Cartografia temática com Marcello Martinelli

Confira a entrevista exclusiva com o autor Marcello Martinelli sobre o livro Mapas, gráficos e redes: elabore você mesmo

Mapas, gráficos e redes: elabore você mesmo, obra inédita e importante para a área da cartografia temática, aborda os principais fundamentos sobre a elaboração, análise e interpretação de mapas, gráficos e redes, desde os conceitos básicos de representação gráfica e sistemas de coordenadas até a estrutura metodológica das representações em mapas e a coleta, o processamento e a apresentação de dados.

Acompanhe a entrevista:

Comunitexto (CT): O senhor está lançando pela Oficina de Textos o livro Mapas, gráficos e redes: elabore você mesmo. Por que o senhor decidiu publicar um livro com essa abordagem?

Marcello Martinelli (MM): A proposta de um livro sobre mapas, gráficos e redes nasceu da necessidade de trabalhar esses temas junto aos alunos do curso de graduação em Geografia.

Os mapas constituem o objeto de estudo da Cartografia. Já os gráficos e as redes não pertencem à Cartografia e estão, certamente, mais ligados à Matemática e à Estatística, pois têm suas bases na proposta de Descartes para a descrição da posição de pontos no plano. A partir dessa proposta, foi possível a elaboração dos gráficos de relações, dos gráficos de funções e das redes na Matemática, depois explorados também na Estatística.

CT: Qual o objetivo do lançamento do livro Mapas, gráficos e redes?

MM: Desmistificar o caráter “complicado” da elaboração dos mapas, gráficos e redes, tornando-os acessíveis a qualquer pessoa que queira participar desse domínio particular da comunicação visual, de forma fácil e correta.

CT: Qual é a proposta principal da obra e seu destaque?

MM: A cartografia como ciência dos mapas, em termos gerais, tem as suas normas muito bem definidas em lei, pela ABNT, além das convenções. Essas convenções são complicadas; dependendo da escala do mapa, temos convenções diferentes.

Na cartografia temática, as regras são livres, ao contrário da cartografia sistemática. Claro que alguns quesitos como o oceano, a água, por exemplo, serão sempre representados pela cor azul e ninguém vai fugir muito disso, a não ser os indígenas no Acre, que representam a água com a cor marrom. Durante a vida inteira deles, o único contato foi com aquela água barrenta, por isso é representada nessa cor. Ou seja, muita informação é cultural.

A proposta que eu trabalho nesta obra é jogar fora todas as normas e convenções e concentrar nos signos. Portanto, o livro Mapas, gráficos e redes tem como destaque aprender a cartografia entendendo-a como uma linguagem. Se ela é uma linguagem, precisa ter uma gramática. Precisamos ficar muito atentos para trabalhar com essa gramática e saber combinar esses símbolos. Não se pode fazer qualquer coisa.

CT: O senhor afirma no seu livro que os mapas, gráficos e redes não podem continuar exercendo uma temática meramente ilustrativa. Poderia explicar um pouco sobre esta questão?

MM: Muitos pensam, principalmente nos livros escolares, que os mapas e gráficos são apenas ilustrações. Não devemos escrever o texto e depois fazer o mapa, e sim primeiro fazer o mapa para depois montarmos o texto. É importante que os alunos aprendam a ler, entender o mapa e o que ele revela, para então discutir sobre isso. Se o mapa tem um viés qualquer, o professor precisa perceber e explicar.

CT: Como a cartografia e a tecnologia vêm se relacionando atualmente? Qual o impacto que uma tem sobre a outra?

MM: O impacto é benéfico, talvez com muitas críticas. Os profissionais que desenvolvem os softwares não entendem muito da linguagem de mapas cartográficos. É preciso que as pessoas responsáveis por desenvolver essas tecnologias tenham um diálogo com os cartógrafos da cartografia temática, principalmente. Hoje em dia, existe um software francês, feito em Paris, que consegue atender a esse diálogo.

CT: A qual público a obra se destina?

MM: O livro se destina aos estudantes de graduação interessados nessa temática, também podendo ser oportuno para alunos das últimas séries dos cursos de nível médio ou técnico, além de pós-graduandos, pesquisadores e profissionais dos vários campos científicos, à medida que vislumbrem conhecer melhor mapas, gráficos e redes, para que os reconheçam não apenas como meras ilustrações, mas como meios de registro, pesquisa e comunicação visual dos resultados obtidos em seus estudos, com o fim de revelar informações.

Sobre o autor

Marcello Martinelli é professor associado aposentado do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. É mestre e doutor em Geografia Humana e livre docente em Cartografia Temática. Lecionou Cartografia Temática, além de outras disciplinas correlatas em graduação. Atualmente, junto ao Programa de Pós-graduação em Geografia Humana, orienta pós-graduandos e ministra a disciplina “Representações gráficas da geografia: teoria e prática”. É também formado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e autor de atlas geográficos e livros sobre cartografia temática. Desenvolve pesquisas de cunho teórico e metodológico, com especial atenção à cartografia temática, escolar, ambiental, do turismo e para atlas geográficos escolares.


Para saber mais

Capa do livro Mapas, gráficos e redes.