Observando a carência de ações que valorizassem e preservassem os sítios com reconhecida relevância geológica/geomorfológica e com a intenção de divulgar o conhecimento das dinâmicas da superfície terrestre, uma série de cientistas, principalmente da área das Geociências, começou a se mobilizar no final do século XX na criação dos chamados geoparques.
Os geoparques são áreas chanceladas pela Unesco que buscam combinar conservação, desenvolvimento sustentável e envolvimento da população local.
Segundo a definição da instituição, um geoparque é “um território de limites bem definidos com uma área suficientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento socioeconômico local”. Deve abranger um determinado número de sítios geológicos de relevo ou um mosaico de entidades geológicas de especial importância científica, raridade e beleza, que seja representativa de uma região e da sua história geológica, eventos e processos. Poderá possuir não só significado geológico, mas também ao nível da ecologia, arqueologia, história e cultura”.
Atualmente, há uma rede global de geoparques chamada Global Geoparks Network (GGN), cujo encontro realizado no Japão, em 2012, contou com a presença de membros de 31 países.
Benefícios dos geoparques
Os geoparques devem desenvolver práticas de educação ambiental e estimular a popularização da ciência, bem como usar o patrimônio local para promover a conscientização das questões-chave que a sociedade enfrenta no contexto do planeta dinâmico em que vivemos.
Assim, os geoparques não se encontram apenas em regiões de expressiva beleza cênica, mas também em áreas onde há desastres naturais, como vulcanismo, terremoto e tsunami, e muitos ajudam a preparar estratégias de mitigação desses desastres entre as comunidades locais.
Enquanto isso, em terras brasileiras…
No Brasil, essas áreas não adquirem caráter de unidades de conservação, que são áreas legalmente protegidas, porque não se enquadram no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) (Brasil, 2000), apesar de a Unesco recomendar que algumas áreas dentro dos geoparques sejam protegidas pelas legislações locais.
Mesmo com mais de vinte propostas de criação de geoparques, apenas um está em atividade no País: o Geoparque Araripe, localizado no sul do Estado do Ceará, abarcando os municípios de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri e com uma área total de aproximadamente 3.800 km².
Reconhecido pela Unesco em 2006, ele era o único das Américas até 2013, quando o Grutas del Palacio no Uruguai passou a ser membro do GGN. O Geoparque Araripe está localizado sobre a bacia sedimentar do Araripe e apresenta importantes registros geológicos do Período Cretáceo, notadamente com conteúdo paleontológico de considerável diversidade e que data de 150 a 90 milhões de anos.
O Geossítio Parque dos Pterossauros, localizado no Sítio Canabrava, de propriedade da Universidade Regional do Cariri (URCA), a 2,5 km de Santana do Cariri, é um dos principais componentes do Geoparque Araripe. Esse geossítio revela enorme potencial para visitantes, dada a riqueza e peculiaridade de seu conteúdo.
Nele são feitas escavações paleontológicas em rochas do membro Romualdo (Formação Santana), em busca de concreções calcárias que geralmente possuem fósseis, conhecidas popularmente como “pedras de peixe”.
As concreções calcárias existentes entre as camadas de folhelhos (lama petrificada do fundo da laguna) dessa formação apresentam tamanhos e formas variadas, possuindo geralmente em seu interior fósseis de peixes tridimensionalmente preservados. Nessas concreções também são encontrados restos de pterossauros (variedade de réptil voador), dinossauros, tartarugas e vegetais.
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