Mecânica das Rochas: lançamento da Oficina de Textos vem em momento de ascensão do tema

De autoria do geólogo Eduardo Marques e do engenheiro Eurípedes Vargas, o livro Mecânica das Rochas chega para suprir uma lacuna num mercado que está em franca expansão. A obra é lançamento da editora Oficina de Textos.

A Mecânica das Rochas vem ganhando cada vez mais destaque no Brasil. Isso se deve à necessidade de mais conhecimento sobre o tema diante de obras de metrôs, poços de alta profundidade, mineração, entre outras.

“A mineração, por exemplo, até agora vinha se desenvolvendo muito na chamada zona de intemperismo, que é perto da superfície. Nesses locais, predominam os materiais intemperizados, então prevalece o comportamento de solo ou rocha extremamente intemperizada. À medida que as minas foram se aprofundando e atingiram o maciço rochoso, passou-se a ter a necessidade de pesquisar mais sobre a Mecânica das Rochas”, explica o geólogo Eduardo Marques.

É neste contexto que a editora Oficina de Textos lança o livro Mecânica das Rochas, de autoria do geólogo Eduardo Marques e do engenheiro Eurípedes Vargas. A obra, fruto de materiais preparados para lecionar a disciplina de Mecânica das Rochas em cursos de graduação e pós-graduação, foi pensada para suprir uma lacuna que existe na bibliografia em língua portuguesa, que conta com um único livro sobre o assunto, lançado em 1973 por Manoel Rocha, o pai da Mecânica das Rochas.

Capa de Mecânica das Rochas.

A estrutura do livro

Dividido em quatro capítulos, o livro Mecânica das Rochas aborda, na introdução, os conceitos e as aplicações. O segundo capítulo é dedicado a mineralogia, rochas, intemperismo, como o intemperismo influencia as propriedades das rochas etc.

O terceiro é o capítulo mais importante da obra. Ali os autores falam sobre as propriedades mecânicas, geomecânicas e geológicas das rochas, das descontinuidades e dos maciços rochosos. “Apesar do capítulo ter um enfoque de propriedades, baseado em ensaios de laboratório ou ensaios de campo, procuramos inserir também aspectos práticos, comentando alguma aplicação prática, seja para mineração, taludes, escavação ou mineração subterrânea…”, explica Eduardo Marques.

O quarto capítulo trata de permeabilidade. E o livro termina com um anexo sobre projeção estereográfica, uma ferramenta muito utilizada em análises cinemáticas envolvendo maciços rochosos.

Mecânica das Rochas é uma obra que pretende atender às necessidades e aos interesses de todos os profissionais que lidam com rochas – geólogos, engenheiros de minas, engenheiros civis, engenheiros geológicos, engenheiros ambientais etc.

Características brasileiras

No Brasil, assim como os solos residuais são mais espessos, as rochas também têm suas peculiaridades. “As rochas brasileiras – e as de clima tropical como um todo – sofrem um processo de intemperismo particular”, explica Marques. “O nosso clima favorece demais o intemperismo químico, o que não ocorre com frequência no hemisfério Norte ou em regiões de clima temperado. O resultado disso é que as nossas rochas sofrem um ataque químico muito grande. Os minerais se transformam muito. Há muita mudança mineralógica, muita mudança química resultante desse processo de intemperismo causado pelo clima tropical”.

Diante disso, a Mecânica das Rochas no Brasil é muito voltada aos materiais intemperizados, às chamadas rochas brandas (weak rocks) – aquelas naturalmente brandas, que têm baixa resistência, como os filitos e os xistos, ou aquelas que têm bom comportamento mecânico, mas que, em função do ataque do intemperismo, passam a se comportar como rochas brandas, como as rochas intemperizadas gnaisses, granitos e outras.

Essa peculiaridade brasileira está, inclusive, contemplada no livro Mecânica das Rochas. “No principal capítulo do livro, o terceiro, em todas as propriedades são apresentados dados desde a rocha sã, sem intemperismo nenhum, até a rocha extremamente intemperizada. Sempre que possível, apresentamos propriedades para os diversos níveis de intemperismo”.

A Mecânica das Rochas e a Mecânica dos Solos

“Ainda não há uma definição clara do limite entre o que é solo e o que é rocha”, afirma Marques. “Os critérios usados para definir o que é solo e o que é rocha não se aplicam a todos os materiais. Existe uma série de tentativas de separação, mas nenhuma delas é definitiva”.

No Brasil, estão sendo desenvolvidas técnicas para diferenciar rochas brandas e solos. Essas técnicas se valem de diversos aspectos práticos de campo, como o golpe do martelo, o risco ao canivete suíço, o risco à unha, a pressão sobre os dedos e outras para buscar essa definição.

Confira a entrevista na íntegra:

Sobre os autores

Eduardo Marques – Formado em Geologia, mestre e doutor em Mecânica das Rochas, Eduardo Marques atua em Mecânica das Rochas há mais de 30 anos. Ele foi o criador da disciplina de Mecânica das Rochas no curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa, onde é professor titular. É consultor na área Mecânica das Rochas e atua também em projetos de pesquisa e extensão. “Gosto muito da área de aplicação. Trabalho mais com Mecânica das Rochas aplicada, geologia de engenharia aplicada. Estou sempre envolvido em projetos de aplicação, especialmente em mineração, obras civis e obras subterrâneas”, afirma o autor.

Euripedes A. Vargas Jr. – Possui graduação em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (1972), mestrado em Geotecnia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1975), mestrado em Mecânica de Rochas – Imperial College, University of London (1978) e doutorado em Mecânica das Rochas – Imperial College, University of London (1982). Atualmente é professor do Quadro Complementar do Departamento de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem atuado nas seguintes áreas: Mecânica de Rochas Aplicada, Geomecânica do Petróleo e Geotecnia Ambiental.