma arquitetura que sirva ao ser humano em todos os sentidos. Espera-se que os ambientes escolares internos e externos sejam confortáveisúteis (funcionais), acessíveis e que agradem aos seus usuários. Deve-se desfrutar com plenitude desses ambientes e ter boas memórias deles. A comunidade escolar deve poder se sentir orgulhosa da sua escola, percebendo a sua potencialidade para um ensino de qualidade.

CT: Quais são os componentes de qualidade no ambiente escolar?

DK: A arquitetura de qualidade deve responder à função primária de abrigo para as atividades humanas; nesse caso, as atividades de ensino. Há sempre a preocupação com a estética. O ambiente escolar precisa ter responsabilidade social, econômica e ambiental; deve satisfazer necessidades pessoais e representar a imagem desejada. O projeto deve melhorar o conforto ambiental, a acústica dos seus ambientes, as sensações térmicas, a qualidade do ar, a iluminação, as cores e a acessibilidade plena a todos os espaços. A sensação do prazer em todos os sentidos deve ser potencializada. Os projetos também devem ser apropriados ao contexto e devem se preocupar com a redução dos custos de operação, eficiência energética e sustentabilidade.

CT: Sua proposta vai de encontro ao programa de necessidades institucionais vigentes e sugere outros parâmetros no processo de projeto. Como isso acontece? No que difere?

DK: A proposta do programa arquitetônico (programa de necessidades) do livro não é um programa pronto, mas deve ser o resultado de uma discussão, junto à comunidade escolar, dos seus problemas, desejos, recursos, necessidades e possibilidades. A participação da comunidade é vista como importante não somente para fomentar a discussão sobre o ambiente escolar desejado, mas também para envolver essa comunidade no uso dos ambientes e na valorização da escola na sociedade.

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