Mandioca, aipim, macaxeira, uaipi, maniva são alguns dos nomes em que essa importante tuberosa é conhecida no País
Veja a parte 1 aqui.
9. Além de alimento por si só, a mandioca também é matéria-prima para variados produtos industrializados?
As raízes tuberosas da mandioca contêm elevado conteúdo de amido, que é um carboidrato muito demandado em indústrias diversas. E o amido, esteja ele em estado natural (fécula nativa) ou quimicamente modificado (amidos catiônicos, oxidados, esterificados, fosfatados e produtos gelatinizados), ao ser usado nas indústrias, resulta em um grande número de produtos. Exemplos: indústria de cosméticos em geral; indústria de papel e celulose; indústria têxtil; frigoríficos; indústria farmacêutica; cervejarias; prospecção de petróleo; indústria de explosivos; movelarias etc.
10. Ela também é uma fonte na produção de etanol? É uma fonte de energia renovável?
As raízes tuberosas de mandioca são ricas em amido (21-33%) e, portanto, constituem importante fonte de energia renovável. Na atualidade a mandioca vem sendo utilizada na produção de biocombustível, uma vez que apresenta elevado rendimento de etanol (211 L ton–1). Isso vem ocorrendo principalmente na África e na Ásia, mas temos que considerar que, principalmente no Brasil, temos outras espécies que são muito mais competitivas para a produção de etanol, entre elas a cana-de-açúcar, o milho e o sorgo sacarino.
Vale destacar também que o álcool extraído da mandioca é muito utilizado em outros segmentos, entre os quais destaca-se a indústria de perfumaria e de cosméticos, por ele ser menos corrosivo.
Além de ser utilizado na produção de etanol, o tratamento dos resíduos líquidos (efluentes) oriundos das indústrias de processamento de mandioca, denominados manipueira, vem sendo utilizado na produção de biogás. A partir dos efluentes oriundos de uma fecularia podem ser gerados, em um biodigestor, em torno de 1,075 m³ de metano para cada 343 L de manipueira.
11. A utilização da mandioca na alimentação animal
PSVF: Em todas as regiões tropicais e subtropicais onde a mandioca é cultivada, ela é muito utilizada na alimentação animal. Na alimentação animal vale destacar que tanto as raízes tuberosas quanto a parte aérea e os resíduos industriais são utilizados seja na forma in natura, seja na forma de rapas, farinha de raspas, de feno, ou de silagem. Quando da utilização in natura, seja da parte aérea, seja das raízes tuberosas ou de resíduos industriais, há que se tomar medidas que contribuem para a eliminação do princípio tóxico (HCN) e, assim, evitar intoxicação dos animais. Exemplo: expor as folhas ao sol de um dia para outro; picar as raízes tuberosas e expô-las ao sol; expor as casquinhas ao sol etc.
12. A produção no mundo e no Brasil
Na atualidade, conforme dados da Food Agriculture Organization (FAO, 2019), a área ocupada pela cultura da mandioca, nas diversas regiões tropicais e subtropicais onde ela é cultivada, foi de 27,5 milhões de hectares, com uma produção de 303 milhões de toneladas, e produtividade média de 11.030 kg/ha de raízes tuberosas.
Vale ressaltar a participação do continente africano, que contribuiu com 192 milhões de toneladas, o que representa cerca de 60% do total mundial. Entre os principais países produtores de mandioca no continente africano, destacam-se: Nigéria (31%), República Democrática do Congo (13%) e Gana (7%). A Nigéria também é destaque mundial pois, em 2019, contribuiu com cerca de 20% do total mundial.
Na Ásia, a cultura da mandioca já atingiu um grau tecnológico bastante avançado, diferente da África, que produz em pequena escala e com pouca tecnologia. Entre os principais países produtores asiáticos, destacam-se a Tailândia (10% a 12%) e a Indonésia. No caso da Tailândia, destacam-se as indústrias de fécula e de pellets, focando especificamente o mercado internacional. Atualmente, as exportações tailandesas atingem cerca de 85% do mercado internacional, sendo que o principal destino é a União Europeia e a China.
No caso da América Latina, que já foi líder na produção mundial de mandioca, a participação atual é de apenas 6% a 8%, tendo como principal produtor o Brasil, que tem contribuído com média de 18 milhões (70% a 75%), do total dos 24 milhões produzidos no continente.
