Raphael Aranha fala sobre obra de geografia aplicada ao turismo

Organizado pelos geógrafos Raphael Aranha e Antonio Guerra, e publicado pela Editora Oficina de Textos, o livro Geografia aplicada ao turismo preenche uma lacuna fundamental, capacitando turismólogos e demonstrando a aplicabilidade da climatologia, geologia, geomorfologia, biogeografia, cartografia, geopolítica e cultura no turismo e ajudando a planejar atividades turísticas em escalas locais e regionais.

O Comunitexto convidou um dos organizadores, Raphael de Carvalho Aranha, para falar sobre o livro e a importância do tema para turismólogos.

Comunitexto (CT): Qual a importância do tema geografia aplicada ao turismo para os estudantes e profissionais da área?

Raphael de Carvalho Aranha (RCA): A geografia é uma ciência que objetiva entender o mundo e, para isso, ela utiliza seus diversos ramos, como biogeografia, climatologia, geomorfologia etc., assim como outras áreas de suporte (cartografia, meteorologia).

Dessa forma, devido à sua enorme abrangência, ela é capaz de ser algo aplicável no planejamento do turismo, na sua execução, nas pesquisas acadêmicas sobre o tema, entre outros. Podemos citar, por exemplo, a relação dos aspectos físicos (clima, vegetação, relevo) com a exploração do turismo ou como a cartografia pode auxiliar os turistas.

CT: Quando esse assunto passou a fazer parte do estudo do Turismo e por quê?

RCA: É interessante essa pergunta, pois no século XIX questionava-se a importância da geografia, pelo fato de essa época ser muito descritiva, aproximando-se dos guias turísticos.

É importante diferenciar geografia do turismo de geografia aplicada ao turismo: a primeira procura entender as transformações causadas por essa atividade econômica no espaço. Já a segunda, como o próprio título já diz, pretende demonstrar a aplicabilidade da geografia e suas áreas de suporte (como a geologia, geomorfologia, cartografia etc.) diretamente no turismo. Este é o grande diferencial da disciplina, pois capacita os turismólogos a utilizarem adequadamente seus conceitos e objetos de estudo em suas áreas de trabalho.

É de extrema importância para o profissional entender a aplicabilidade da climatologia, geologia, geomorfologia, biogeografia, cartografia, geopolítica e cultura no turismo. Não podemos precisar exatamente quando o assunto passou a fazer parte do turismo, pois, na verdade, eles sempre tiveram juntos, porém não sistematizados.

CT: O profissional do turismo com conhecimento mais técnico é cada vez mais requisitado no mercado de trabalho. Qual a importância de se adequar a essas novas exigências?

RCA: Devemos primeiramente diferenciar o conhecimento técnico do acadêmico/científico. Um profissional de turismo pode ter feito um curso técnico para trabalhar em uma agência de viagens, por exemplo. Mas aquele que, além do conhecimento técnico, associa o conhecimento científico na aplicabilidade da sua profissão (imagine um agente de viagens que entenda a dinâmica do clima do destino de um passageiro) torna-se um profissional muito mais completo.

CT: Em parceria com o renomado geógrafo Antônio Guerra, foi lançado o livro Geografia aplicada ao turismo. Quais são os maiores destaques da obra?

RA: O maior destaque, sem dúvida, é o grupo de autores, especialistas em suas áreas, que realizaram um trabalho magnífico, resultando em um trabalho extremamente harmonioso.

CT: Quando e como nasceu a ideia de escrever esse livro?

RCA: Desde que comecei a lecionar no curso de Turismo do Grupo Educacional Hotec, sempre busquei mostrar para meus alunos como a Geografia poderia ser aplicável ao Turismo. Ministrava em minhas aulas temas como a ação das massas de ar polares como dinamizadoras do turismo na Serra Gaúcha ou a importância do entendimento da escala cartográfica para um possível cálculo de distância no mapa para auxiliar os futuros guias de turismo em uma excursão. A ideia de juntar essas aulas em uma obra completa e integrada surgiu finalmente no início de 2013, dado o sucesso de quatro anos ministrando essas aulas.

CT: Geografia aplicada ao turismo é um dos poucos livros sobre o assunto, notório pela abordagem sistemática e completa das principais questões e conceitos envolvendo a geografia e o turismo. A obra contempla essa nova matriz de conhecimento do mercado de turismo?

RCA: O turismo envolve uma série de atividades relacionadas a: viagens; visitas a museus; compras; banho de mar, rio, lago e cachoeira; prática de esportes radicais, ou não; recreação; aprendizado; novas experiências; relaxamento; enfim, tudo que possa ser aproveitado pelos visitantes de uma nova realidade, geralmente diferente daquela em que o visitante vive no seu cotidiano.

