O autor da obra Análise estatística de dados geológicos multivariados discorre sobre a situação atual e as expectativas da área de Geologia
Antigamente, nas pesquisas geológicas, utilizava-se de materiais simples como bússola e trena para fazer medições e análises químicas, em campo, para se descobrir especificidades da área analisada. Hoje em dia, com o avanço tecnológico, são realizadas as mais diversas análises químicas em laboratório e, para as medições de campo, os satélites artificiais e equipamentos como GPS ajudam o geólogo (e muito!) na descoberta de dados mais complexos.
![Foto de uma mão segurando um GPS, e atrás um campo de terra.](https://blog.ofitexto.com.br/wp-content/uploads/2023/09/2011_09_09-Analise-estatistica-e-Geologia-entrevista-com-Paulo-M.-Barbosa-Landim-GEOLOGIA.jpg)
Uso de GPS em campo (Fonte: Miguel Vera León)
Com a tecnologia aumentou muito o número de dados coletados, porém as pesquisas ainda estão aquém diante de tantos dados. É nesse contexto que se enquadra a obra Análise estatística de dados geológicos multivariados, do Prof. Paulo M. Barbosa Landim.
Veja na íntegra a entrevista com o professor:
Comunitexto (CT): Professor Landim, de onde surgiu o interesse em estudar os dados estatísticos obtidos de pesquisas geológicas?
Paulo M. Barbosa Landim (PMBL): Em 1967-1968, após o meu doutorado na USP, estive como visiting scholar no Departamento de Geologia da Northwestern University (EUA). Nessa ocasião, graças ao contato que mantive com o Professor W. C. Krumbein, é que comecei a entender a importância da aplicação dessa metodologia em dados geológicos.
CT: No Brasil, atualmente, há uma grande demanda para profissionais desse ramo da Geologia? A partir de quando isso ocorreu?
PMBL: Tenho que reconhecer que a demanda não é muito grande, mas vem melhorando, principalmente entre os profissionais mais jovens. Há vários anos ministro um curso em nível de pós-graduação sobre o assunto, e noto um interesse cada vez maior por parte não apenas dos geólogos, mas também de geógrafos, ecólogos, biólogos e agrônomos.
A Geologia, há bem pouco tempo, era frequentemente considerada uma ciência baseada em interpretações puramente qualitativas dos fenômenos geológicos. Nos últimos anos, porém, tem sido notável a mudança da fase descritiva para a utilização de métodos quantitativos, principalmente nas diversas áreas da Geologia Aplicada. Na área mineral, com destaque para a do petróleo, onde a interpretação geológica – além de estar fundamentada em conceitos científicos – precisa ter aplicação econômica, observa-se uma marcante tendência quantitativa que vem possibilitando avanços importantes, sobretudo no uso de técnicas espaciais.
CT: E quanto à fabricação de equipamentos? O Brasil precisa importar muito material ou nós já produzimos o suficiente para suprir as necessidades da área?
PMBL: Entre equipamentos e pessoal capacitado para manuseá-los, prefiro me fixar no profissional. A atuação do geólogo formado no Brasil se equipara perfeitamente com o desempenho de colegas de outros países de grande tradição em estudos geológicos como, entre outros, Estados Unidos, Canadá e Austrália. Exemplos marcantes podem ser citados com referência ao que vem sendo executado na Geologia de Engenharia, na Geologia de Petróleo, na Mineração etc.
CT: O que representa a inserção da análise estatística de dados multivariados nos estudos geológicos? Quais foram os ganhos?
PMBL: Nas últimas décadas, graças a avanços tecnológicos tanto em termos computacionais como em equipamentos de laboratório e de campo mais refinados, tem sido intensa a obtenção de dados geológicos quantitativos. A sua análise, porém, está muito aquém dessa imensa quantidade de informações coletadas. Basta ver os relatórios de pesquisa e mesmo os bancos de dados com um grande número de matrizes de informações não trabalhadas. Verbas e tempo são gastos com essa coleta que precisa ser devidamente manuseada, e para a análise dos dados o emprego de técnicas estatísticas multidimensionais torna-se uma ferramenta fundamental. Isso porque, como os fenômenos geológicos são resultantes de diversos fatores condicionantes, o seu entendimento é facilitado quando o estudo é submetido a um tratamento quantitativo multidimensional.
CT: Qual dessas etapas é a mais complicada: a coleta de dados em campo ou a análise estatística desses dados? Por quê?
PMBL: São situações diferentes, mas a coleta de dados no campo é a etapa mais importante. Dados coletados de maneira imprópria não resultarão em respostas esclarecedoras, por mais sofisticado e preciso que seja o método de análise quantitativa empregado. Um bom modelo sempre deverá ser baseado em dados confiáveis.
CT: Por que é essencial a análise dos dados coletados em laboratório? O que é feito com os resultados?
PMBL: A análise de dados conduz à formulação de modelos que tentam explicar a natureza dos fenômenos geológicos. A pura utilização de técnicas estatísticas multivariadas é hoje em dia bastante facilitada graças à vasta disposição de programas computacionais, o que não é condição suficiente se o estudo não for embasado num sólido conhecimento geológico. É necessário, inclusive, o pesquisador ter sempre em mente que os resultados, obtidos por via quantitativa, devem ter uma explicação lógica e coerente dentro do contexto das geociências. Em outras palavras, não procurar encaixar a natureza em seu modelo multivariado, por mais perfeito que ele possa parecer. Um modelo é sempre uma simplificação da natureza.
CT: Para encerrar, quais são as expectativas para a área de análise estatística de dados multivariados?
PMBL: Sou bastante otimista a respeito. Caso contrário, não teria me disposto a escrever um livro, mesmo de caráter introdutório, mostrando as possibilidades de aplicação de diversas técnicas estatísticas multivariadas à dados geológicos. Espero que este meu sentimento possa ser entendido e compartilhado com os leitores.
Em Análise estatística de dados geológicos multivariados, Paulo M. Barbosa Landim apresenta uma introdução aos métodos estatísticos multidimensionais aplicados na análise de dados geológicos.
Escrita a partir de sua vasta experiência como professor, a obra tem uma linguagem simples, sem complexas abordagens matemáticas – presumindo-se um conhecimento básico de estatística descritiva e conceitos simples de álgebra matricial –, sendo um agregador importante principalmente para acadêmicos e iniciantes na área.
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