No Brasil, o cultivo da mandioca está presente em todas as regiões e em todos os municípios, sendo que a maior produção se concentra nas regiões Norte e Nordeste do País. Na safra agrícola de 2020/21, a Região Norte participou com 35,2%; o Nordeste, 19,7%; o Sul, 24,1%; o Sudeste, 13,5%, e o Centro-Oeste com 7,5% do total produzido.
Perspectivas:
Com o crescimento da população mundial e o consequente aumento da demanda de alimentos, a produção mundial de mandioca tende a crescer, principalmente nos países africanos e asiáticos.
Por sua vez, no Brasil, as perspectivas não são muito favoráveis, em função da competitividade de outras culturas mais rentáveis, entre elas a soja e o milho. Entretanto, a curto prazo, com o agravamento dos problemas geopolíticos atuais, associado às propaladas mudanças climáticas, o abastecimento mundial de trigo tem sido bastante prejudicado, ameaçado. Isso abre uma janela de oportunidade para a cultura da mandioca, tendo em vista que pesquisas recentes indicam que a adição de 25-30% de Fécula de Mandioca (amido) na farinha de trigo não afeta a qualidade do pão nosso de cada dia. E assim, a adição da fécula de mandioca na farinha de trigo aliviaria a demanda pelo abastecimento do trigo no País.
Outro ponto a ser buscado pelos industriais, e que não tem sido fácil ao longo dos anos, é a participação no mercado internacional de amido e de derivados. Mas, para isso, é necessário que ocorra a modernização dos diversos elos da cadeia produtiva de forma a ganhar competitividade.
No que se refere à mandioca de mesa, o que se espera é que os programas governamentais de incentivo à agricultura familiar sejam reativados, pois ela é responsável por cerca de 75-85% da produção de alimentos básicos que são consumidos no País.
13. Práticas culturais e manejo da cultura da mandioca
A cultura da mandioca apresenta um elevado potencial produtivo, entretanto, a produtividade média brasileira é considerada muito baixa, de apenas 14,9 t ha–1 de raízes tuberosas. A expressão desse elevado potencial produtivo e o consequente sucesso da lavoura vão depender do planejamento a ser seguido em todas as fases do sistema produtivo, desde a seleção das cultivares até a colheita das raízes tuberosas como produto final.
14. Fases do sistema produtivo
14.1 Escolha de cultivares
Na escolha das cultivares de mandioca a serem plantadas, o primeiro passo a ser seguido é a definição do mercado a ser atendido, ou seja, se será dada ênfase à produção de mandioca de mesa (consumo in natura) ou para a indústria (farinha, fécula).
As cultivares destinadas à indústria devem apresentar as seguintes características: porte ereto, vigorosa, tolerância/resistência às doenças como bacteriose, superalongamento, antracnose e podridão de raízes tuberosas, película suberosa creme e lisa, e, principalmente, apresentar elevado conteúdo de massa seca e de amido.
As cultivares destinadas ao consumo in natura, além de ser produtivas, tolerantes/resistentes às doenças etc., em geral, devem primordialmente ser saborosas, quer cruas ou cozidas, apresentar polpa de coloração creme a amarela e um baixo tempo de cozimento.
14.2 Material de plantio
14.2.1 Campo de produção de ramas
A mandioca é uma planta alógama, ou seja, apresenta flores masculinas e femininas e, em geral, produz poucos frutos e poucas sementes. Diante disso, a propagação da cultura se dá por meio vegetativo. Nesse contexto, a produção de material de plantio em quantidade e de elevada qualidade torna-se fundamental. O procedimento adequado a ser seguido na obtenção de material de plantio de qualidade é a instalação de campo de produção de ramas ou campo de manivas-semente. Este campo nada mais é do que uma determinada área de lavoura em que a cultivar desejada será multiplicada. Esta lavoura deverá ser muito bem conduzida, acompanhada com muita atenção ao longo de todo o ciclo, de forma que, ao final, tenhamos plantas uniformes, vigorosas, sadias, produtivas, cujas ramas serão usadas na implantação de outras lavouras.
Outro ponto importante a ser considerado no planejamento de uma lavoura madura, com 8 a 12 meses de ciclo, é a capacidade de produção de material de plantio de mandioca, que é de 16 a 20 m³ de ramas por hectare. Para o plantio de um hectare, são necessários 4 a 5 m³ de ramas, que por ocasião do plantio serão fracionadas em pedaços de 15 a 20 cm de comprimento, e com 2 a 3 cm de diâmetro. Nas diversas regiões do País, tais pedaços recebem denominações distintas: manivas-semente, manivas, manaíbas, estacas, toletes ou rebolos, que são pedaços das hastes ou de ramas oriundas das partes medianas e basais da planta de mandioca.
