Entrevista com os autores de Sensoriamento remoto da vegetação

Fizemos uma entrevista exclusiva com os autores do livro Sensoriamento remoto da vegetação, Flávio Ponzoni (engenheiro florestal pela Universidade Federal de Viçosa, mestre e doutor em Ciências Florestais), Yosio Shimabukuro (engenheiro florestal pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestre em Sensoriamento Remoto e PhD em Ciências Florestais e Sensoriamento Remoto) e Tatiana Mora Kuplich (bióloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especializada em Organização do Espaço, mestre em Sensoriamento Remoto e PhD em Geografia). Confira!

Capa de Sensoriamento remoto da vegetação.

A segunda edição de Sensoriamento remoto da vegetação está disponível em nossa livraria técnica!

Comunitexto (CT): Boa tarde! Gostaríamos de saber o que mudou com o passar dos anos no Brasil em termos de sensoriamento remoto, em especial da vegetação?

Autores: Os primeiros anos da aplicação das técnicas de sensoriamento remoto em estudos de vegetação tiveram início com o Projeto Radambrasil na década de 1970. Tratava-se de uma abordagem qualitativa na qual explorava-se a região das micro-ondas e um sensor aerotransportado para gerar imagens que, uma vez interpretadas, permitiram a elaboração de mapas temáticos da cobertura vegetal de todo o território nacional. Esse tipo de abordagem prosseguiu por alguns anos como a grande ênfase desse tipo de aplicação, mesmo com dados orbitais gerados por sensores eletro-ópticos atuantes em regiões espectrais do chamado “espectro-óptico” (visível, infravermelho próximo e infravermelho médio).

Atualmente, esse tipo de abordagem ainda é amplamente explorado, porém aquelas de cunho mais quantitativo ganharam força nos últimos anos. Nelas, procura-se não só identificar e mapear diferentes classes de cobertura vegetal, como também quantificar parâmetros biofísicos como biomassa aérea, índice de área foliar etc. Talvez tenha sido essa a mudança mais significativa da aplicação do sensoriamento remoto sobre o estudo da vegetação.

CT: Quais são os desafios enfrentados hoje para realizar um trabalho de sensoriamento remoto?

Autores: Atualmente um dos principais desafios reside na relativa e temporária escassez de dados de média resolução espacial, como aqueles gerados pelo sensor Thematic Mapper que, durante mais de duas décadas, municiaram as comunidades acadêmicas e coorporativas. Tal escassez não é explicada por custo, uma vez que há tendência generalizada de distribuição gratuita das imagens, senão pela falta de sensores em funcionamento mesmo. No caso dos estudos da cobertura vegetal, sensores dotados de diferentes capacidades podem ser aplicados, obviamente exigindo estudo prévio do potencial e das limitações que eles oferecem aos objetivos pretendidos.

Além desses aspectos relacionados à disponibilidade dos dados, temos a necessidade de disseminação de conhecimentos referentes à interação da radiação eletromagnética com dosséis vegetais entre os profissionais interessados em aplicar sensoriamento remoto em abordagens mais quantitativas.

CT: A evolução da tecnologia também colaborou para o aperfeiçoamento do sensoriamento remoto da vegetação? Ou essa relação não é direta assim?

Autores: A relação do desenvolvimento tecnológico e o aperfeiçoamento da aplicação do sensoriamento remoto no estudo da vegetação é bastante estreita. Nos últimos anos temos assistido aprimoramentos na resolução espacial de novos sensores e na possibilidade de coleta sistemática de dados fora do nadir. Esses dois aprimoramentos permitem explorar as características anisotrópicas da reflexão da radiação eletromagnética de fósseis vegetais, tornando possível a extração de informação sobre a estrutura horizontal. Este é apenas um exemplo da afinidade entre tecnologia e a aplicação do sensoriamento remoto na vegetação.

CT: Quais são os principais benefícios do sensoriamento remoto da vegetação para o país?

Autores: Temos vários aspectos a serem considerados aqui. O primeiro deles refere-se ao próprio conhecimento sobre a distribuição da cobertura vegetal sobre o território nacional, que somente foi possível através da aplicação do sensoriamento remoto. Territórios remotos e/ou nunca observados ou mapeados passaram a ser representados oficialmente mediante a análise de dados coletados remotamente.

Um segundo aspecto refere-se ao monitoramento da cobertura vegetal. Projetos como o PRODES (Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélite), que divulga periodicamente os valores de desflorestamento bruto na Amazônia, ou o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, que quantifica os impactos antrópicos sobre os remanescentes florestais desse importante bioma brasileiro, só foram viabilizados mediante a aplicação do sensoriamento remoto.

Um terceiro aspecto refere-se às respostas que foram dadas à comunidade internacional sobre a responsabilidade do Brasil nas emissões de CO2 na atmosfera, que nasceram também da quantificação de biomassa florestal mediante a aplicação do sensoriamento remoto.

CT: O que a segunda edição do livro Sensoriamento remoto da vegetação tem de diferente da primeira? Quem adquiriu a primeira edição pode adquirir a segunda, ou seja, haverá novidades para quem comprar?

Autores: A grande novidade é a inclusão de todo um capítulo novo sobre aplicações de radar em estudos de vegetação. Contamos com a experiência da Dra. Tatiana Kuplich, que há muitos anos vem trabalhando esse tema no Inpe. A segunda edição desse livro é, portanto, complementar à primeira.

Para conhecer mais sobre o livro Sensoriamento remoto da vegetação, confira a outra entrevista da autora Tatiana Kuplich ao Comunitexto!