Mina do Feijão: aspectos gerais da Barragem I

Entenda um pouco mais sobre a barragem da Mina do Feijão, que rompeu em Brumadinho, deixando mais de 165 pessoas mortas e outras 160 desaparecidas

O Sistema Córrego do Feijão faz parte do Complexo Minerador Paraopebas, de propriedade da Vale, sendo constituído pelas Barragens I e VI, que têm como finalidade conter os rejeitos finos provenientes do tratamento do minério e reservar água para reaproveitamento no processo industrial, respectivamente.

Vista aérea da região de Brumadinho, onde se rompeu a barragem Mina do Feijão. à direita, pedaços de vegetação e, à esquerda, lama e árvores tombadas.

Vista aérea da região de Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte, onde se rompeu a barragem Mina do Feijão (Fonte: BBC Brasil)

Localização do sistema

O Sistema Córrego do Feijão está localizado na Mina do Feijão, o Alto do Curso da Bacia do Rio Paraopebas, nas cabeceiras do ribeirão Ferro-Carvão, afluente pela margem direita do Paraopebas, em terras do município de Brumadinho, Minas Gerais, com coordenadas UTM: 591.942,97 e; 7.775.032,00 N (Datum WGS 84).

Barragem I da Mina do Feijão

A Barragem I da Mina do Feijão foi implantada em 1976 e tem como finalidade a contenção de rejeitos finos e provenientes da instalação de tratamento de minério, com reaproveitamento da água no processo industrial.

Foto de Brumadinho após a tragédia, com corredores de lama entre pedaços de vegetação.

Tragédia em Brumadinho acontece três anos depois do desastre ambiental em Mariana (Fonte: Portal G1)

Dados gerais

O maciço inicial (dique de partida) é constituído por aterro homogêneo de material drenante. A barragem inicial, com 18,00 m de altura máxima, teve coroamento na elevação 874,00 m, contando com uma berma na elevação 864,00 m, no talude de jusante.

Os aterros do 4° ao 9° alteamento foram construídos pelo método de montante, com maciço compactado, constituído de materiais provenientes da praia de rejeitos e das escavações obrigatórias. O dique do 9° alteamento com crista na elevação 937,00 m, foi construído com solos argilo-siltosos compactados.

Os taludes de jusante foram protegidos por uma camada de solo argiloso adubado, propício para o desenvolvimento de grama. A crista e os taludes de montante foram protegidos por uma camada de cerca de 0,20 m de canga laterita.

O sistema de drenagem interna é composto por filtro vertical associado a um tapete drenante lançado diretamente sobre a praia de rejeitos. Na extremidade de jusante, o tapete está conectado a uma trincheira drenante, no fundo da qual existem tubos tipo PVC perfurados e posicionados longitudinalmente, com saídas a cada 20,00 m, de forma a conduzir a água para as canaletas de superfície.

O sistema de drenagem superficial é composto por canaletas de concreto e descidas em degraus, implantadas nas bermas e nos taludes.

Foto dos alteamentos da Barragem Casa de Pedra.

Exemplo de alteamentos na Barragem Casa de Pedra, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), cinco vezes maior do que Brumadinho tira sono de moradores de cidade (Fonte: Indicador Congonhas)

Etapas de construção da Mina do Feijão

A barragem da Mina do Feijão foi inicialmente implantada em 1976, com crista na elevação 874,00 m, sofrendo cinco alteamentos sucessivos de 3,00 m de altura cada, atingindo coroamento na elevação 889,00 m. Posteriormente, teve sua crista alteada até a elevação 894,00 m, com envelopamento do maciço associado a alteamentos de 5,00 m. A partir do 4° alteamento, o eixo da barragem foi deslocado para montante do eixo inicial. Foram complementadas as obras do 9° alteamento pelo método de montante, com maciço de rejeito compactado sobre a praia de rejeitos, atingindo a elevação 937,00 m e altura máxima de 81,00 m.

Geologia e fundações

Resumidamente, na região da barragem, o maciço rochoso é representado por gnaisses bandados, sendo a área do barramento capeada por horizonte de material terroso, constituído de solos saprólitos/ residual/coluvionar. Esses solos apresentam boa capacidade de suporte e permeabilidade baixa.

Em geral, os diques dos alteamentos foram assentados em terrenos constituído por solos residual/saprólito, nas ombreiras, e pelas praias de rejeito e aterro do dique subjacente, no trecho central. Nas fases de tratamento da fundação dos aterros, a camada de solos superficial de baixa consistência/compacidade e/ou contaminada foi removida.

Em todas as fases de alteamento, foram efetuadas campanhas de sondagens com ensaios SPT e de infiltração e ensaios de laboratório para a investigação da fundação. Recentemente, para análise das condições de estabilidade física do maciço, foram executadas campanhas de investigações de campo e laboratório visando pesquisar as características dos maciços de alteamentos, maciço inicial, especialmente quanto ao terreno de fundações e ao sistema de drenagem interna.

Monitoramento da Barragem I da Mina do Feijão

A instrumentação da Barragem I da Mina do Feijão é basicamente composta de piezômetros, tipo Casagrande, indicadores de nível de d’água, inclinômetros, marcos topográficos e medidores de vazão de percolação pelos tubos de drenagem dos tapetes horizontais.

O monitoramento é feito por meio de leituras periódicas dos instrumentos. Para o controle dos resultados, as leituras são lançadas em tabelas e gráficos e comparadas em conjunto e individualmente com três níveis de segurança: atenção, alerta e emergência, conforme premissas estabelecidas em projeto.

Sistema extravasor

O atual sistema extravasor, implantado na ombreira direita, é um vertedor do tipo torre, com galeria de fundo, soleira variável, por meio de stop-logs, e um canal a jusante, para adução da água extravasada até a Barragem VI. Para o dimensionamento hidráulico do extravasor, foram desenvolvidos estudos hidrológicos, considerando-se a vazão de cheia para chuva com tempo de retorno decamilenar, tendo em vista o porte da barragem e seu potencial de dano a jusante, em caso de ruptura.

Com base nesses estudos, o sistema extravasor foi dimensionado conforme características descritas a seguir:

  • Três torres, em seção retangular, com aberturas de 1,40 m de largura e 1,00 m de profundidade, com 5,00 m de altura máxima, aberta em um dos lados, onde são instalados os stop-logs;
  • Galeria de fundo, com seção retangular, com 1,00 m de lado e 1,40 m de altura com extensão de cerca de 310,00 m;
  • Canal a céu aberto, de seção retangular, com 1,00 m de largura e 1,50 m de altura, com um trecho inicial contínuo e outro, final, em degraus, descarregando a vazão extravasada no reservatório da barragem VI.

Para saber mais

Publicado pela Ofitexto, o livro Barragens de terra e enrocamento, de Sandro Salvador Sandroni e Guido Guidicini, aborda aspectos fundamentais sobre a incidência de acidentes em barragens de terra e enrocamento. Ao longo de seus nove capítulos, se aprofunda em assuntos como a percolação em aterros, pelas fundações e por interfaces.

Capa de Barragens de terra e enrocamento.

Além disso, traz um capítulo específico sobre barragens de rejeitos de mineração, que explica os tipos de barragens, além de características e disposição dos rejeitos, e apresenta um estudo sobre as barragens do Fundão e de Brumadinho, em que se discute desde a geometria dos reservatórios até a descrição da ruptura e o monitoramento geotécnico.