14.2.2 Colheita e armazenamento de ramas
Por ocasião da maturação da lavoura e da colheita das ramas, deve-se ter o máximo cuidado para manter a qualidade das mesmas. Em virtude das condições climáticas locais, e das épocas de plantio e de colheita, é comum não haver coincidência nas épocas de colheita e de plantio. Assim sendo, é necessário que, imediatamente após a colheita das ramas, elas sejam enfeixadas e, a seguir, protegidas dos raios solares diretos e de ventos frios e quentes, uma vez que a desidratação é a maior causa de perda de qualidade das ramas para o plantio.
Em geral, em regiões onde no inverno as temperaturas são mais amenas, o armazenamento dos feixes de ramas, na posição vertical, é efetuado em local seco, bem drenado, à sombra de árvores, situado o mais próximo possível da lavoura de onde as ramas foram colhidas. Além disso, os feixes de ramas devem ser cobertos com capim seco sem sementes. Por sua vez, em regiões de inverno com temperaturas muito baixas, o armazenamento das ramas é efetuado em silos trincheira e em galpões.
Ramas de mandioca armazenadas embaixo de planta de mangueira. FEI-UEM, Iguatemi, PR (Fonte: Vidigal Filho, 2000)
Vale lembrar que o armazenamento por tempo superior a 40 a 60 dias, além de perda de qualidade das manivas-semente (brotação e vigor), propicia perda superior a 30% na quantidade de manivas aproveitadas no plantio.
Outro ponto a ser considerado é que o transporte dos feixes de ramas deve ser efetuado com máximo cuidado possível, de forma a que elas não venham a ser danificadas.
14.2.3 Arranjo de plantas a ser utilizado em lavouras de mandioca
No Brasil, em função da variabilidade das condições edafoclimáticas, tem-se uma variação muito grande nos sistemas de produção utilizados em lavouras de mandioca, cujo destino seja para mandioca de mesa ou para indústria.
Assim sendo, no planejamento da cultura há que se considerar a realidade em que se está trabalhando, pois o arranjo e a população de plantas irão depender das características da(s) cultivar(es), da fertilidade do solo, dos métodos de plantio, dos tratos culturais/fitossanitários e, principalmente, dos métodos de colheita.
Em geral, nos arranjos de plantas em fileiras simples, o espaçamento tradicionalmente utilizado é de 1,0 m entre fileiras e de 0,60 m entre plantas, totalizando 16.666 plantas por hectare. Entretanto, em solos de baixa fertilidade, onde as plantas não expressam todo o seu vigor, utiliza-se o espaçamento de 0,80 m × 0,50 m, que totaliza 25.000 plantas por hectare.
Um outro arranjo que também pode ser utilizado é o de fileiras duplas, onde o espaçamento mais comum é o de 2,0 m × 0,60 m × 0,60 m, que, ao final, totaliza 12.820 plantas por hectare. Esse arranjo propicia a mecanização e a consorciação, além de facilitar a inspeção e aplicação de defensivos e a capina, aumentar o índice de uso da terra e a rentabilidade da cultura.
14.2.4 Sistemas de plantio
Considerando o cultivo da mandioca em todas as regiões brasileiras, tem-se uma variação muito grande nos níveis de adoção de tecnologias e nos sistemas de produção utilizados e, consequentemente, são encontrados os cultivos em grandes e pequenas áreas com preparo convencional de solo (aração e gradagem), plantio direto ou roças de toco; plantios em fileiras simples ou fileiras duplas, ou mesmo os plantios consorciados com culturas anuais.
O plantio de mandioca pode ser efetuado manualmente em covas, em sulcos, camalhões etc., e/ou mecanizado (sulcos). Por ocasião do plantio, as manivas-semente podem ser colocadas na horizontal (deitadas), na vertical ou inclinadas (45° de inclinação). Em geral, as covas são abertas manualmente com enxadas e os sulcos com sulcadores de tração animal ou mecanizado, com 8 a 10 cm de profundidade. As manivas devem ser bem cobertas com terra, de forma a evitar a sua desidratação.
