As estruturas espaciais são belíssimas e apresentam diversas vantagens para a construção civil. Apesar do grande potencial de aplicação extensiva no mercado nacional, essa técnica ainda não é vastamente abordada nos cursos de Arquitetura e Engenharia Civil pelo País.
Nesse cenário, a Oficina de Textos traz o livro Estruturas metálicas reticuladas espaciais, que detalha os principais conceitos envolvidos na aplicação dessa técnica. E para falar mais sobre o livro, o Comunitexto entrevistou o autor Paulo Andre Barroso. Confira na íntegra!
Comunitexto (CT): O que o motivou a escrever uma obra tão completa como Estruturas metálicas reticuladas espaciais?
Paulo Andre Barroso (PAB): É preciso desmistificar o uso da estrutura espacial. Por que ela não é tão utilizada atualmente? É porque os arquitetos, principalmente, não conhecem. O curso de Arquitetura no Brasil, de modo generalizado, é muito superficial em relação à estrutura, então o estudante não sabe como se projeta, qual a modulação, qual a altura da malha espacial.
Os arquitetos e os engenheiros, em geral, não conhecem por que e como fazer, ou acreditam ser mais caro. E o livro é para isso: desmistificar o uso.
CT: Há menos chance para erros de projeto e montagem nessas estruturas em relação às convencionais?
PAB: Todo projeto tem alguma chance de falha. Na estrutura convencional, eventualmente, se errar um cálculo de uma diagonal no desenho de fabricação e esquecer uma peça que era para ter 2.150mm e foi dimensionada com 2.100mm, ela já não monta. No entanto, isso não causa trauma na fábrica – se a peça for em aço, dá para repor, soldar etc.
Mas quando se projeta uma estrutura espacial de 10.000 barras, e as barras são divididas em grupos que se repetem 1.000 vezes, se o projetista errar uma peça, na verdade errou 1.000. E então o lucro da empresa vai embora. Assim, o projeto é crucial – o profissional precisa saber o que está fazendo.
CT: O livro foca bastante no dimensionamento de barras e juntas de malhas espaciais. Pode comentar um pouco a importância desses elementos em uma estrutura espacial?
PAB: Nas malhas espaciais, o mais importante é realmente a junta, que faz a transferência de esforços de uma barra para outra. Não é qualquer junta que é econômica e vantajosa. A partir de 45 anos de experiência no mercado, propus no livro uma junta que funciona, além de dicas de como fazer a ligação.
CT: Outro destaque da obra certamente são as fotos de projetos incríveis dos quais o senhor participou.
PAB: A maioria é foto minha! Inseri algumas fotos ilustrativas exatamente para dar a segurança de quem vai projetar de que essas estruturas são possíveis. Tenho um livro do Paul Makovsky, escrito na década de 1940 ou 1950, que tem uma foto em preto e branco da montagem de um domo espacial; mas é uma única foto, e só daquele tipo de estrutura.
É o único livro que conheci, desde que me formei, que fala sobre estruturas espaciais nesse nível; mas não tem mais informações sobre outras formas estruturais. Então achei que as fotos seriam interessantes para mostrar as possibilidades.
Cúpula geodésica do Centro Esportivo de Campina Grande (PB)
CT: É certo que o livro se destina a estudantes e profissionais que estão iniciando seus trabalhos nessa técnica de construção metálica.
Mas a obra também ressoa em profissionais que já possuem experiência na área?
PAB: O livro é ideal para quem já está na área, por apresentar uma opção para esses profissionais, principalmente na área comercial e industrial. Para fazer um shopping, por exemplo, com malha espacial: com a modulação de 3m × 3m × 2m, você cria uma grelha horizontal ao longo de todo o estabelecimento.
E a imensa vantagem é que a estrutura de suporte do forro já é o próprio banzo inferior, e a cobertura é feita no banco superior ─ então, entre a cobertura e o forro, há uma área que, além de ser isolante térmica, pode suportar toda a parte de manutenção do shopping, grelhas para iluminação elétrica, transmissão de dados, ar-condicionado, tudo!
