O Índice DRIB é uma proposta de adaptação do World Risk Index para a realidade dos municípios brasileiros. Acrônimo para Indicadores de Riscos de Desastres no Brasil, tem o objetivo de avaliar diferentes níveis de exposição e vulnerabilidade a riscos socioambientais, bem como a capacidade de enfrentamento que as populações dos territórios nestas condições terão.
A premissa da corrida pelo desenvolvimento e pelo progresso atraiu muitas pessoas, a partir da década de 1980, a migrar dos territórios rurais para os grandes centros urbanos. Isso, aliado ao crescimento da população de maneira geral, levou as metrópoles a um inchaço que, nas últimas décadas, tem trazido consequências devastadoras, sobretudo para os moradores de regiões periféricas, de baixa renda.
A má utilização dos recursos naturais, a distribuição inadequada da população nas grandes cidades, a falta ou ausência de planejamento urbano, a poluição e outros fatores têm agravado esses riscos e trazido sérios danos às pessoas. Neste cenário, desenvolveu-se o Índice DRIB, com o propósito de monitorar a suscetibilidade das populações aos riscos.
Neste artigo, falaremos sobre como o Índice DRIB funciona na prática e outras medidas de prevenção de desastres no Brasil.
Como funciona o Índice DRIB?
Para avaliar e classificar os níveis de exposição e vulnerabilidade aos riscos, o Índice DRIB busca capturar e medir quatro componentes fundamentais. Estes são:
- Exposição;
- Suscetibilidade;
- Capacidade de resposta;
- Capacidade de adaptação.
Eles são divididos em dois grupos, sendo o componente exposição pertencente à esfera dos perigos naturais e os demais componentes centrais de vulnerabilidade à esfera social. Entenda cada um dos elementos:
Exposição
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), este componente define elementos em espaços de risco, artefatos e pessoas que estão expostas a determinado perigo. Ou seja, se a população não está localizada em um espaço considerado potencialmente perigoso, não há risco de desastre.
Este componente é necessário, mas não exclusivo. Isso significa que é possível que a pessoa ou grupo social esteja exposta ao risco, mas não necessariamente vulnerável a ele. No entanto, para estar vulnerável, é necessário, também, estar exposto.
Deslizamento de terra em São Gonçalo (RJ) em 2020 (Foto: Vitor Abdala/Wikicommons)
Suscetibilidade
Outro componente do Índice DRIB é a suscetibilidade, que se refere, basicamente, à probabilidade que determinada comunidade tem de sofrer danos em virtude da ocorrência de fenômenos perigosos ou consequências das mudanças climáticas.
Considera-se que esse componente esteja diretamente ligado a características estruturais, como capacidade econômica, infraestrutura das instalações de determinada comunidade e situação nutricional. Por este motivo, esse item do índice fornece evidências básicas de vulnerabilidades específicas da sociedade.
O componente suscetibilidade é dividido em quatro subcategorias: capacidade econômica e renda, pobreza e dependências, condições de moradia e infraestrutura pública. Estas servem para avaliar as condições de habitação, a exclusão social e a infraestrutura dos grupos sociais que estão expostos aos riscos.
Capacidade de resposta
Este componente diz respeito à capacidade que um grupo ou sociedade tem de se organizar e utilizar ferramentas e recursos disponíveis para enfrentar desastres, emergências e condições adversas.
A capacidade de resposta é considerado um conceito-chave na avaliação da vulnerabilidade das populações e pode ser medido em diferentes escalas a partir de diversas abordagens. Essa característica da forma de avaliação é o que permite que o risco global de desastre seja compreendido em uma escala local.
Enchente no município de Lauro de Freitas (BA) em 2010 (Foto: SECOM Bahia/Wikicommons)
Adaptação
No Índice DRIB, este componente engloba capacidades e medidas que podem ser tomadas pelas sociedades para mudar e se transformar a fim de que tenham condições de lidar com as consequências negativas provocadas pelos perigos naturais e pelas mudanças climáticas. Esses mecanismos estão concentrados em recursos que possibilitam mudanças estruturais na sociedade.
O componente adaptação também é dividido em subcategorias para capturar aspectos da capacidade adaptativa das comunidades, que são: educação e pesquisa, equidade de gênero, status ambiental/proteção do ecossistema, estratégias de adaptação e investimentos.
O que o Índice DRIB avalia?
O índice avalia, prioritariamente, os riscos mais frequentes e amplamente distribuídos no Brasil, que são responsáveis pelos maiores danos à integridade física e propriedades das populações.
De acordo com dados divulgados em pesquisa publicada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2013, entre os anos de 1991 e 2012, os desastres naturais mais frequentes e devastadores que tiveram registros oficiais no País foram secas, inundações e tempestades. Estes representaram, nesse período, 91,07% dos registos. Inundações bruscas, graduais e deslizamentos de terra causaram 87,15% de todas as mortes relacionadas a desastres nesse intervalo de tempo no Brasil.
Seca em Sobradinho (BA) (Foto: Marcelo Casal Jr./Wikicommons)
Outras medidas para avaliação e prevenção de desastres
Anunciado oficialmente pela ex-presidenta da república Dilma Rousseff no início de 2012, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) é responsável por realizar o gerenciamento de informações obtidas a partir do monitoramento de radares meteorológicos e pluviômetros a respeito de possíveis ocorrências climáticas que possam ocasionar em desastres naturais.
Inicialmente instalado no município de Cachoeira Paulista, no interior do Estado de São Paulo, em março de 2013, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação transferiu o Cemaden para o Parque Tecnológico de São José dos Campos.
Riscos híbridos aborda em detalhes o Índice DRIB
Publicado pela livraria técnica Ofitexto no último mês de junho, Riscos híbridos: concepções e perspectivas socioambientais, discute temas que se relacionam aos perigos socioambientais aos quais a sociedade está exposta.
Partindo da premissa de que os eventos catastróficos não são únicos, mas estão inter-relacionados, a obra discute os perigos hidrometeorológicos, vulnerabilidade, resiliência e gestão de riscos de desastres.
Organizado por Francisco Mendonça, Riscos híbridos conta com artigos assinados pelos pesquisadores Elaiz Aparecida Mensch Buffon, Guillaume Fortin, Jose Luíz Zêzere, Norma Valenciano, Raquel Melo e Lutiane Queiroz de Almeida. A obra conta com um capítulo inteiramente dedicado ao Índice DRIB.
O livro está disponível para aquisição na versão impressa em nossa livraria técnica.