Um ponto importante a ser considerado é que, em lavouras mecanizadas, a velocidade média de plantio deve ser de 4,0 km/h, para evitar redução na eficiência de cobertura das manivas e evitar a exposição destas aos raios solares, com consequente desidratação. Plantio em velocidades maiores (7,0 km/h) resultará em redução de brotação, falhas nas lavouras e redução de produtividade.
14.2.5 Poda da mandioca
Em geral, as lavouras de mandioca podem e são conduzidas em 1 ciclo (8-12 meses) ou 2 ciclos (12-18 meses). No caso de lavouras de segundo ciclo, cujas raízes são destinadas ao uso industrial, é prática comum proceder à poda, por ocasião do inverno, quando as plantas se encontram em repouso. Tal prática, que pode ser efetuada manual ou mecanizada, consiste em eliminar as ramas das plantas na altura de 20 a 30 cm, e deve ser feita com muito cuidado, de forma a evitar danos às plantas. O objetivo da poda é facilitar os tratos culturais, especialmente controle de plantas daninhas, obtenção de ramas para manivas-semente, controle de pragas e de doenças, e uso das ramas na alimentação animal.
14.2.6 Controle de plantas daninhas
As plantas invasoras da cultura da mandioca competem por água, nutrientes e luz, além de ser hospedeiras de pragas e doenças, o que se traduz em rendimentos muito baixos. Além disso, elas dificultam os tratos culturais e a colheita, reduzem a qualidade das raízes tuberosas, e aumentam os custos de produção, tanto no primeiro quanto no segundo ciclo das lavouras.
14.2.6.1 Período crítico de controle de plantas invasoras
De forma a evitar uma interferência negativa e significativa das plantas invasoras sobre a produtividade da mandioca, o controle dessas plantas deve ser realizado no período entre 10 dias e 100 dias após a emergência das brotações.
14.2.6.2 Métodos de controle de plantas invasoras
No controle de plantas invasoras são utilizadas práticas culturais, mecânicas e química. Entre as práticas culturais efetivas a ser utilizadas destacam-se o uso de material de plantio de qualidade; arquitetura e vigor da cultivar; preparo adequado do solo; arranjo de plantas; adubação; controle de pragas e de doenças.
Entre as práticas mecânicas usadas no controle das invasoras temos a capina manual, com o uso de enxadas, e a utilização de cultivadores, seja de tração animal ou tração mecanizada. Quando da utilização de capinas mecânicas, em capinas tardias, há que se ter muito cuidado para não danificar as raízes tuberosas mais superficiais, uma vez que, caso isso aconteça, elas irão apodrecer.
Quanto à utilização de herbicidas, é bom lembrar que devem ser considerados os seguintes passos: avaliar o tamanho da área a ser cultivada; as espécies de invasoras predominantes no local; o teor de matéria orgânica e textura do solo; a umidade do solo; o preparo adequado do solo; a seletividade e registro do produto para a cultura.
Na atualidade encontram-se registrados diversos herbicidas a serem usados no controle de invasoras na cultura da mandioca, tanto em pré-plantio quanto em pré- e pós-emergência das brotações. Portanto, cabe aos produtores consultarem um Engenheiro-Agrônomo que irá efetuar as recomendações adequadas.
14.2.7 Preparo de solo para a cultura da mandioca
Por ocasião da implantação da cultura da mandioca temos que considerar algumas características da planta: a) ela apresenta um sistema radicular denominado pseudo-fasciculado tuberoso, pouco ramificado, desprovido de pelos radiculares, e que pode atingir profundidade de até 2,0 m. Entretanto, a maioria das raízes encontra-se distribuída nas camadas superficiais do solo (15 a 20 cm); b) apresenta crescimento inicial lento, o que propicia a exposição do solo às intempéries e, consequentemente, ao processo erosivo.
14.2.8 Solos para a cultura da mandioca
Tendo em vista as características do sistema radicular da mandioca, e como o principal produto são as raízes tuberosas, os solos mais adequados são aqueles profundos, friáveis (soltos), bem drenados e ausentes de compactação. Muito embora a mandioca seja cultivada em áreas com diferentes classes de solo, consideram-se os solos de textura média, adequados por possibilitarem um fácil crescimento das raízes tuberosas, pela boa drenagem e pela facilidade de colheita. Outrossim, temos que considerar que solos argilosos, bem drenados, apresentam fertilidade natural mais elevada, fato que, em geral, resulta em maior produtividade. Uma questão a ser considerada é que solo argiloso dificulta a colheita, seja manual e/ou mecanizada, dificulta o processamento pós-colheita, pois gasta-se mais água e energia na lavagem das raízes tuberosas, e, na indústria, dificulta o processo de filtragem. Além disso, a presença de resíduos de material de solo pode propiciar alteração na coloração do amido.