Nesse livro, os autores procuraram abordar a aplicabilidade da geografia na atividade turística, levando em conta a interdisciplinaridade que o turismo envolve, bem como o papel da geografia e dos geógrafos em procurar melhor compreender a atividade econômica que mais cresce nas últimas décadas e que mais tem absorvido mão de obra, em quase todos os países do mundo.

CT: Como esse livro contribui para o aperfeiçoamento do conhecimento dos estudos do turismo?

RCA: O resultado desse material, a nosso ver, reflete uma abordagem ampla e integradora das ciências sociais e ambientais, numa perspectiva interdisciplinar, como a natureza inerente da própria geografia.

Acreditamos que as contribuições aqui apresentadas caracterizam vários aspectos importantes do pensamento e das pesquisas sobre turismo, apesar de não ter sido nossa pretensão esgotar totalmente o tema, mas sim introduzi-lo sob uma perspectiva técnica e científica.

Para tal, procuramos levar em conta uma bibliografia atual, onde o leitor possa verticalizar nessa temática, e que aborde temas relacionados aos estudos sobre turismo e geografia aplicada ao turismo, que são um grande desafio, mas servem como um estímulo para a continuidade por parte daqueles estudiosos sobre o turismo, do ponto de vista das pesquisas contemporâneas sobre o tema em questão.

CT: Os impactos do turismo sobre o meio ambiente são inevitáveis. Como esse livro auxilia o profissional para o conhecimento e mitigação desses impactos?

RCA: Devemos pensar que os impactos podem ser positivos e negativos. Conhecendo bem a aplicabilidade da Geografia, podemos maximizar os impactos positivos e minimizar os impactos negativos.

CT: Para concluir, o nascimento de diversos novos conceitos, como geoconservação, geoturismo, biogeografia antrópica, entre outros, reflete a mudança do estudo do turismo para um viés cada vez mais científico. Essa alteração foi positiva para a área e seus respectivos profissionais?

RCA: Sim. Embora os estudos relacionados ao turismo sejam de caráter multidisciplinar e interdisciplinar, cada vez mais eles têm sido abordados, por pesquisadores, com um background geográfico. Daí, mais recentemente, grande parte dos livros e artigos sobre turismo ter origem em departamentos de geografia em várias partes do mundo.

A propósito da participação dos geógrafos, em estudos de turismo, Hallet al. (2004) exemplificam que sociedades científicas internacionais reconhecidas pela comunidade acadêmica, como a Associação dos Geógrafos Americanos (Association of American Geographers), a Associação Canadense de Geógrafos (Canadian Association of Geographers) e o Instituto de Geógrafos Britânicos (Institute of British Geographers), possuem atualmente grupos de trabalho com temáticas turísticas, no seu âmbito de pesquisa, bem como outras associações semelhantes na Alemanha, China e em vários outros países.

Em 2000, a União Geográfica Internacional (UGI, International Geographical Union) criou uma Comissão de Turismo, Lazer e Mudanças Globais, mais um exemplo da atuação da geografia nesse campo de conhecimento. Além disso, Hall et al. (2004) afirmam que o crescimento dos estudos sobre turismo, vistos sob uma perspectiva técnica e científica, pode ser evidenciado pelo grande número de periódicos publicados em inglês.

Sobre os organizadores

Raphael de Carvalho Aranha é mestrando em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), possui graduação em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, é professor da Faculdade de Tecnologia em Hotelaria, Gastronomia e Turismo de São Paulo (Hotec), onde leciona nos cursos de Turismo, Gestão Ambiental, Eventos e Recursos Humanos. Também é guia de turismo da Embratur (Rio de Janeiro/Brasil/América do Sul).

Antonio José Teixeira Guerra é doutor em Geografia pela Universidade de Londres, com pós-doutorado em Erosão dos Solos pela Universidade de Oxford, é pesquisador do CNPq e professor titular do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Saiba mais sobre geografia e turismo

Conforme o prefácio, escrito pelos organizadores, o livro Geografia aplicada ao turismo pretende atender tanto a alunos de graduação como de pós=graduação em Turismo, Geografia e áreas afins, bem como a outros profissionais e ao público em geral interessado nessa temática.

Todos os autores do livro são especialistas nas suas áreas e já vêm trabalhando há bastante tempo nos temas sobre os quais se propuseram a escrever. Os sete capítulos abordam questões cruciais para a boa formação de um profissional em Turismo e para aqueles formados em Geografia que também se interessam pelo tema.

A grande quantidade de fotos, ilustrações, tabelas e gráficos pode auxiliar os leitores a entender melhor essas questões. A bibliografia apresentada também possibilita aos leitores se aprofundar em algum tema abordado no livro.

Confira a degustação da obra clicando aqui.

Capa do livro “Geografia aplicada ao turismo”, publicação da Editora Oficina de Textos

Capa do livro “Geografia aplicada ao turismo”, publicação da Editora Oficina de Textos