Quando algum amigo ou parente olha minha coleção de minerais, é normal que pergunte o nome de alguns deles. E quando informo esses nomes, é comum dizerem:
– Que nomes complicados!
Há, de fato, espécies minerais cujos nomes podem ser considerados “complicados”, como zektezerita, radhakrishnaíta, jarosewichita e o mais longo de todos, ferriclinoferro-holmquistita sódica. Mas há nomes extremamente comuns e simples, como quartzo, ouro, pirita, topázio etc.
Na verdade, mesmo os nomes de minerais mais difíceis de escrever ou pronunciar são até simples se comparados aos nomes de animais e vegetais. Nestes dois casos, o nome oficial das espécies, ou seja, o nome científico, é formado sempre por duas palavras e ambas em latim. A pequena pulga, por exemplo, chama-se Pulex irritans. O simpático e onipresente pardal é o Passer domesticus. A banal cenoura é Daucus carota. E por aí vai.
É comum que animais e plantas recebam diferentes nomes populares conforme o país ou mesmo conforme a região de um mesmo país. O simpático quero-quero dos gaúchos é o téu-téu dos baianos, e o jerimum deles é a nossa abóbora aqui no Sul. Daí a necessidade de disciplinar o assunto estabelecendo nomes que sejam aceitos e reconhecidos no mundo todo. E este nome é o nome científico, de duas palavras latinas. É através deles que os cientistas se entendem.
Aliás, não só os cientistas. Uma amiga bióloga que estava morando no exterior havia pouco tempo, quando queria comprar peixe olhava num dicionário de português qual era o nome científico do animal. A seguir, num livro de Biologia que tinha em casa, procurava o nome científico e via como o peixe se chama em inglês. Aí, estava pronta para ir ao mercado.
Com os minerais, não sei por quê, nunca foi adotada a nomenclatura científica latina. Eles recebem um nome de uma só palavra (com raras exceções), variando apenas a terminação. Usualmente, no português brasileiro e no espanhol eles terminam em –ita ou –lita; no português europeu, francês e no inglês, terminam em –ite ou -lite.
Isso vale para os nomes mais modernos e para os nomes das espécies novas que vão sendo escritas. Mas há nomes muito antigos (a Bíblia tem muitos deles) que não seguem essa regra, como jade, esmeralda, rubi, quartzo, mica etc.
E quem determina se um nome está correto ou foi bem escolhido? Para animais e plantas deve haver organizações científicas encarregadas disso, mas não sei quais são. Para os minerais, existe a Comission on New Minerals Nomenclature and Classification, da International Mineralogical Association. Ela determina não apenas se o nome proposto para um novo mineral está bem escolhido e se ele já não existe (caso em que a proposta é recusada), mas também se a nova espécie foi adequadamente estudada e descrita.
Vanadinita (Fonte: Blog Percio M. Branco)
E os autores, em que se baseiam para propor o nome de um mineral novo? Pesquisa que fiz recentemente mostra, em números redondos, que 40% dos novos nomes homenageiam uma pessoa, como ruifrancoíta (homenagem ao brasileiro Rui Ribeiro Franco); 30% fazem alusão ao local onde o mineral foi descoberto, como bahianita (de Bahia); 21% referem-se à composição química do mineral, como vanadinita, um vanadato; e 6% fazem alusão a alguma propriedade do mineral, como azurita (por ter a cor azul). Os 3% restantes têm outras origens.
Entre esses 3% que têm outras origens, há muitos casos curiosos e engraçados. Mas isso é conversa para outro dia.
Tudo a ver
Leia mais no Blog Percio M. Branco. Lá também encontrarão outros ótimos artigos sob a perspectiva de um geólogo.
Pércio M. Branco é geólogo e especialista em Economia Mineral. Atualmente é professor e consultor de Gemologia, além de autor de outros cinco livros, entre eles o livro Dicionário de Mineralogia e Gemologia, publicado pela Oficina de Textos, e dezenas de artigos. Organizou e dirigiu por 12 anos o Museu de Geologia em Porto Alegre e chefiou o projeto de mapeamento gemológico do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.