Neste início de século XXI, em função de perda de competitividade econômica com outras culturas tais como milho e soja, tem sido observada a expansão da cultura da mandioca para áreas de solos mais arenosos, ecologicamente mais frágeis e menos resilientes, fato que, a médio prazo, pode resultar na degradação da qualidade do solo e na perda de produtividade de raízes tuberosas.
14.2.8.1 Sistemas de preparo de solo
No planejamento da cultura da mandioca, inicialmente temos que pensar nas práticas de controle de erosão do solo, entre elas, implantar curvas de nível e terraços. Além disso, proceder à avaliação da fertilidade do solo e a presença de camadas compactadas e programar rotação de culturas. Após concluídas tais etapas, decide-se a respeito de qual sistema de preparo de solo se adequa àquela realidade.
14.2.8.2 Preparo convencional
Tradicionalmente, o sistema de preparo de solo mais comumente em uso na cultura da mandioca é aquele chamado de preparo convencional do solo, que se caracteriza pela prática de aração do solo com arado de discos ou de aivecas, ou mesmo com a utilização de grade aradora (grade pesada). Nesta condição, o preparo convencional reduz a cobertura do solo, o que, aliado ao crescimento inicial lento da planta de mandioca, ao espaçamento relativamente largo utilizado entre as linhas de plantas e à intensiva mobilização do solo por ocasião da colheita, resulta em erosão e degradação da capacidade produtiva dos solos. Além disso, temos que considerar os impactos ambientais ligados ao assoreamento e a poluição de rios e de nascentes, e a contaminação destes por pesticidas. Assim sendo, o desafio é produzir mandioca de forma sustentável!
14.2.8.3 Preparo mínimo e plantio direto
Na atualidade, os resultados de pesquisa disponíveis têm mostrado a viabilidade da redução do preparo do solo por meio da prática de preparo mínimo do solo, e de plantio direto para a cultura da mandioca.
O sistema de preparo mínimo do solo envolve o uso de implementos e de hastes (escarificadores e/ou subsoladores, arados descompactadores), que promovem menor movimentação de solo, propiciando maior infiltração de água com consequente redução das perdas de solo e água por erosão.
Por sua vez, o sistema de plantio direto, efetuado utilizando plantadeiras, propicia a movimentação do solo apenas no sulco de plantio, aberto para a deposição das manivas, mantendo a área entre as linhas da cultura coberta com os resíduos culturais, com consequente redução das perdas de solo por erosão.
14.2.8.4 Implantação de cultivo mínimo e de plantio direto em mandioca
O sucesso da implantação de cultivo mínimo e de plantio direto em lavouras de mandioca irá depender de um planejamento mais aprimorado, que deve considerar a disponibilidade de equipamentos adequados, o sistema de produção em que a cultura está inserida (rotação de culturas), as condições climáticas, e outros fatores ligados ao conhecimento técnico do manejo de invasoras e de espécies a serem utilizadas em rotação de cultura.
Ressalte-se também que o sistema de produção a ser desenvolvido necessariamente, além da mandioca, tem que incluir espécies como gramíneas (aveia, centeio, trigo, cevada, milho, sorgo, milheto, arroz etc.) que, por ocasião da colheita, produzem elevada quantidade de palhada, com elevada relação carbono/nitrogênio (decomposição lenta) e, assim, por um bom tempo, permanecerão sobre a superfície do solo, protegendo-o contra os efeitos nocivos das intempéries.
Até o momento, os estudos mostram que, de forma geral, em solos de textura média e argilosa, o plantio da cultura da mandioca com redução no revolvimento do solo (plantio direto), resulta em menores produtividades em comparação com preparo convencional e preparo mínimo, e isto se deve às propriedades físicas do solo mais restritivas ao crescimento e ao desenvolvimento das plantas. Neste contexto, a adequação de máquinas para que mobilize o solo apenas no sulco de plantio, com largura e profundidade adequados ao recebimento das manivas-sementes, é de fundamental importância para a introdução de sistemas com mínima mobilização do solo sem perdas significativas de produtividade.
