Mineração: a prática da estocagem

Nas usinas, é sempre necessária a formação de estoques de matéria‑prima, de produto acabado ou, ainda, estocagem de produtos intermediários, por alguma das seguintes razões:

  1. Formação de reservas para a operação na época de chuvas, paradas previstas ou de emergência da mina.
  2. Pulmão entre operações de períodos ou vazões diferentes (por exemplo, entre usina de concentração operando três turnos diários e mina e britagem primária operando apenas um).
  3. Aguardar a chegada do meio de transporte (trem ou navio, por exemplo) para poder embarcar.
  4. A necessidade de homogeneizar o material que alimenta determinadas unidades, para evitar flutuações das características da alimentação e consequentes perdas de controle do processo, é uma exigência cada vez mais frequente da operação industrial.

A estocagem, genericamente, pode ser efetuada de três maneiras: em vagões ferroviários, em silos e em pilhas.

A estocagem em vagões ferroviários não é prática usual no Brasil, embora seja comum nos EUA, especialmente com carvão para uso térmico. Ela é praticada principalmente em pontos de transbordo, para evitar a movimentação do carvão do vagão para uma pilha e da pilha para outro vagão: evitam‑se dois tombos do material! Isso significa custos, degradação do carvão, geração de poeiras e sujeira.

A imobilização de capital nessa prática é grande: a par com o capital imobilizado no terreno (da mesma ordem ou maior que em pilhas), existe o capital representado pelos vagões e ramais ferroviários, mais o lucro cessante decorrente da paralisação dos vagões. Assim, só se justifica por prazos relativamente curtos.

Entretanto, o custo operacional é praticamente nulo, bem como os efeitos do manuseio (degradação, segregação e perdas) sobre o minério estocado, de modo que deveria merecer maior atenção, especialmente no caso de matérias‑primas minerais que não demandam homogeneização. Naturalmente, a bitola das vias férreas tem que ser a mesma.

A estocagem em silos se aplica a quantidades moderadas para o consumo de, no máximo, alguns dias. É, pois, no campo da mineração, o caso característico é de estoques intermediários ou de estoques de material em processamento durante o beneficiamento.

A estocagem em pilhas é o método mais utilizado na mineração. Deve‑se ter em mente que estocar em pilhas exige regras e critérios e tem limitações sérias quanto, por exemplo, à perecibilidade do material e à granulometria (para evitar perdas pela ação do calor, do vento e da chuva, além da contaminação por outros materiais), que impedem a sua utilização, ou exigem cuidados especiais no projeto do pátio, ou, ainda, forçam providências complementares (pilhas cobertas, por exemplo).

A grande vantagem sobre os outros processos é a de permitir a estocagem de grandes quantidades, por longos períodos de tempo e a custo relativamente baixo. É claro que condições especiais exigem soluções especiais: por exemplo, o empilhamento de fertilizantes solúveis é feito em pilhas – dentro de armazéns cobertos.

As pilhas podem ter os formatos mais variáveis, dependendo das características do material e das disponibilidades de espaço e equipamento: cônicas, prismáticas, prismas de seção trapezoidal, prismas com eixo circular ou semicircular etc.

A altura da pilha dependerá da degradação mecânica do material sob o peso das camadas sobrejacentes, das características do solo em que se apoia a pilha e do equipamento disponível.


Para saber mais

Para saber mais deste assunto confira o livro, Manuseio de sólidos granulados organizado por Arthur Pinto Chaves. Esta obra é o 5º volume da coleção Teoria e Prática do tratamento de minérios.

Capa de Manuseio de sólidos granulados.

Manuseio de sólidos granulados aborda de forma didática os principais temas relacionados ao manuseio e estocagem de sólidos granulados, como estocagem em pilhas e silos, alimentadores, transportadores de correia, amostragem e disposição de rejeitos. Repleto de ilustrações e exercícios resolvidos, esta é uma referência essencial para acadêmicos, estudantes e profissionais das áreas Mineração e Metalurgia.