Se o profissional está projetando e tem a opção de utilizar a estrutura espacial, sente firmeza no seu funcionamento e vê que empata no preço, é muito melhor. Assim, um arquiteto, seja mais novo ou mais maduro, passa a ter outra ferramenta, com a certeza de que vai funcionar.
CT: No decorrer de sua longa carreira, inúmeras estruturas espaciais foram projetadas, como os Centros Esportivos Dirceu Arcoverde e de Campina Grande, o Luzeiro do Nordeste e o Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia. Quais os principais desafios desses projetos?
PAB: Na hora de realizar o projeto da estrutura, se o profissional não estiver na obra e conhecer o material que vai trabalhar, os fornecedores na região, ele vai cometer alguns erros estratégicos e logísticos. Você faz uma estrutura, mas como ela será fabricada? Onde está a matéria-prima? Às vezes, o projetista não sabe.
Quando a gente faz o projeto, já deve pensar na montagem, não só na fabricação. Em uma estrutura convencional, como transportar uma tesoura de 30m de vão? Se transportá-la em 15m, com emenda central, mesmo assim já é complicado de colocar em uma balsa, contêiner, caminhão comum.
Já na estrutura espacial, a maior barra será de 3,5m ─ você coloca dentro de qualquer contêiner. Além disso, tem o peso. Uma peça de alumínio de 3,5m vai pesar de 3kg a 5kg, o que torna a estrutura espacial bem mais leve em comparação à estrutura convencional.
Assim, apesar do desafio de projeto e fornecimento de material, quando se sabe como fabricar e montar, a estrutura espacial torna-se bem mais vantajosa. As pessoas veem a beleza e acham que é complicado, mas na verdade é bem simples.
CT: A partir de sua experiência, qual é a dica para quem está começando a se aventurar nessa área?
PAB: O profissional deve conhecer o produto, seja uma estrutura convencional ou espacial. Acho que o livro, nesse aspecto, é justamente para que os profissionais conheçam essa técnica, e desmistificá-la.
O pessoal diz que não é muito sofisticado, ou que é muito caro, mas no livro dizemos o contrário: é simples, o preço é bom, então pode usar. E o profissional precisa conhecer para poder aplicar.
Paulo Andre B. Barroso é formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará (UFC, 1975), com especialização em Cálculo de Estruturas pela McGill University, do Canadá (1977), e mestrado em Engenharia e Arquitetura de Tensoestruturas pelo Institut für Membran- und Schalentechnologien e.V. – Hochschule Anhalt (FH), da Alemanha (2008).
É proprietário da Technica Consultoria e Projetos Industriais Ltda., fundada em 1992 e especializada em projetos de estruturas metálicas em aço e alumínio, e da Tensor Estruturas Especiais e Tecnologia Ltda., fundada em 2002 para lidar com projeto, fabricação e montagem de coberturas tensionadas, um novo ramo da engenharia e da arquitetura para coberturas.
Saiba mais sobre estruturas metálicas reticuladas espaciais
As estruturas metálicas reticuladas espaciais formam as mais belas cúpulas e claraboias, ornando de museus a complexos centros esportivos, aeroportos, pavilhões de feiras e exposições, prédios residenciais de luxo, mas também são utilizadas em simples galpões para pequenas indústrias ou depósitos.
Estruturas metálicas reticuladas espaciais é o primeiro livro brasileiro abrangente sobre a temática, escrito por um dos maiores especialistas no assunto: Paulo André Barroso. A obra explica as definições técnicas conceituais dos elementos construtivos de uma treliça espacial, apresenta detalhes das peças e apoios, discute aplicações e vantagens, materiais para estruturas e coberturas, e aborda seu dimensionamento, montagem, detalhes construtivos, tratamento e pintura. É ricamente ilustrado por fotos de estruturas reais, muitas delas projetadas pelo autor.
Confira a degustação do livro aqui.
Capa do livro “Estruturas metálicas reticuladas espaciais”, publicação da Editora Oficina de Textos