Conforme produtores do Noroeste do Paraná, a implementação do sistema de plantio direto nas lavouras de mandioca tem propiciado redução de custos; maior infiltração de água nos solos; minimização de riscos (estiagem, replantio etc.); maior eficiência nas operações de preparo do solo; redução drástica de perdas de solo, água e nutrientes.
Plantio direto de mandioca sobre palhada de aveia dessecada (Fonte: Vidigal Filho, 2001)
Dessa forma, o constante aprimoramento desses sistemas de manejo do solo é fundamental para que a cultura da mandioca possa vir a ser produzida num contexto de sustentabilidade, aliando a produção com a conservação da qualidade produtiva do solo e de outros recursos naturais dos sistemas de produção.
14.3 Rotação de culturas em lavouras de mandioca
A rotação de culturas consiste na alternância, em uma mesma área e por um determinado período, do plantio de mandioca com uma outra espécie. Essa alternância de plantas, com exigências distintas, objetiva propiciar a melhoria nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo; reduzir a incidência de plantas invasoras; e quebrar o ciclo biológico de pragas e de doenças comuns à cultura.
Em geral, na cultura da mandioca, um sistema de rotação de culturas deve incluir espécies como gramíneas (aveia, centeio, trigo, cevada, milho, sorgo, milheto, arroz, brachiarias etc.), leguminosas para produção de grãos (soja e feijão comum), leguminosas para adubação verde (feijão bravo do Ceará; mucunas preta, cinzenta e anã; crotalárias, feijão de porco, feijão guandu etc.), ou ainda deixando a área em pousio protegida com a vegetação espontânea de cada região.
A implantação de forma sequencial de diferentes espécies, com características diversas, em uma determinada área propicia o incremento da massa de resíduos sobre o solo, e constitui-se numa estratégia conservacionista fundamental para reduzir a degradação dos solos cultivados com mandioca.
14.4 Época de plantio da mandioca
A mandioca é uma espécie de verão, adaptada a clima quente, que não tolera temperaturas baixas, e majoritariamente, é conduzida em ambiente de sequeiro, ou seja, é dependente do suprimento de água oriundas das chuvas. Outro ponto a considerar é que, sendo propagada vegetativamente (multiplicação de ramas), no geral, o plantio coincide com a colheita. Assim sendo, na Região Centro-Sul do Brasil, o período de plantio de mandioca inicia-se em maio e prolonga-se até setembro, com maior concentração de plantio ocorrendo nos meses de junho e julho. Caso venha a ocorrer geadas, tal como aconteceu em julho de 2021, isso não irá afetar em nada, pois, em áreas onde o plantio foi efetuado de forma adequada, as manivas estarão armazenadas no solo, e tão logo a temperatura se eleve e, com um mínimo de umidade no solo, ocorrerá a sua brotação.
14.5 Uso de irrigação na cultura da mandioca
A mandioca apresenta tolerância ao déficit hídrico quando comparada com outras culturas, entretanto, o suprimento de água é crítico nas fases de brotação/enraizamento e de tuberização. Essas fases, que ocorrem do primeiro ao quinto mês após o plantio, são responsáveis pela definição do potencial produtivo da cultura, e a falta de água nessas fases resulta em prejuízos irrecuperáveis na produção da cultura.
Em geral, as lavouras de mandioca são conduzidas sem fornecimento adicional de água, ou seja, são as chamadas lavouras de sequeiro. Mas, com as mudanças climáticas globais, a tendência é que venha aumentar a ocorrência de períodos de estiagens mais prolongados, fato que certamente aumentará a demanda adicional de água (irrigação), sobretudo para os casos de lavouras de mandioca de mesa, destinadas ao consumo in natura. Além de garantir produtividades elevadas, a disponibilidade de uso de irrigação propicia a antecipação do plantio, ou no plantio escalonado, de forma a estender o ciclo da cultura ou o período de colheita, ofertando o produto com qualidade culinária.
Na atualidade, encontram-se disponíveis modernos métodos de irrigação, mais eficientes na distribuição da água, e que consomem menos energia. Além disso, temos profissionais capacitados que atuam no planejamento da implantação desses sistemas de irrigação.
Confira a parte 3 aqui.
Para saber mais
Não se esqueça de conferir a obra Mandioca: do plantio à colheita!